Aqui em casa, montamos sempre o presépio. É um presépio simples, mas simbólico do que de mais importante se celebra nesta altura: a salvação através do amor ao próximo. Sim, no final, só a capacidade de amar o próximo nos salva de nós próprios, dos nossos erros e defeitos, e destes tempos modernos em que andamos cada vez mais cheios de nós e das nossas certezas, cada vez mais fechados nas nossas bolhas, nas nossas tribos, perdendo a capacidade de olhar e aceitar o outro, com amor, tolerância e compaixão.

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Todos os anos, quando monto este pequeno e simples presépio, lembro-me de um outro, de quando era criança, montado em casa dos avós, em Coimbra, no meio duma brutal algazarra de dezenas de primos, filhos dos 10 filhos dos avós paternos e dos seus cônjuges.

A viagem para Coimbra já por si era épica, nós, os quatro irmãos, encaixados cá atrás, no VW carocha, estrada nacional afora (sem autoestradas), quase um dia até chegar, sempre com paragem no Alto da Serra (de Aires e Candeeiros), para almoçar, e na Batalha, para lanchar uma broa e um chá. Era um ritual, sim.

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Já em Coimbra, a nossa primeira tarefa, dos mais novos, era ir à quinta que ficava nas traseiras da casa dos avós, na altura um espaço cheio de arvoredo, escuro e misterioso, apanhar musgo.

Era esse musgo que forrava depois a lareira da sala, que se transformava durante o Natal numa fantástica gruta da Natividade, repleta de figuras de barro pintadas, numa cenografia rica e bela.

No centro, claro, o menino Jesus, a celebração com figura humana do amor, da família, do perdão e da redenção.

Hoje, muitos de nós, ainda a maior parte, já com os nossos filhos, muitos de nós ainda com os nossos pais, continuamos a celebrar, agora em Serpa, terra das nossas raízes, o Natal, este Natal, o nosso Natal.

Tudo é diferente, já nada é como foi, faltam-nos já tantas pessoas queridas, que nos deixaram em corpo, mas continua o amor, estamos juntos, continuamos juntos, com tanto que já se passou, com tanto que mudou.

Que, neste Natal, a oração dos que têm a enorme bênção da fé seja capaz de nos iluminar a todos para o amor. Mesmo os que não acreditam. É essa a mensagem que deve estar inscrita no nosso coração.

Eu tenho ainda em mim aquele menino que ia com os primos apanhar musgo e que se emocionava a fazer o presépio.

A fé não é o mais importante. O mais importante é a mensagem. É o amor que nos salva.

Feliz Natal.