O debate sobre reparações/retribuições, um tópico na sua essência oco e superficial, foi recentemente reacendido por Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República de Portugal, com alguns comentários perigosamente ingénuos.

Considero-me um apaixonado pela História enquanto Disciplina académica e Instituição humana. Desde que tenho faculdades mínimas que nutro um interesse especial pela História das Civilizações e Culturas. Maior do que a minha paixão pela História, só mesmo a minha ignorância. Decifrar a nossa História é uma doce tortura que, pelo menos para mim, só pode ser resumido como quanto mais leio, menos sei. Dito isto, aqui estão quatro pequenas certezas que extraí desta minha curiosidade por saber quem somos e de onde viemos:

  1. Seja o que for o Ocidente (The West), com todas as suas qualidades e defeitos, é a melhor coisa que nós, como raça humana, já produzimos. Nenhum outro conjunto de culturas e valores fez tanto para, não só mitigar o sofrimento e a miséria (que são condições necessárias da existência humana), mas também para criar riqueza e prosperidade generalizadas.
  2. O Ocidente está em perigo.
  3. As nossas predefinições são de barbarismo, crueldade perante o estranho e até desconfiança entre próximos. Todos fizeram tudo a todos. Todos nós temos sangue nas mãos.
  4. A mentalidade de vítima não faz bem a ninguém. Seja qual for a tua origem, podes ter a certeza de que um dos teus antepassados fez algo que abalaria as tuas bases morais.

A questão fundamental deste debate vazio é: deve o Filho ser responsabilizado pelos pecados do Pai? A minha firme convicção é que não. Se adoptássemos tal posição, estaríamos todos condenados. Vale a pena notar que a Bíblia pinta o Ser Humano como descendente de Caim, um homem que cometeu fratricídio por ciúmes e cujos filhos, entre outras coisas, inventaram as armas de guerra. Isto não foi aleatório (não precisas de ser religioso para captar a profundidade desta história).

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Infelizmente, muitos entre nós acreditam que a resposta à última pergunta é um sim: o filho deve pagar pelos pecados do pai. Normalmente, eles caem em duas categorias:

  1. Os que se fazem de vítimas, escolhendo a dedo qual estatuto de vítima melhor se adequa às suas necessidades, sempre falhando em reconhecer as suas próprias falhas como indivíduos.
  2. Os sinalizadores de virtudes (melhor expresso em inglês: virtual signalers) que pregam pela contestável justiça, sabendo muito bem que não serão eles a pagar pela justiça que defendem tão “ferozmente”.

Espero que este debate termine com a vitória da razão e do bom senso, independentemente da paixão que tinge o senso comum. Mas se, de alguma forma, a estupidez vencer, e resolvermos com sucesso as questões logísticas de fornecer essa justiça (Quem paga? Como? Quanto? Quando? Por quanto tempo? etc.), enquanto homem negro e africano (na realidade, identifico-me apenas como um homem ocidental livre) cujos antepassados sofreram tanto com a escravidão, colonialismo e comunismo, renuncio a qualquer reivindicação de compensação dada a mim com base em reparações/retribuições. Melhor ainda, seria muito melhor se os esforços e a discussão sobre reparações e justiça geracional fossem direccionados para a luta contra a corrupção ou pela melhor educação dos nossos filhos.