O sangrento atentado terrorista na Turquia veio mostrar uma vez mais a necessidade de um combate global contra o maior flagelo do século XXI, mas, por enquanto, as medidas tomadas estão longe de ser eficazes e os terroristas sabem disso.

Os organizadores e executores dos atentados terroristas leem jornais, ouvem rádio e veem televisão como qualquer outra pessoa e constatam que, na maior parte das vezes, as reacções aos seus actos mortíferos são temporários e não visam resolver radicalmente os problemas. Campanhas como “je suis isto” ou “je suis aquilo” pouco mais são do que campanhas feitas para ocultar a impotência ou incompetência dos políticos face à nossa segurança.

Os aeroportos têm sido alvos privilegiados dos terroristas, não tanto pelos danos materiais causados, como pelo número de vítimas mortais e, por conseguinte, pelo medo lançado entre aqueles que utilizam o avião como meio de transporte. Por este andar (e espero enganar-me no prognóstico), iremos ver os ministérios dos negócios estrangeiros de um cada vez maior número de países aconselharem os seus cidadãos a não voarem por falta de segurança.

Mas o mais inacreditável é que isto acontece quando já existem sistemas de segurança eficazes de combate ao terrorismo nos aeroportos e nas aeronaves civis. Tendo sido um dos primeiros alvos desse tipo de barbárie, Israel elaborou um sistema de controlo que fez com que os seus aeroportos e companhias de aviação sejam um exemplo a seguir imediatamente.

Claro que o controlo rigoroso nos aeroportos cria incómodos para quem viaja e torna os serviços mais caros, mas será a perda de vidas humanas mais barata? Receio que as indemnizações que as autoridades e companhias de seguro pagam aos familiares das vítimas sejam bem maiores do que o que é necessário investir na segurança dos aeroportos.

Neste campo, é de salientar a experiência da Rússia no controlo dos seus aeroportos e aeronaves. Alvos de frequentes ataques de separatistas caucasianos, souberam tomar medidas que praticamente resolveram esse problema. E aí a experiência israelita foi de extrema utilidade.

Mas não são só os aeroportos que são alvos do terrorismo. Estações ferroviárias e de metropolitano, celebrações religiosas (veja-se o exemplo do Iraque ou do Paquistão) e concertos estão também no centro das atenções dos terroristas, tanto mais que eles estudam bem os pontos fracos e encontram novas formas e alvos a atacar.

Por isso é indispensável reforçar seriamente os serviços de segurança e inteligência, olhar para estes não como potenciais violadores dos direitos humanos mas como nossos defensores, não como entidades inúteis, apenas capazes de defender as receitas dos bolinhos de bacalhau e dos pastéis de natas, mas como homens e mulheres que muitas vezes arriscam a vida para que possamos viver em segurança. Infelizmente, nas primeiras capas dos jornais, só aparecerem “aprendizes de azeiteiros” que vendem a pátria à Rússia ou a outro país a troco de dinheiro.

E mais um ponto importante: se o objectivo é formar uma opinião pública informada e consciente, a imprensa portuguesa deve dar o mesmo relevo a este tipo de actos terroristas, ocorram eles em Espanha, França, Turquia, Afeganistão ou Paquistão. Num mundo global como o nosso não podemos continuar a pensar em Portugal tal como existiu durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945): neutro, longe do epicentro do conflito, pobrezinho (mesmo com champanhe e bailes no Estoril), mas seguro.

Não pretendo puxar a brasa para a minha sardinha, mesmo sendo hoje o dia de São Pedro, mas é preciso constatar que a política internacional não ocupa o lugar adequado na nossa informação: é uma espécie de parente pobre, relegado normalmente para depois do futebol e das misérias da política interna. É preciso deixar de olhar apenas para o nosso umbigo para que não aconteçam desgraças.

Por fim, o mais importante: sem uma coligação internacional forte, que ponha o combate ao terrorismo acima dos interesses mesquinhos no campo da política e externa, será impossível combater organizações como o Estado Islâmico, os talibãs, a Al-Qaeda, e por aí adiante. Esta é uma afirmação banalíssima mas, infelizmente, cada vez mais actual.