No passado dia 25 de Julho do ano da graça de 2024, a Igreja Universal recordou um dos apóstolos mais importantes, São Tiago maior, o primeiro apóstolo mártir. Esta data é particularmente importante para os nossos irmãos Espanhóis, com especial atenção para os Galegos que realizam na grandiosa Catedral de Santiago de Compostela, a missa solene de São Tiago com a presença da própria família real espanhola.

São Tiago, retrata-nos o Evangelista Marcos, é filho de Zebedeu e irmão de João, também apóstolo, sendo ambos pescadores de ofício. Quando Jesus os chama, prontamente, estes dois irmãos, deixam as redes e a família abraçando o caminho da fé. Mais tarde, a mãe destes dois irmãos virá pedir a Jesus um “pequeno” favor, para que estes se possam sentar-se no Reino dos Céus ao lado do Senhor. Mal Salomé sabia o que realmente estaria a pedir, todavia, não é de estranhar este desejo maternal de assegurar o futuro dos seus filhos. Quem diria, que até mesmo no tempo de Jesus, o ser humano já tentava colocar cunhas para progredir na vida. Claro que, o Senhor não cede a esta pergunta e caridosamente pergunta se estes poderão sofrer aquilo que Ele irá sofrer. A verdade é que este mesmo repto que Jesus lhes colocou acabou mesmo por suceder, pois São Tiago, já como Bispo de Jerusalém, nos anos 40 do I século, é martirizado por defender a fé cristã e acaba por projetar aos restantes Apóstolos qual será o seu futuro. Desta forma, como primeiro apóstolo-mártir, torna-se um sinal de união entre os cristãos e sobretudo realça a importância do sacrifício no testemunho cristão. A sua morte, ordenada pelo Rei Herodes Agripa I, levou à unidade dos cristãos devido à permanência fiel na fé, mesmo durante a perseguição.

A figura de São Tiago, através da sua vida, do seu testemunho e do seu martírio constituem um sinal de ligação e unidade entre os diferentes povos, através do culto que se foi desenvolvendo até Santiago de Compostela. Segundo a tradição da Igreja, este terá pregado o Evangelho no noroeste Espanhol, mais propriamente na região da Galiza, e os seus restos mortais foram trasladados para a cidade de Santiago de Compostela. Por isso mesmo, hoje em dia, em pleno século XXI, São Tiago continua a ser dos apóstolos, juntamente com S. Pedro e S. João, mais acarinhados na Península Ibérica.

Os seus caminhos continuam a ser percorridos por milhares de peregrinos de todo mundo, que procuram explorar o máximo de rotas, todas elas riquíssimas na sua história e tradição. Felizmente, assim se constata que, o espírito de fé, ainda que adormecido na sociedade moderna, continua enraizado nas culturas dos povos e no íntimo do ser. O exemplo de sacrifício e a sua inabalável fé, tornaram-se um dos mais brilhantes testemunhos da história da Igreja e, inclusive, da própria unidade identitária da Europa que vê neste sinal de resiliência um pilar da sua identidade.

A imagem de São Tiago peregrino é alusiva à própria vida do cristão que, por este mundo terreno, vai peregrinando até à morada celeste. A peregrinação que se realiza até Santiago de Compostela, é também forma de fomento do descobrimento do próprio ser e do aperfeiçoamento da relação com Deus. A duração, o esforço, as adversidades que vão surgindo, todas elas têm também uma dimensão espiritual que revigora às mais profundas dimensões do ser. A pessoa que percorre todos estes quilómetros, não caminha sozinha nesta viagem, pois reconhece que existe todo um legado histórico-identitário por detrás destes meros passos no caminho. Peregrinos de todo o mundo, têm o desejo de percorrer esta jornada e todos eles dão testemunhos magníficos daquilo que foi a sua experiência.

Este apóstolo, torna-se assim, imagem de multiculturalidade existente entre cristãos e não-cristãos, que se  manifestou ao longo da história através da sua influência e do seu caminho até Santiago de Compostela. É um pedaço da história da Igreja, mas também um pedaço de cultura para os nossos irmãos Galegos que nos recebem sempre tão bem em prol desta mesma devoção.  É não apenas turismo, é um autêntico pedaço de património material e imaterial que a Galiza nos presenteia e que cuidadosamente vai preservando no seu ser.

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