Tendo lido o artigo de Diogo Araújo Dantas de dia 19 outubro 2022, no Observador, e apesar de desconhecer a pessoa, saúdo-o na tradição democrática de quem respeita, mas não concorda. Nesse âmbito, pensei que seria uma boa oportunidade para dar resposta e apresentar outra visão.

1 Cinquenta anos de direita cristã e não alinhada com a perspetiva marxista que envenena a sociedade portuguesa. Eu não sou nenhuma autoridade no que diz respeito à história do CDS: apesar de anterior participação esporádica, o meu ativismo político é recente (começa a sério neste ano). Contudo tenho confiança quando afirmo o seguinte: desde 1974 que o CDS é um partido crucial na democracia portuguesa, oferecendo uma alternativa aos outros partidos, com uma contribuição particularmente portuguesa. No CDS e nas suas sucessivas lideranças, reteve-se uma cultura política portuguesa que de outra maneira não se manteria. Foi durante largos anos a única alternativa com uma visão das coisas que não era de influência marxista, e com uma contribuição para os trabalhos no parlamento que até muitos adversários aplaudem. A crítica feita aos deputados mencionando o seu serviço como uso de “catapulta profissional” é a meu ver muito injusta e equivocada, pois na verdade parece-me que há aqui uma confusão com uma característica única que o CDS tem, a de ter muitos políticos que têm uma vida profissional além da vida partidária, que na verdade não só é algo bom como devia ser considerado uma mais-valia na política. O facto de muitos não serem apenas políticos de carreira permitiu ao CDS trazer novas ideias para a gestão pública, contribuindo com ministros e secretários de Estado nos vários governos que integrou, deixando assim um rasto de serviço público pelo qual devemos estar gratos.

Aproveito para acrescentar uma nota à sua referência de abandono do partido por parte dos grandes nomes: peço que olhe mais atentamente, há nomes que aí refere que não só não desistiram como ainda estão activos no partido, inspirando novos militantes, como eu, por exemplo.

2 Pluralismo partidário. O CDS, como qualquer grande partido democrático, tem como primeiro dever não impor uma pureza ideológica no seio do partido. Pode haver uma doutrina, mas ela deve ser abrangente o suficiente para que seja agregadora nos valores fundamentais, e o CDS faz precisamente isso. Quanto à crítica de divisões internas, penso que nenhum partido pode ser considerado isento de tal coisa, a menos que, por ilusão, através da censura de opiniões divergentes (como vemos em certos outros partidos que não irei enunciar). O pluralismo partidário permite a qualquer partido democrático reinventar-se para não ficar para trás no tempo, e é um requisito para qualquer partido no século XXI, um século que nos seus primeiros 22 anos foi de rápida e sustentada inovação.

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3 A democracia-cristã está viva e recomenda-se. Partilho a perplexidade que demonstra com a mobilização para novos partidos com valores por vezes completamente opostos, mas infelizmente nem sempre os valores determinam o voto. Neste caso, penso que a novidade pesou mais que os valores e que o cansaço à direita, com os longos anos de geringonça, fizeram da crítica moderada uma estratégia aborrecida para os votantes tradicionais. Repare, que nem por isso o CDS mudou a sua postura moderada, pois como partido com experiência governativa, e influenciado pela sabedoria tão típica da democracia-cristã, o CDS sabe que para manter a seriedade e um dia governar é preciso ter um discurso moderado e concreto, sob pena de deitar abaixo a própria instituição governo, e não restar pedra sobre pedra quando chegar a sua vez de agir. (Para dar um exemplo metafórico, o CDS abdica das estratégias do Chega e da IL como um país em guerra abdica do uso de armas nucleares, para não envenenar o terreno que pretende um dia ocupar, mesmo que isso signifique demorar um pouco mais). Esta postura tem evidentemente um preço imediato na votação, mas a longo prazo, estou confiante que é a estratégia acertada. A democracia-cristã não se deixa influenciar pelas circunstâncias, nem cede às histerias do momento (como dois partidos que não irei enunciar mas que posso dizer que pertencem à extrema-esquerda e à extrema-direita) e o CDS mantém-se firme nessa tradição, com uma receita de democracia-cristã muito própria, e a sua genética 100% nacional, o que justifica a diferença no que diz respeito à economia, e que pode vir a servir de exemplo lá fora, em vez do contrário.

4 Um passado que nos traz lições para o futuro. A derrota do CDS nas legislativas de 2022 e a subsequente saída da Assembleia da República foi traumática para muitos dentro e fora do partido. Motivada pelo desejo de mudança, certamente, não acredito que a falta de deputados do CDS no parlamento passará despercebida aos Portugueses, que se habituaram a esse serviço exemplar no hemiciclo. Contudo, isto foi uma dura lição para um partido que precisa de inovar para voltar a ser alternativa, e certamente se reconhece que Nuno Melo é “uma pessoa inteligente e séria”, saberá que o passado do partido não está desligado do nosso presente nem do nosso futuro, e que ele saberá aproveitar isso. Quanto ao PSD, não poderei falar nem pelo CDS (sou apenas militante, não sou presidente) nem pelo PSD, mas sei que as coligações dos dois partidos aos vários níveis de governo (central, local e nas regiões autónomas) tem tido bons frutos, e duvido que essa ligação se quebre tão cedo. Mas se se quebrar, o partido nem por isso perderá a sua relevância.

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