Vivemos momentos que já não são de perplexidade, são mesmo de angústia. E nas vésperas da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, tem que ser dito que esta situação é directamente causada pela degradação exponencial, da qualidade moral e ética, mas também da competência geral da classe política.

A hecatombe dos últimos dias é apenas mais um caso – pouco importa se casinho ou casão, que confirma o suprarreferido e a falta de um rumo e de uma ambição que ajudem a que os portugueses voltem a acreditar em Portugal.

Não me importa muito avaliar o carácter de António Costa e se nessa avaliação admito como legitima a intervenção aparentemente desastrada da PGR e da sua comunicação. O que me importa é que António Costa se rodeou de gente que ele próprio escolheu, para lugares próximos e de absoluta confiança que parecem estar incontornavelmente ligados a um caso de aliciamento político.

Com isto temos eleições propiciadas por um Presidente sempre preocupado em não dividir do que realmente interessa a Portugal. Vale a pena dizer que as eleições ocorrerão muito mais tarde do que deveriam. Confesso que não vou muito na inevitabilidade de aprovar um Orçamento que desde Mario Centeno nunca é cumprido. E que só o Partido Socialista se vier a ser Governo tem vontade de cumprir. Mas o pior não é o País ficar neste marasmo por mais 4 meses. O pior é que as alternativas que se colocam aos eleitores não são boas.

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Julgo que é percetível para uma grande maioria dos portugueses que o PS merece um castigo nas urnas. Mas já tenho mais duvidas quem será o principal beneficiário deste castigo.

Claro que tudo era mais simples se a alternativa do PSD fosse mais robusta a começar claro está por uma indiscutível liderança.  Como ela não existe somos projectados novamente para o problema da governabilidade. Que já não é a de saber qual o partido mais votado, mas qual aquele que melhor vende a alma ao Diabo. Claro que nesse particular o bloco de direita traçou mais depressa linhas vermelhas do que o Partido socialista. Que não se importará de ter uma nova geringonça mesmo que digam que os parceiros são pró Putin numa altura em que toda a Europa se deve recentrar na essencialidade dos seus princípios.

É mais fácil levantar o problema do Chega. Que não é em si problema nenhum, apenas o de congregar um voto de protesto onde a raiva vale mais do que a racionalidade e coerência políticas.

Claro que o Chega continua a ser uma espécie de sociedade unipessoal. A única diferença é que agora movimenta muito dinheiro e isso torna-o perigoso no mercado. Onde o dono, por mais que se demita para se voltar a legitimar, já não tem capacidade para dominar a operação.

Votar no Chega pode ser a forma mais simples de relegar a direita para um não entendimento, o que a transforma numa opção que não é competitiva com uma esquerda que, como Pedro Sanchez, não lhe custa nada perder outra vez a vergonha!

António Costa é vítima da sua própria habilidade e tenho dúvidas que consiga recuperar o prestígio e preponderância num plano internacional que seria para ele promissor.

O PS está também acossado entre os amigos de Costa e os de Pedro Nuno Santos. Gosto suficientemente da ala moderada do PS – Sergio Sousa Pinto, Francisco Assis ou José Luis Carneiro, para ter o desassombro de dizer que nenhum deles estará à altura do controlo de um aparelho difícil como o do PS. Esse vai estar com Pedro Nuno Santos que representa o PS no seu pior.

Na direita, tudo seria mais simples sem populismos. O cenário idílico era recordar a André Ventura que tem, ele próprio que é a quase a totalidade do Chega, um lugar de regresso no PSD. Mas como isso parece ser impossível o melhor é explicar aos seus eleitores que votar no Chega é ceder ao feitiço de uma nova gerigonça. E entregar outra vez a Governação ao mesmo Partido que sem nada ganhar, acabou por perder por menos!