É com espanto que temos assistido à forma como a TAP tem sido gerida nestes últimos anos, através da Comissão de Inquérito Parlamentar. Com toda a legitimidade poderemos desconfiar agora com mais rigor de como o restante sector empresarial do Estado pode estar a funcionar.

De alguma forma, todos nós somos acionistas das empresas geridas pelo Estado porque é em nosso nome e no interesse colectivo que o governo foi chamado, através de eleições, a gerir todo o seu/nosso activo patrimonial.

Razões de sobra para que todos os contribuintes possam saber de forma detalhada, qual a verdadeira saúde e dimensão das empresas geridas em nosso nome.

A TAP tem sido exemplo de uma gestão desastrosa. A narrativa que agora se usa é a de tentar fazer a passar a mensagem de que a descoberta da verdade levará a uma possível redução do valor económico da empresa. Têm sido postas a nu as várias mentiras de vários governantes e as reuniões secretas, que passaram a ser comuns. Todos nós sabemos que tudo isto é antinatural do ponto de vista ético e democrático.

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Sabemos também que foi o governo a responder ao próprio governo por dúvidas que existiram no caso da indemnização paga a Alexandra Reis. Atingimos com tudo isto um elevado grau de surrealismo.

Com os dados que já estão em cima da mesa e que são do conhecimento público, poderemos então confiar na forma como todas as empresas estão a ser geridas? Obviamente que não.

Para isso, o escrutínio às empresas do sector público estatal deve ser ainda mais apertado. A boa transparência nas contas e a forma como as empresas públicas são administradas depende mais do que nunca de um maior grau de fiscalização.

Qualquer organização que seja tutelada pelo Estado tem uma premissa ética que não deve ser posta em causa e não ser alvo de ausência da confiança dos portugueses.

O caso TAP deve servir para percebermos que devemos exigir mais. E, de facto, temos direito a exigir mais na medida em que somos nós, contribuintes, que pagamos por tudo.

Por essa razão, quando se diz que o Estado injectou numa empresa pública determinada quantia financeira, deve dizer-se que foram os contribuintes a fazê-lo, porque na verdade é isto que acontece.

Se lermos com a devida atenção o último relatório o Setor Empresarial do Estado 2020-2021, publicado em fevereiro pelo Conselho das Finanças Públicas (CFP), podemos erguer as mãos ao céu e pedir a Cristo que nos acuda.

Apenas 27 das 87 empresas tiveram resultados líquidos positivos em 2021, num total de 207 milhões de euros. As restantes 60 registaram prejuízos de 3.412 milhões de euros (dos quais 2.081 milhões de euros decorrentes das empresas do universo TAP). “Mais de um terço destas empresas (32) continuavam a apresentar capitais próprios negativos em 2021, registando uma situação de falência técnica“.

Para reforço de capital, o acionista Estado (nós, os contribuintes), a fim de evitar a degradação patrimonial e financeira das empresas, vai injectando dinheiro que tanta falta faz ao Estado Social.

Há um rol de questões que devem ser analisadas de forma permanente e com um grau elevado de escrutínio público, para se saber, de facto, se o sector empresarial do estado está ou não ser bem gerido.

Na TAP, e ainda não se sabe de tudo, uma conclusão já podemos retirar: que a gestão por parte do acionista teria vários interesses privados e políticos, e nunca por nunca foi pensado no benefício público.

Se assim é e assim se foi, como estarão a ser geridas as outras empresas?

Que esta deliciosa série de intriga e drama intitulada de “TAP”, realizada por António Costa, tendo como personagem principal na primeira temporada o pior ministro da história da nossa democracia, sendo substituído por um outro ainda pior, vindo diretamente da escola socrática do Partido Socialista, venha a ser exemplo da necessidade imperiosa de uma reflexão profunda sobre o estado a que tudo isto chegou.

Que a TAP finalmente sirva então para alguma coisa, já que não serve os Portugueses de coisa nenhuma.