Segundo Marcelo R. de Sousa: «Portugal deve pagar custos da escravatura e dos crimes coloniais». Esta é a afirmação da polémica e que lança a maior ofensa de sempre à memória de todos os Portugueses que deram a vida para defender um Portugal de outros tempos, mas que era, naqueles contextos, o nosso.
Ao colocar o debate neste ponto, o Presidente da República (PR) decidiu insultar Portugal e os Portugueses do Presente, mas também uma longa História de 900 anos, que nos coloca como uma das Nações mais antigas do mundo Ocidental. Marcelo condena e humilha uma Nação que «deu novos mundos ao mundo». E, como Chefe de Estado, parece não se preocupar com isso.
Aqui chegados, e antes de avançar, importa perceber que a História do país que construímos ao longo de nove séculos foi feita de múltiplas realidades. Houve avanços, progressos e sucessos; mas também falhas, erros e fracassos. Foi assim no passado. Tem sido assim no presente. Contudo, ao longo de toda esta viva vivida em conjunto, muito mudou para melhor, mas muito poderia ter melhorado ainda mais. Ter esta noção é de alguém objectiva e genuinamente interessado em unir para construir e não em dividir e humilhar uma Nação e sua população, a actual e aquela que nos antecedeu. Esta concepção permite-nos reflectir e criar expectativas, sonhando com mais e melhor para o futuro. O nosso futuro e o das próximas gerações. E ter sempre a certeza de que fizemos o melhor que soubemos e conseguimos, concluindo, todos os dias, que ainda não foi o suficiente para cumprir os desígnios que as nossas muitas e boas gentes anseiam e bem merecem.
Voltando ao tema da ordem do dia, já sabíamos que Marcelo gosta(va) de ser o «centro das atenções». Para quem acompanha a vida política nacional, sabe que há décadas que tem sido assim. Marcelo aproveita todas as oportunidades para aparecer e ser o Alfa e Omega da política nacional. Nada disto é novo. Está-lhe no sangue. Um Homem, um Político e um Presidente que não sabe viver de outra maneira a não ser com os holofotes das câmaras de televisão e, quando estas o não procuram, faz-se aparecer e tem sempre algo para dizer, seja sobre debates ou disparates. A vantagem é que é sempre tudo dito com um «ar professoral» e de quem procura dar solenidade ao que é dito. A chatice dos diabos é que, desta vez, parece haver unanimidade no facto de todos considerarem que Marcelo exagerou e foi longe de mais, tendo insultado, como aquele que deveria ser o primeiro de todos os Portugueses, toda uma Nação. A Nação do Presente mas, especialmente, uma Nação do Passado, de todos aqueles que nos antecederam, lutaram e construíram este torrão de terra à beira mar plantado.
O que não esperávamos é que, desta vez, em vésperas dos cinquenta anos de Abril e nos dias seguintes, o actual Presidente da República (PR) fosse o «incendiário» de serviço. Mais ainda quando o País, neste momento, aquilo que mais precisa é de um «bombeiro», dedicado à causa pública, que possa dignificar a instituição República e os seus servidores. Marcelo, do alto da douta inteligência que todos lhe reconhecem, fez uma opção e escolheu dividir. Optou por ser um PR de facção e de uma ultra-minoritária que humilha toda a sociedade portuguesa.
Se todos concordamos que Marcelo, enquanto cidadão, tem direito à sua opinião. Já entendemos que assim não o é, quando fala em público; nessa ocasião, apresenta-se como PR e fala como Chefe de Estado, comprometendo toda a Nação.
A afirmação inicial que o PR fez foi um perfeito disparate sob o ponto de vista histórico, na medida em que analisou e julgou o passado com os olhos do presente. É um disparate que dá pelo nome de anacronismo e que se aprende nos bancos da escola. Com as disparatadas declarações, que Marcelo repetiu, incidindo no erro, o PR envergonhou Portugal e desonrou os nossos antepassados que, com sangue, suor e lágrimas o construíram. Poderia ter corrigido. Mas optou por reafirmar o que já havia dito.
Para o Povo Português, em data da Liberdade, um assunto que a todos une, nada faria prever que o assunto das «reparações» ensombrasse estas festividades, muito menos condicionasse o debate público, mediático e político nacional, como tem acontecido nas últimas horas e dias.
Marcelo Rebelo de Sousa decidiu, em tempos que deveriam ser propícios para a união e para a construção, especialmente quando ainda tanto se fala na data cinquentenária que o país assinalou nos últimos dias, para a desunião e destruição, agora com a palavra bonita da «reparação». Talvez o sr. PR julgue que esta «narrativa reparativa» sirva para marcar a «agenda» nacional, ajudando a esconder ou disfarçar as eventuais novidades sobre alguns casos e casinhos de influências, mensagens, contactos e outros assuntos, alguns melindrosos, que possam envolver algum dos protagonistas das declarações que têm marcado a agenda. Talvez nos próximos dias surjam essas explicações. Até lá, fazem-se reflexões sobre o Passado e o Presente mas, especialmente, sobre que Portugal queremos e precisamos. E vamos precisar de um País que olhe, cada vez mais, para o Futuro, deixando de culpar o Passado e os nossos maiores, de quem nos devemos sentir honrados, por nos terem legado esta secular Nação. Quanto aos erros e fracassos, os do presente e do passado, cada Português avaliará. A propósito dos disparates, de uns e de outros, os Portugueses, esses, do alto da sua douta sabedoria, julgarão.
Importa é que se perceba o essencial: ao discutirmos estes assuntos, não podem ser retaliações que se fazem, mas a História que se subsidia. E com o tema das «reparações», levantado pelo PR, é todo um Povo que se sente humilhado e achincalhado; o do presente e o do passado.
Eu, da minha parte, sinto-me honrado com o Portugal que «deu novos mundos ao mundo» e com esta secular nação de 900 anos de História. Uma História com os do Passado, com os do Presente e com os que, com a Graça de Deus, hão-de vir. Uns e outros com virtudes e defeitos. Uns e outros a contribuírem para este bem maior chamado Portugal.
Finalmente, e se me permitem, ajudemos, todos juntos, o actual sr. PR, Marcelo R. de Sousa, a terminar o mandato com dignidade e decência… Não é pelo dr. Marcelo, mas pela instituição que o próprio (ainda) representa.
Vale bem a pena pensar nisto.