A COP 27 realizada no Egito foi pretexto para um movimento estudantil pelo “Fim do Fóssil” por várias escolas e universidades do país. O problema já é antigo, o alerta sobre o mesmo também já começa a ser. Apesar disso, a Justiça Climática ganhou um novo destaque quando a ocupação de escolas se tornou meio de manifestação da inconformidade dos jovens.

A crise climática é, indubitavelmente, uma ameaça à humanidade. Ser-lhe indiferente é ser-se displicentemente cúmplice. É com a maior naturalidade que se vê que os jovens, doendo-lhes a realidade quando a veem, tenham a luta como inevitável. Nos últimos anos, foi colocado o pé no acelerador da transição energética. Peca tudo por escasso. Os entusiasmantes discursos de quem tudo diz, mas pouco faz. Muitos discursos, mas poucos recursos alocados à causa. Em cada frase um vazio, em cada medida tomada (ou por tomar) uma derrota.

Com o aproximar do “ponto de não retorno”, a resposta foi a coragem daqueles que mais sofrerão as consequências. É de louvar a coragem e é de louvar a inteligência. Resta-nos, portanto, olhar para as formas de luta escolhidas. Antes de mais, a desadequação simbólica de algumas manifestações, apesar de criticável, demonstraram uma eficácia fulminante. Para quem considerou as manifestações excessivas, aconselho que não lhes falte a memória dos direitos básicos que têm e de como foram conquistados. É, portanto, difícil de exprimir qualquer crítica tanto à ideia chave da iniciativa, como aos meios utilizados.

A realidade apresenta-nos um problema de uma gravidade que o torna (supostamente) apartidário. Ora isso acarreta um dos maiores problemas do movimento: por de trás do mesmo não existe um modelo de sociedade claramente definido e idealizado. O fim do fóssil é, por si só, uma bandeira relativamente fácil de defender, mas, como não só da fama vive o proveito, resta-nos saber como. Que a transição energética exigirá sacrifícios (entre os quais uma desglobalização) parece-me claro. A questão é quem pagará esses martírios. Num mundo sufocado pelas desigualdades, mobilizar as pessoas para se sacrificarem será muito difícil. Se é óbvio que a transição vai implicar que nós percamos alguma qualidade de vida, resta saber quem serão esses “nós” e é importante clarificar como é que podemos evitar que a transição para um mundo mais verde não signifique a transição para um mundo mais injusto e desigual.

Falando em radicalismos, eles, por mais que algo ingénuos, são estritamente necessários, pois só eles permitirão a cedência do status quo a uma mudança (mesmo que mais moderada). Convém apenas ter a noção que o “ocupar até vencer” e a pouca disposição para a negociação pode ser, a par da sua horizontalidade, um tiro no pé de um movimento justo. Se é verdade que apenas quem luta pode negociar, de nada vale a luta se ela se traduz na intransigência de quem tem menos poder.

Em jeito de conclusão (e até de elogio), é de esperar um alargamento do movimento estudantil pela justiça climática que, desejavelmente, deve ter em maior conta o combate à desigualdade social na sua luta, tendo em vista evitar a sua própria autodestruição. A vitória estará na eficácia de uma luta contra o tempo e contra um problema que, esse sim, será, durante muito tempo, um ocupa das nossas vidas.

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