Veio a público recentemente que a Autoridade Tributária estaria a atrasar deliberadamente o reembolso do IRS a uma franja muito específica da sociedade, os jovens, que por acaso até têm o “IRS Jovem”. Ora sou um dos sortudos que não precisa de ler esta notícia porque eu próprio estou incluído no grupo dos lesados da AT. Desde 15 de abril que espero por esse contributo do Estado para a minha carteira, contributo esse que nada mais é do que a manifestação do assalto aos rendimentos dos portugueses, no caso, jovens, que o Estado, na sua magnanimidade, decide devolver (sabe-se lá se a mais ou a menos). O cidadão paga os impostos e preenche atempadamente o “Google Forms” anual para atestar que recebeu um valor que nunca viu na realidade. Seria de esperar que a transição digital tivesse tornado o processo mais expedito? Quanto mais se apregoa o Simplex e avanço tecnológico do calhambeque do Estado, este fica mais decrépito e obsoleto?

Ora se estivéssemos a lidar com uma qualquer empresa privada prestadora de serviços tínhamos ao nosso dispor uma série de mecanismos diretos ou indiretos para reclamar. No entanto, a AT é quase uma daquelas empresas fantasma. Ligamos e marcamos 0 para assuntos relacionados com a “Campanha” do IRS 2022. A resposta: uma mensagem automática que apenas é um beco sem saída da qual não se consegue extrair qualquer resposta. Como ir presencialmente aos balcões de finanças pode demorar mais do que ter uma consulta no SNS, experimente-se o site, que, para espanto do contribuinte, até já tem assistente virtual. Pena que seja inútil em matérias de IRS. Finalmente, uma brecha na muralha de comunicação através do formulário de contacto. Feito o pedido a reclamar da demora do processamento da declaração de IRS , eis que “Eureka” uma resposta célere. Trocado por miúdos: “tem toda a razão, isto é lento mas o prazo legal para reembolsos é 31 de julho”. A resposta até seria compreensível (até certo ponto) se a demora fosse aleatória e não antes uma discriminação de uma faixa etária de contribuintes.

Ah! Os jovens; a geração mais preparada de sempre cujo curso por este andar qualquer dia dá menos vantagem que a Universidade da Vida. Os jovens, a quem tanto é prometido mas pouco é devido: os 125€ do ano passado é esquecê-los; o IRS Jovem mais vale não fazer conta… Mas falta um: o apoio à renda. Ora esta foi a grande novidade do pacote “+Habitação”. E novidade porquê? Quando foi anunciado e publicado em Diário da República nem parecia ser uma medida deste governo: tinha critérios razoáveis que permitiam abranger a classe média, em especial jovens que não morem em casa dos pais e que dividam casa com menos de 4 pessoas. Parece de facto o Estado a fazer alguma coisa útil não é? Pois… passou o 30 de maio e o 30 de junho aí à porta e nem reembolso de IRS nem apoios à renda para o jovem (será uma relação de causa-efeito premeditada, ou já roça a teoria da conspiração?). Tente-se o exercício de pesquisar sobre este apoio e os passos para o obter. No IHRU e na Segurança Social dizem-nos que é a coisa mais simples do mundo, tudo automático e em caso de problemas ir protestar com… a AT. Ora na AT parece que ninguém ouviu falar disto. Zero menções no site, as linhas telefónicas ignoram as rendas. Ironia das ironias o que salva o dia é a inutilidade do Assistente Virtual. Ao pedir informação sobre apoio à renda surge um erro técnico. Contudo é possível pedir esclarecimentos sobre erros técnicos no formulário de contacto. Às vezes é preciso descer ao nível do Estado para ter respostas. Isto permitiu uma resposta a agradecer muito e que, para o efeito, tinha sido criado um email institucional para dar resposta a temas relacionados com o malfadado apoio. Recorde-se a má vontade e o secretismo que levam a que não haja uma única menção deste endereço de email em parte alguma (exceto em resposta oficial ao pedido de esclarecimento através do formulário da AT).

É caso para dizer pagar para ver. De facto todos pagamos a almofada de milhares de milhões de euros em impostos sobre a qual o ministro das Finanças se senta. De que serve um Estado sedentário, colossal que se revela no fim de contas irrelevante? Uma entidade que é ao mesmo tempo vital e inútil, protetora e esmagadora, visível mas nunca alcançável. Deixá-los estar, os boys tomam conta do país, os outros podem ir andando. Mas antes de saírem, paguem a conta se fizerem favor. E já agora, não esquecer de dar gorjeta à navegação.

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