Foi a 6 de novembro de 1975 que Mário Soares e Álvaro Cunhal travaram um debate histórico na RTP. Durante mais de três horas, os líderes do PS e do PCP trocam acusações. Soares acusa Cunhal de querer instaurar um estado comunista em Portugal contra a vontade do povo e Cunhal exalta-se, repetindo várias vezes a frase que fica na memória de todos : “Olhe que não, olhe que não”.

O movimento do 25 de novembro de 1975 tinha como principal objetivo terminar com o chamado Processo Revolucionário em Curso (PREC), período em que o país vivera na iminência de uma guerra civil. Com a liderança do então coronel Ramalho Eanes, os militares dos comandos neutralizam as tropas que estavam ao lado Partido Comunista e que estariam para a provocar a qualquer momento um golpe de Estado.

O executivo liderado por Vasco Gonçalves cai e o regime entra numa nova fase a que Soares chama normalização democrática. O líder do PS, que mobilizara apoios internacionais, está do lado dos vencedores e entende que o 25 de novembro foi essencial para restituir aos portugueses a liberdade conseguida em abril.

O 25 de novembro sempre foi por parte dos comunistas uma data a esquecer, ou seja, para o PCP a data não tem relevância e será irrisório que se possa dar a devida importância histórica aos acontecimentos que nos livraram de sermos uma Cuba. Parece ser compreensível que assim seja, no contexto e no quadro ideológico comunista.

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No entanto ficamos a saber que hoje o socialista Augusto Santos Silva tem um novo pensamento sobre a história, muito embora em entrevista à RTP o mesmo tenha afirmado : “a liberdade é algo que o país deve a Mário Soares, a Salgado Zenha e a Manuel Alegre. Não deve a Álvaro Cunhal nem a Mário Nogueira . É a Mário Soares, a Manuel Alegre, a Jorge Sampaio, a Salgado Zenha que o país deve a liberdade. Deve a liberdade porque lutaram por ela antes do 25 de abril conta o fascismo e lutaram por ela depois do 25 de abril contra a tentativa de tentar criar em Portugal uma ditadura comunista.

A frase de Groucho Marx , “estes são os meus princípios, mas se não gostam deles, eu tenho outros” veste perfeitamente a nova pele ideológica de Santos Silva sobre o tema e a importância do 25 de novembro para a reconquista de tudo aquilo que abril foi desenhando a favor da nação.

Para o Presidente da Assembleia da República um dos mais relevantes factos políticos da nossa história deve ser escondido de todos. Querer afastar a data do 25 do novembro no programa das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, incluído nos festejos no Parlamento somente “as datas e os eventos que tenham uma leitura consensual” é a prova inequívoca desse mesmo desejo de esconder a verdade sobre a liberdade e todo o seu enquadramento político e social.

Imaginem Mário Soares vivo ao aperceber-se desde tamanho dislate.

É facto, e não opinião, que a importância do 25 de novembro é consensual, sendo uma data somente de dissonância para o Partido Comunista Português.

Para se perceber a verdadeira dimensão de abril e da sua evolução até chegar ao seu ideal primário, vários foram os factos que para ela contribuíram, como o 28 de setembro, o 11 de março e o 25 de novembro.

Só se perceberá verdadeiramente a história da nossa liberdade e a sua dimensão política  quando não se desassociar nenhum acontecimento do facto principal. Todas elas têm componentes demasiado gratificantes e grandiosas, que fazem parte integrante da nossa mais recente e importante história política, que culminaram na liberdade tal como hoje a conhecemos.

Sobre este tema é essencial dizer-se que a própria história do pós-abril do Partido Socialista se confunde inevitavelmente com o 25 de novembro e com a consolidação da democracia, como tanta vez foi proclamada por Mário Soares. Era este o desejo dos portugueses tão bem interpretado à época pelo pai do PS.

Não pode fazer qualquer sentido censurar-se uma data tão importante como esta que agora se quer retirar das comemorações dos 50 anos do 25 de abril, na medida em que isso significa querer deliberadamente esconder factos determinantes da nossa evolução democrática.

Porém, por mais esforço que se faça, a história tem a magnitude de alguém ser incapaz de negar os factos e a sua existência. Por mais majestoso e importante que Augusto Santos Silva julgue ser, ele será sempre impotente ao querer adulterar a verdade da nossa história. Ela está mais presente que nunca e o passado, esse é e será sempre inegável.

O 25 de novembro de 75 existiu, fez parte de nós e impediu que Portugal entrasse em um retrocesso político com o voltar a uma outra ditadura, só que desta vez seria com outro cheiro e outra cor. Uma ditadura comunista que ninguém queria e que ninguém quer.

Esta atitude de Augusto Santos Silva em não assumir a importância do 25 de novembro é totalmente contrária à própria história do seu partido e contrária aos factos em que assenta uma parte importante da nossa verdade; a verdade de como se consegui ser livre.

Se assim é, se Augusto Santos Silva quer aniquilar a posição histórica do 25 de novembro do próprio partido que lhe deu a merecida atenção na reposição dos princípios gerais de abril, se Augusto Santos Silva quer esconder a data da nossa história e das gerações vindouras, se quer matar o PS de Mário Soares, então que o assuma, que saia do armário político em que onde tanta vez se esconde e diga de uma vez por todas que é um verdadeiro comunista totalitário. Ele é um homem livre porque o 25 de abril e o 25 de novembro permitiram que ele o seja.

A segunda mais importante figura do estado está moralmente e politicamente ferida de incapacidade para continuar a representar o nosso Estado de Direito Democrático porque demostra querer esconder a nossa verdade democrática, não dignificando assim a instituição Assembleia da República, não dignificando a nossa democracia e por consequência não respeitando a nossa história. As provas da sua incapacidade e invalidez política estão à vista de todos.