Basta que se puxe um pouco – não muito – o vocábulo “praxe” à berlinda para o Carmo e a Trindade tremerem por todos os cantos. Só não chegam a cair, de facto, porque ainda há mentalidades que veem esta tradição como uma forma sã e integrante da tradição académica – essencialmente a coimbrã – na forma de acolher os adolescentes que ingressam, por esta época – e mais tardiamente do que costuma ser normal – no Superior. Existe uma vintena de amputados cerebrais (a roçar um nível psíquico “à fim do mundo”) que a usam como uma tentativa de afirmação praticamente gratuita. De imposição, até. A praxe não é isso. Eles sabem-no melhor do que um praxista, na verdadeira acepção da palavra. Felizmente, quer queiram, quer não queiram, são raras as situações referidas, contundo, e de pronto, aproveitadas por quem menospreza a praxe para a deitar abaixo, espumando ódio perante este uso secular, reafirmando a minha posição como ex-estudante da Universidade de Coimbra – não conheço de forma clara as restantes formas praxistas. Fui praxado e praxei, apesar de uma forma bastante ligeira (tinha mais hábitos de boémio do que propriamente praxista). Gostei de ser praxado. Gostei de conhecer amigos e, especialmente, amigas, que ali e além, numa ou noutra situação, evoluíram para outro patamar, tão característico de uma época em que não era (mais ou menos) velho. Em momento algum desta prática de integração descortinei uma hierarquia – um argumento tão banalmente usado por aqueles que a oprimem. Vivi, neste seio de primeiro ano de faculdade, brincadeiras e panóplias de acontecimentos que me socializaram para os que restavam. Reitero: repetia. Tudo bem, que sofro de uma chata miopia há largos anos, e tenho um amigo que é estrábico (com a visão mais desacertada do aquela que procura fazer da praxe o cancro do Ensino Superior), mas, quer eu, quer ele, mesmo ao longe, jamais percebemos práticas abusivas. Nem ao perto, nem ao longe. Nada, mesmo!
A praxe regressou. Regressou, como é normal nesta fase do ano, e regressou à ribalta por, em Coimbra, ao invés da maioria das academias, acontecer. As típicas frases feitas: “São estes os futuros doutores”, “Vão mas é trabalhar”, “São meninos dos papás”, etc., vêm dos habituais velhos do Restelo – alguns até bem jovens – que falam da praxe como, esta sim, uma pandemia. A pandemia, julgo. Alguns, até são capazes de a catapultar para um nível acima do próprio vírus. Gente sem conhecimento de causa. Fica-lhes mal, até para os familiares de gerações mais recentes. Transmitem uma frustração evidente de não terem vivido a juventude da mesma forma que a malta vive – de forma altamente legítima – agora. Há também inveja, claro.
Não obstante, há 1001 formas de fazer a praxe acontecer, todas elas cumpridoras das normas estabelecidas. Mais: talvez seja mais seguro ser praxado do que visitar o túmulo dos Pastorinhos, ver ao vivo a Floribella (vulgo Luciana Abreu) ao domingo à tarde, bater palmas ao João Moura Júnior, ou jantar com camaradas na Atalaia ou com o Ventura numa tenda quase de circo. Adiante. Apareçam em Coimbra para tirar todas e quaisquer dúvidas. Hurra!