Cedo me apaixonei pela alimentação e pela arte de cozinhar. Fui estudar para uma das mais prestigiadas escolas de cozinha, e a mais antiga do Mundo — Le Cordon Bleu –, onde aprendi variadas e completas técnicas, onde aprendi a trabalhar com açúcar refinado, gorduras saturadas e trans e onde me ensinaram que o sal era fundamental para acentuar o sabor dos alimentos.

Em 2004 perdi o meu Pai vítima de cancro no pâncreas. Foi fulminante. Em duas semanas perdi um dos maiores alicerces da minha vida.

Foi tempo de profunda reflexão, em que percebi a importância da alimentação na manutenção da saúde e em que percebi a responsabilidade de ser Chef de Cozinha. Mudei totalmente a minha maneira de estar e viver e fui estudar de novo para me especializar em alimentação saudável. Iniciei aí a minha missão de ajudar a educar os hábitos alimentares dos portugueses, que estão a morrer com cancro, AVC, hipertensão, diabetes, obesidade.

Em 2005, já em Portugal, a minha maior ambição era ir para os hospitais iniciar a minha missão. Mas ainda era muito cedo. Anos mais tarde, em 2014, iniciei essa missão nas escolas, como co-fundador, com a Câmara Municipal de Lisboa, do primeiro projeto piloto em Portugal de Alimentação Saudável nas escolas, “Crescer Saudável”. A aproximação do Ministério da Saúde — na pessoa do Sr. Secretário de Estado Adjunto da Saúde, Fernando Araújo – a este projecto fez-me acreditar que uma porta se estava a abrir. Os governantes, pela primeira vez, começaram a investir em medidas de prevenção da doença, protecção da saúde, e promoção dos bons hábitos alimentares. Já não era sem tempo!

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Exemplo disso é o recente despacho dirigido aos bares, cafetarias e bufetes das instituições do Ministério da Saúde, que em breve deixarão de vender produtos que façam mal à saúde.

O Despacho só entra em vigor em julho, mas o projeto-piloto arrancou no Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa, onde a oferta já mudou totalmente, para melhor. Mais sabor, mais cores (naturais dos alimentos), e, acima de tudo, mais inovação, com novas receitas e uma oferta mais alargada.

Deixa de haver pastelaria, maioritariamente congelada, carregada de conservantes, intensificadores de sabor, os famosos “E”, com gorduras trans, cheias de açúcar, sal, coisas gulosas, que nos matam aos poucos, para passarmos a ter produtos naturais e deliciosos.

São muito mais os produtos permitidos comercializar do que os proibidos. Os que não podem mesmo existir são: os processados, ricos em açúcar, sal e gorduras trans — e saturadas –, refrigerantes, guloseimas, bolos ricos em açúcar, pastelaria rica em gorduras, fritos, e molhos, tais como o ketchup, mostarda ou maionese, todas de origem industrial.

Quanto aos produtos permitidos, até se perde a conta. São para lá de 400.

Saúde em primeiro lugar, dizemos todos. Com esta medida, agora poderemos agir em conformidade com o que desejamos aos que infelizmente estão internados nos hospitais. Poderemos consumir e levar aos nossos mais queridos comidas que curam e produtos naturais que nos dão energia, em vez de comidas cheias de gordura, de sal e de açúcares, refrigerantes, sumos processados, doces, que nos deixam mais doentes.

Sei que é difícil para muitos entender, e até separar, o prazer de comer um pastel de bacalhau frito, um bolo com carnes processadas ou salsichas, um bolo de massa folhada com açúcar e creme amarelo, um queque carregado de açúcar. Sei que é difícil. Mas a questão é que a tomada de consciência está mesmo aqui. Nós somos o que comemos, disso não tenho dúvidas e não sou o único que o afirma.

Temos que, de facto, pensar, em primeiro lugar, na nossa saúde e na de todos os que nos rodeiam. Se nos amamos, temos que escolher viver em equilíbrio, e viver em equilíbrio passa por nos alimentarmos bem, todos os dias, a toda a hora, para que então nos dias de festa, sem qualquer tipo de culpa, possamos desfrutar também de alguns destes produtos de que tanto gostamos e que estão enraizados na nossa cultura.

O Compromisso pela Saúde de todos é de se louvar e, apesar das dificuldades em cada mudança, estou certo que todos sairemos beneficiados. Os portugueses, mas também as empresas ligadas ao sector, pois têm assim a oportunidade de inovar e acompanhar esta mudança que acontece à escala mundial.

As empresas de restauração irão, com certeza, aproveitar esta oportunidade para finalmente fazerem formação, – e com isto darem mais ferramentas aos seus Chefs, cozinheiros, ajudantes de cozinha, funcionários de balcão ou das linhas de self-service. Só assim, – com todos a falarem a mesma linguagem, – a mudança será ainda mais positiva e mais fácil de aprender.

Os bares e bufetes dos hospitais públicos são, para mim, as novas salas de aula sobre alimentação. A oferta mudou, a criatividade tem lugar, os desafios aparecem, e assim podemos evoluir, aprender mais e aumentar a nossa cultura gastronómica.

Com orgulho mais uma vez faço parte da mudança. Como Chef especialista em alimentação saudável, num trabalho em equipa com a Dra. Ana Bravo, o Chef Luís Lavrador e a equipa do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH), que tomou a dianteira na aplicação do despacho, estamos a desenvolver as receitas, para que, finalmente, exista, todos os dias, uma oferta de produtos que protegem e promovem os bons hábitos alimentares.
Sem dúvida um trabalho em equipa, que teve o reconhecimento recente da Organização Mundial da Saúde, através de uma carta dirigida ao Ministério da Saúde e mais em particular ao sr. secretário de Estado Adjunto da Saúde, Fernando Araújo, pela directora europeia da organização, a dra. Zsuzsanna Jakab, a congratular Portugal. Graças às recentes medidas levadas a cabo pela Secretaria de Estado Adjunta e da Saúde e pela Direção-Geral da Saúde Portugal passa a estar na vanguarda do Mundo pelo compromisso assumido na prevenção e no controlo da obesidade e outras doenças, directamente ligadas a uma má alimentação – como o cancro, diabetes e doenças cardiovasculares.

Mais uma prova de que estamos todos no bom caminho com estas medidas, e que a evolução na alimentação teria que acabar por chegar a Portugal… e chegou para ficar.

Especialista em Alimentação Saudável, #juntospelasaúdedosportugueses