Este é o ano mais seco desde 1931, e nós estamos como? A assumir que é mais do mesmo. Aliás, é assim todos os anos, toda a gente sabe que são as alterações climáticas. Lá no fundo, até é bom para o turismo, que isto atrai mais pessoas para este clima de sol e praia. Também irá chover no outono e no inverno. Até virão as cheias e o mau tempo. O governo, por seu turno, tapar o sol com a peneira. Agora no verão as pessoas só pensam na praia e lá para novembro chove e começa o mundial, pelo que os portugueses têm programa de entretenimento para esquecer a seca e a falta de água. Enquanto, isso o discurso é responsabilizar as práticas individuais, descurando a responsabilidade governamental.

Posto isto, vamos sempre empurrando com a barriga tudo o que são reformas estruturais, mesmo com governos de maioria absoluta. A nossa exigência nos diferentes ciclos eleitorais é baixa. A elevada abstenção é disso reflexo. De nada adianta encher as caixas de comentários se na hora da verdade ninguém vai votar. Por isso, os governos atuam em modo livre demanda, dada a falta de escrutínio.

Agora, a questão que se impõe é a resolução do problema da falta de água no país. Resolver, mesmo! Os períodos de seca, apontam as tendências, serão cada vez mais extensos e mais intensos. Claro, que não é só Portugal que passa por esta situação. Todavia, o facto de toda a Europa estar na mesma situação não viabiliza uma não-ação profunda e estruturada.

Precisamos de agir, não basta ficar a clamar pela falta de água nas torneiras no pico do verão.

Ainda andávamos no ciclo quando estudamos o ciclo da água e nos explicaram que a água é a única substância que existe, em circunstâncias normais, nos três estados da matéria (sólido, líquido e gasoso). É um ciclo que implica transferências e trocas constantes. Esse é um dos grandes trunfos que podemos usar a nosso favor para rentabilizar esse bem precioso.

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A água que usamos no dia a dia não pode ser um desperdício. Em Portugal, apenas 1,2% das águas residuais são reutilizadas. Sendo nós suscetíveis à seca que determina a nossa escassez de água, não seria urgente reutilizar esta água? Temos 265 ETARs, (estações de tratamento de águas residuais) contudo, apenas 23 têm por prática reutilizar efetivamente as águas residuais.

As águas residuais depois de tratadas podem ser uma mais-valia para as regas na agricultura ou em jardins. A nível urbano podem ainda ser usadas para a lavagem de pavimentos, viaturas ou contentores de lixo. As águas do algarve têm-se revelado mais eficientes pois, reutilizam 3,5% da água tratada, nomeadamente para a lavagem de equipamentos e rega de espaços verdes. Mesmo assim falamos numa percentagem baixa.

A reutilização das águas residuais não tem regulamentação, pelo que o governo deve avançar com a mesma para que as 242 ETARs passem a ser eficazes, isto é, tratarem águas residuais que voltam a entrar no sistema. Estima-se que as águas tratadas podem ajudar na rega de uma área estimada entre os 35 a 100 mil hectares.

Outro grande ponto estrutural é a dessalinização da água do mar. Aspeto que tem os seus custos, mas se não é agora, quando será? Temos apenas uma estação, quando a Espanha tem 700! Não seria importante debater todas estas questões para que no próximo verão não tenhamos mesmo de fechar as torneiras?

Um debate com as soluções possíveis é urgente. Não se pode ter apenas o discurso da responsabilização individual, importa também ter o discurso do “nós (governo) queremos resolver este problema e vamos fazer isto:”

De um governo de maioria absoluta espera-se a resolução de problemas estruturais. É o mínimo que se exige, quando os portugueses entregam o poder a um partido.