Vejo com preocupação o futuro que estamos a construir para os nossos filhos em Portugal. Temos uma sociedade adormecida onde já não há lugar à indignação nem à reação, mas apenas a uma total indiferença. Vivemos um generalizado e enorme encolher de ombros dos Portugueses em relação à situação atual do país.

Vão-nos ao bolso, diariamente, para alimentar a pesada máquina do Estado: acontece sempre que recebemos o ordenado ou a pensão; sempre que vamos ao supermercado; sempre que compramos ou arrendamos uma casa; sempre que pagamos por um qualquer meio de transporte; e podia continuar a enumerar até não ter mais espaço nesta página…

Tendo em conta a enorme carga fiscal que cada um de nós suporta, o mínimo que poderíamos exigir é que esse mesmo dinheiro fosse bem utilizado. Ora, isso não é o que acontece quando vemos contratos realizados por ajuste direto, muitos deles com empresas recentemente criadas e constituídas por sócios de duvidosa independência face ao poder político. Não é o que acontece quando vemos milhares de Portugueses no desemprego enquanto as vagas no Estado vão sendo preenchidas por concursos viciados à partida.

Os países desenvolvidos que alcançaram elevados níveis de bem-estar social e económico, só o conseguiram através da existência de instituições fortes e independentes. Infelizmente não é o que vemos em Portugal.

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Casos como: o primeiro Governo de António Costa com mais de 60 elementos (17 ministros + 44 Secretários de Estado) em que boa parte tinha relações familiares entre si… e por incrível que pareça, o tamanho do Governo atual é ainda maior (70 elementos); o caso mais recente do novo Diretor da Segurança Social, antigo dirigente da Juventude Socialista, que como experiência para o cargo apenas apresenta a passagem por dois gabinetes de ministros do PS; o caso da passagem direta de Ministro das Finanças para Governador do Banco de Portugal, cargo que deveria ser independente do poder político, etc, etc, etc.

A nível do poder local, a história não é muito diferente, basta pegarmos no exemplo de alguém muito próximo do nosso Primeiro-Ministro: o seu filho Pedro Costa. Começou a sua carreira política entrando para a Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica a convite do seu primo António Cardoso (presidente desta Junta). Após se instalar nesse organismo, Pedro Costa contratou um amigo seu chamado Daniel Nunes. Nas eleições locais seguintes concorreu em terceiro lugar na lista do PS para a Junta de Freguesia de Campo de Ourique, após o PS ter ganho as eleições. Susana Ramos, mulher do atual Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (mais família) e segundo lugar na lista, passa para o cargo de Presidente da Mesa da Assembleia de Freguesia fazendo com que Pedro Costa suba para o segundo lugar imediatamente a seguir ao Presidente da Junta, Pedro Cegonho.

Ficando responsável por várias áreas do executivo da Junta, Pedro Costa aproveita o seu cargo para voltar a contratar 3 amigos pessoais e membros da Juventude Socialista: Daniel Nunes (novamente), Bruno Rodrigues e Hugo Vieira da Silva. Quando confrontado por um jornalista, Pedro Costa garantiu estar “confortável” com a situação, apesar de nenhum dos seus amigos ter, sequer, experiência profissional diretamente relacionada com as funções para que haviam sido contratados. Coincidência ou não, entre o ano de 2018 e 2019, a Junta de Freguesia de Campo de Ourique demorou mais de um ano a colocar os contratos públicos na BaseGov, quando isso se trata de uma obrigação legal. Estavam por publicar mais de 50 contratos, onde se incluíam os contratos de prestação de serviços dos seus amigos e a sua publicação apenas foi feita após insistência de um órgão da comunicação social que questionou a razão desse atraso…

Em 2019, Pedro Cegonho é colocado nas listas do PS como candidato a deputado à Assembleia da República, com António Costa a concorrer a Primeiro-Ministro, e no ano seguinte à sua eleição anuncia que irá renunciar ao cargo de Presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, passando o testemunho ao seu número dois: Pedro Costa. Que conveniente…

Apesar desta situação particular, o que mais deveria preocupar os Portugueses é a indiferença instalada, este encolher de ombros generalizado em que já pouca coisa escandaliza. Estas situações são ainda mais revoltantes quando pensamos nas próximas gerações… O que estamos a dizer aos nossos filhos, enquanto sociedade, é que não compensa esforçarem-se para serem melhores: apenas devem ser interesseiros, montar “esquemas” e fazerem troca de favores para poderem vingar na vida e que nada disso será malvisto, aliás, começa a ser considerado uma situação recorrente.

Não é este o país que quero deixar aos meus filhos. Quero uma sociedade onde o mérito seja devidamente valorizado, onde o esforço, a competência e o empenho sejam compensados. Só assim, todo o enorme potencial que Portugal tem será aproveitado em prol de uma vida melhor, para todos os Portugueses.