Sempre tive um imenso respeito pelo CDS e pelo papel muitas vezes difícil que teve que exercer na vivência nem sempre auspiciosa da democracia portuguesa.

Se pensarmos em nomes que marcaram este caminho íngreme da liberdade, como Adelino Amaro da Costa, Freitas do Amaral, Lucas Pires, Manuel Monteiro, Paulo Portas, Adriano Moreira, Assunção Cristas, apenas exemplos ao correr da pena de um muito mais vasto elenco de personalidades relevantes, ficamos perplexos com o tempo que o partido hoje atravessa.

Recordo para se perceber a importância histórica e política do partido, o tempo da AD e das maiorias de coligação com Cavaco Silva e outros líderes do PSD ou até os Governos de coligação que hoje parecem impossíveis com o Partido Socialista de Mário Soares. O CDS foi, ao mesmo tempo, importante tampão para os desvarios gonçalvistas de que nos livramos in extremis no passado e oportuno temperador de um PSD e de um PS muitas vezes tentados a refastelarem-se comodamente na poltrona do bloco central. Fê-lo sempre com elegância, apesar dos naturais altos e baixos e, diria até, com um “qb” de altivez que lhe preservaram o carácter e o pundonor.

Até que, depois do vazio natural provocado pela ressaca de um poder exercido em tempo de crise, nos defrontamos com a saída de uma muito esforçada Assunção Cristas, para um tempo morno de limpeza das feridas das batalhas do poder, muito vulnerável ao aparecimento de líderes frágeis e provisórios.

Escrevi nessa altura que essa era a hora de Nuno Melo. E era!

Pela capacidade e competência, pela combatividade e, claro, pela experiência política e pela oportunidade que a própria circunstância política lhe propiciou. Era, também, o último dos grandes senadores do partido, capaz de fazer a ponte entre o passado e o futuro.

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Mas como para se ser também é preciso querer, Nuno Melo não atendeu ao chamamento ou pelo menos, não foi sensível à oportunidade, dada a condição intercalar que o desafio envolvia.

Francisco Rodrigues dos Santos foi, entretanto, capaz de vencer o Congresso, mais por falta de comparência das alternativas válidas do Partido do que por ter o carisma ou a capacidade mobilizadora de um grande líder.

Os grandes deixaram o miúdo jogar o jogo. Porque a verdade é que todos entendiam que o jogo era ainda amigável e quando o campeonato começasse o miúdo recolheria pacatamente ao banco ou a um lugar menos sensível no desempenho global da equipa.

O início do campeonato precipitou-se no tempo por razões que apesar de plausíveis não eram expectáveis. E quando se acenou ao miúdo para fazer o que era suposto, o miúdo pareceu amuar e agarrou-se à bola que era dele.

Mas foi mesmo assim? É que o capitão da equipa bateu com a porta, as antigas glórias indignaram-se, o treinador ameaçou com os maus resultados, tudo ameaçou ruir. E o miúdo, surpreendentemente, agarrou-se ainda mais à bola!

Mas então ninguém saca a bola ao miúdo? Ninguém lhe compra a bola? Ou o miúdo afinal não está sozinho e mexe com os interesses do clube ou até de outros clubes (?) mais próximos?

Quem vê a forma arrogante como, por exemplo, o Presidente do Conselho Nacional se comportou e as ligações próximas que tem a um outro fenómeno recente da direita, fica no mínimo a achar que o miúdo está longe de estar sozinho.

E esta simples constatação que hoje faço tem como único objectivo clarificar, no rescaldo de tudo, quais os verdadeiros responsáveis pelo putativo desaparecimento ou degenerescência do Partido. Para que mais uma vez na política e em Portugal a culpa não morra solteira! E os responsáveis – todos os responsáveis, sofram o custo político e moral de terem aprisionado um partido com a relevância fundacional do CDS.