Bonecos com a língua de fora, olhos cerrados, olhos em coração, olhos em espiral, bocas com beijos, bocas abertas, lágrimas aos saltos, auras de anjo, metade amarelo e metade azul, olhos em cruz, boca com máscara, de óculos escuros, com as letras “zzzzz” por cima, etc, etc… são tantos os modelos disponíveis que, sinceramente, me sinto perdida. Estou a falar dos chamados “emojis”, que actualmente inundam as mensagens escritas trocadas entre utilizadores das mais variadas faixas etárias. Rara é a mensagem que não os envolve e há mesmo mensagens em que apenas se usam os ditos “emojis”.

Por outro lado, cada vez mais se comunica de forma escrita. Os telefonemas ou vídeo chamadas são muito mais raros. Conversas presenciais… bem, especialmente entre jovens mas, também, entre adultos, todos nós já assistimos a situações em que as pessoas comunicam de forma escrita… com alguém que está ali mesmo ao lado.

A comunicação humana é um processo complexo. Tem evoluído ao longo dos tempos, trazendo novas formas de comunicar, também elas mais complexas e desafiantes. Apesar desta crescente diversidade, há regras básicas que se mantêm.

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Os axiomas da comunicação dizem-nos que é impossível não comunicar, pois todo o comportamento implica comunicação. Assim, a ideia de ‘não comportamento’ não existe. Por sua vez, toda a comunicação implica pontuação ou seja, os diferentes significados que cada um de nós atribui ao que é dito ou ao comportamento do outro.  Estes axiomas salientam ainda a importância da congruência entre a comunicação verbal e não verbal, bem como os riscos associados às dificuldades de tradução desta última.

Centremo-nos, pois, sobre tudo isto.

Quem envia uma mensagem escrita está, à partida, a aumentar a probabilidade de não ser bem entendido. Estas mensagens são, muitas vezes, escritas de forma telegráfica, sem pontuação, omitindo-se sujeitos, verbos, adjectivos ou advérbios. Por vezes em letra maiúscula. “ESTÁ A GRITAR?” Ou apenas carregou sem querer na tecla “Caps lock”? Já para não falar do corrector ortográfico, essa “traiçoeira” ferramenta de escrita que nos prega partidas embaraçosas…

«Urina, quando podemos reunir?»

«Desculpe, Irina»

«Estou granada»

«Quer dizer, atrasada»

Sobre os “emojis”, questiono-me. O que significa cada boneco? Será que todos nós lhes atribuímos o mesmo significado? Naturalmente que não. Estamos a falar de linguagem simbólica, sem recurso à palavra. Esta forma de comunicar também não recorre a outros aspectos, tão importantes, da linguagem analógica ou não verbal, como o tom de voz, a postura, o sorriso ou o olhar de quem emite a mensagem.

Quem comunica com recurso a este tipo de simbolismo quer transmitir algo. Que está alegre ou triste. Ou zangado, muito zangado, ou com sono. Pode também querer dizer que sente saudades, que quer enviar um beijo, ou um beijo mais amoroso. E este beijo pode ser desprovido de segundas intenções, ou pode ter segundas intenções, ou até terceiras intenções. Ou… não sei, sinceramente. Há figuras que não consigo descodificar. E por isso, sistematicamente, questiono quem os envia.

«O que significa este boneco?»

«O que quer dizer?»

«Podes clarificar?»

Nas relações humanas, seja em díade, tríade, sistemas familiares ou grupos de trabalho, amigos ou cônjuges, as dificuldades de relacionamento estão correlacionadas, acima de tudo, com problemas a nível do processo de comunicação. Estes sucedem porque a comunicação não é clara e objectiva, porque se interpretam palavras ou acções de forma diferente, porque se pontuam de forma diferente.

Muitas vezes, o que para um é causa, para o outro é efeito. «Eu bebo porque tu estás deprimida». «Não, eu estou deprimida porque tu bebes».

Outras tantas vezes, a comunicação é paradoxal, emitindo mensagens contraditórias ao mesmo tempo.

«Tens de me amar». Impõe-se um sentimento, algo que se sente ou não se sente.

«Tenho saudades tuas (colocar “emoji” zangado?) Devo interpretar estas saudades como algo positivo, expressas por alguém de quem gosto e que gosta de mim? Mas está zangado? Como interpretar a associação entre estes dois estados emocionais?

Comuniquemos de forma sonora, escrita, audiovisual ou outra, presencialmente ou à distância, com ou sem recurso a símbolos, o mais importante é que aquilo que é emitido seja, de facto, entendido por quem recebe. Que se transmita “X” e se entenda “X”. E que esse “X” seja claro, coerente e não paradoxal.

Tantas vezes se diz “X” e o outro entende “Z”, sendo a este ultimo que se reage. Tantas outras se diz “X” de forma verbal e “Z” de forma não verbal. Como descodificar isto?

As dificuldades de comunicação geram mal-entendidos e conflitos. Sem a devida clarificação, podem suscitar dúvidas, activar diferentes estados emocionais… ou distanciar as pessoas. E quando a comunicação, ao invés de criar vínculos e aproximar, gera afastamento, será seguramente disfuncional.

Mantenhamos a comunicação escrita e os símbolos. E também os “emojis”. Tentemos apenas assegurar-nos que estes têm o mesmo significado para quem envia e para quem recebe.

(Estou a transmitir uma emoção positiva – alegria).