Ah! A silly season! Portugal vai a banhos, os assuntos importantes podem esperar enquanto se veem políticos de calções de banho e grandes jantares comício. Ele é rentrée, ele é em todo o acesso da palavra, silly…

Ora acontece que, pelo meio de tanta leviandade veranista, os problemas de junho e dos meses que lhe antecederam continuam a acumular-se. São os incêndios, é a seca, a inflação ou até mesmo o caos nos hospitais. E cuidado, porque setembro está aí à porta e o caos nas escolas está à espreita.

E que fim de silly season foi este para quem como eu gosta de dramas políticos! Foi num comunicado pela calada da noite que o primeiro-ministro resolveu todos os problemas do SNS de uma assentada. No fundo, a ministra já não tinha capital político ou credibilidade para implementar ou resolver o que quer que seja (poderão dizer que a culpa não é diretamente da ministra porque os problemas são estruturais, mas quando um indivíduo ocupa um elevado cargo público durante vários anos e manifesta incessantemente a incapacidade de lidar com problemas estruturais, então, perdoem a franqueza, mas o indivíduo também é inerentemente culpado). Assumo que esta demissão seja um alívio para a própria demissionária. Agora pode sair finalmente da situação em que se encontrava, debaixo do imenso fogo cruzado, amigo e inimigo, de que se viu alvo nos últimos meses. Se bem que, num ato masoquista, a Dra. Temido terá que aguentar 15 dias até à sua substituição porque o seu chefe está muito ocupado (no fundo, um pouco cruel).

Na verdade, isto pode muito bem vir a ser um presságio ou um primeiro golpe no status quo. Costa gosta de aguentar os seus ministros, pelo menos os que lhe valem algum apoio interno. No entanto, esta pode ter sido a primeira carta a cair ou, dito melhor, o primeiro prego no caixão do governo, não do seu líder.

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A estagnação e inação que o nosso país tem vivido desde as últimas eleições legislativas são incompreensíveis, até mesmo para o residente do Palácio de Belém. É incompreensível que o país esteja em velocidade cruzeiro em direção ao precipício enquanto pela Europa fora se rema para longe da tormenta. A verdade é que o capitão do barco espera ansiosamente por saltar borda fora. E esperemos que salte já em 2023 porque não podemos estar o resto da legislatura em regime de gestão, ainda por cima com uma maioria absoluta no parlamento. Nisto perguntamos, num momento em que a presidente do banco alimentar contra a fome diz que vamos ficar pior que os pobres: onde está a bazuca, ou estava só no boletim de voto? Porque é que temos de pedinchar a Bruxelas mais tempo para cumprir prazos a gastar fundos Europeus? O governo precisa de ajuda ou de ideias relativamente a onde é necessário investir?

A primeira carta caiu. Resta saber se a próxima surgirá na forma de um avião de papel que falhou o aeroporto de Lisboa, do Montijo ou onde quer que o queiram construir no dia em que este texto seja lido. Ou de uma árvore a ameaçar com seca severa para quem não votar no PS. A verdade é que o baralho pode cair todo, que nada se irá alterar enquanto o homem do leme se mantiver. Porque tudo passa por S. Bento (palacete) não pela 5 de outubro ou pela nova sede de poder na João XXI.

Faltam-nos mecanismos de escrutínio e de eliminação das maiorias absolutas, e muito temos de agradecer por isso à fiel oposição que eliminou os debates quinzenais, o último reduto de fiscalização pública. Falta-nos voz, falta-nos diversidade parlamentar para impedir tão grande concentração de poder. Falta-nos valorizar as pessoas, as empresas. Falta-nos dinheiro. Falta-nos investir no futuro.

Enfim, falta-nos…