É importante homenagear as vítimas dos atentados e prometer, jurar que não temos medo, que não iremos renunciar ao nosso modo de vida, mas estas palavras começam a ficar gastas depois de tanta repetição, perdendo completamente o seu sentido. Sendo assim, por muito difícil e doloroso que seja, temos de constatar que estamos a perder a guerra com o terrorismo islâmico.

O mais estranho é ver que as causas e raízes do terrorismo moderno estão determinadas, as receitas para o combate a essa praga são muitas e variadas, mas os políticos ocidentais continuam em insistir nas meias-medidas, muitas delas fruto de acordos e apoios duvidosos a grupos e Estados que estão na origem do terrorismo. E assim será até que os dirigentes ocidentais continuem a manter políticas ambíguas em relação a determinados regimes políticos, pondo os interesses económicos e financeiros à frente da vida dos cidadãos.

Todos sabem qual o principal país que vive segundo as normas que os terroristas querem impor não só no mundo muçulmano, mas também na Europa: Arábia Saudita. Nesta monarquia medieval espezinham-se os mais elementares direitos humanos, a intolerância contra outras maneiras de pensar, religiões faria inveja à Inquisição. Alguém sabe onde fica nesse país um templo católico, budista ou hinduísta, embora lá trabalhem milhares de estrangeiros? Sobre os direitos das mulheres e das minorias sexuais nem vale a pena falar.

Mas todos os dirigentes mundiais vão “beijar a mão” aos príncipes sauditas na esperança de que lhes caia da mesa algumas migalhas. Há poucos dias atrás, o Presidente norte-americano Donald Trump foi à Arábia Saudita e, segundo a imprensa, conseguiu um milionário contrato de venda de armas, e os restantes dirigentes de países que vendem armas, incluindo Vladimir Putin e alguns dirigentes europeus (Alemanha, França e Grã-Bretanha) ficam apenas com “água na boca”, com inveja de não terem conseguido um contrato igual.

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Para que servem armas tão modernas? Para combater Israel? Duvido, pois Israel, com a ajuda norte-americana, tem o armamento, incluindo nuclear, necessário para garantir a sua sobrevivência. O inimigo principal dos sunitas sauditas é o Irão xiita, que também não se queixa de falta de armamentos fornecidos pela Rússia. Como é do conhecimento geral, parte do armamento fornecido a esses e outros países do Médio Oriente vai parar às mãos de grupos como o Estado Islâmico, o Hezbollah, etc.

As redes terroristas também não podem substituir sem meios financeiros, não funcionam apenas com base no fanatismo (embora este factor possa ser importante) e eles chegam dos seus patrocinadores através de brancos ocidentais. Como também é sabido, os familiares dos suicidas podem receber subsídios por terem formado um mártir.

Por conseguinte, sem vontade política de pressionar a sério países que patrocinam o terrorismo e de cortar pela raiz o seu financiamento, nenhuma medida contra o terrorismo islâmico resultará, podendo apenas “remendar” o problema. Não se pode deixar de assinalar que os países ocidentais contribuíram em muito para a desestabilização do Médio Oriente e para a derrocada de regimes que, embora pouco recomendáveis, continham forças ainda mais extremistas.

É sintomático, neste campo, a situação na Síria, onde a fragmentação dos grupos armados torna praticamente impossível a solução política da guerra nesse país e poderá originar forças ainda mais extremistas.
Igualmente foi feito muito pouco para apoiar os rebentos democráticos e laicos nessas sociedades, principalmente se compararmos com a tolerância de que gozam os pregadores fundamentalistas islâmicos na Europa. Não nos podemos esquecer que foi a partir de Paris que o ayatollah Khomeini preparou o derrube do Xá do Irão Reza Pahvali, em 1979.

Outro fator importante que está na base do terrorismo islâmico é o sério fracasso da política de integração dos imigrantes dos países islâmicos, ou melhor, da sua quase total inexistência em países como França ou Grã-Bretanha.

A continuar a política de meias medidas, será impossível pôr fim ao Estado Islâmico. Pode-se apenas fazer o mesmo que está a feito com os talibãs no Afeganistão. Não obstante a forte presença militar ocidental nesse país, esse exército terrorista continua a controlar parte dele. Como se trata de uma força “mais moderada” do que o Estado Islâmico e se opõe a este, a China e a Rússia já mantêm conversações com eles com vista a evitar o alargamento do conflito afegão à Ásia Central e ao Nordeste da China, onde as populações são maioritariamente muçulmanas. Se se continuar assim, resta apenas esperar que novos grupos terroristas irão substituir o Estado Islâmico.