Há alguns dias, o Ministério da Educação disponibilizou os dados relativos aos resultados obtidos nos exames de 2022. Estes dados numéricos puderam ser ordenados segundo variados critérios, o que leva, frequentemente, a mesma escola, com os mesmos alunos, a posicionar-se em lugares diferentes nas diversas tabelas publicadas.

É frequente chamarem-lhes Rankings das Escolas, pois os títulos, pela síntese que se lhes exige, devem ser, tendencialmente, ou quase obrigatoriamente, bastante reduzidos, quando, na verdade, seria muito mais adequado que essas seriações de dados fossem designadas como Rankings dos Resultados dos Exames, por escola, por distrito, por tipologia público/privado, etc. Todos sabemos que, nas escolas, se desenvolve uma imensa panóplia de atividades que ajudam a formar os jovens, muito para além das aprendizagens que são testadas em exames. Porém, a ordenação de dados só é matematicamente sustentável se for estabelecida uma escala quantitativa de medição, e isso consegue-se, sem dúvida, com os resultados dos exames.

Também no futebol, as extraordinárias fintas, a qualidade dos passes e a beleza do pontapé de bicicleta são elementos não dispensáveis, mas o número de pontos obtidos pelos empates e vitórias, decididas pela diferença entre o número de golos marcados e sofridos é que decide quem é o campeão.

É evidente que a posição das escolas públicas nestes rankings não é, de todo, favorável. Assim, imediatamente foram suscitados discursos políticos de desculpabilização, sempre a desvalorizar os rankings, tanto da parte do Governo, em particular do Ministro da Educação, como da parte de alguns sindicatos de professores. Os “rankings são demagógicos”, os “rankings são uma farsa”, os “rankings não deveriam existir”, ou os “rankings são uma operação comercial”.

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Imagine-se agora (é claro que não pode haver limites para a imaginação) que as escolas públicas eram organizadas, com a orientação expressa e clara do Ministério da Educação, para dar grande relevância às aprendizagens, à aquisição de conhecimentos, aos conteúdos programáticos passíveis de avaliação em exame, a par de todas as outras atividades que têm lugar, e devem continuar a ter, nas escolas, como visitas de estudo, torneios desportivos, organização de palestras, atividades artísticas, promoção de eventos de solidariedade e de caráter cívico, etc., tal qual acontece constantemente, diariamente, na generalidade das escolas privadas. Imagine-se igualmente que, por força da maior independência das direções escolares e dos professores relativamente às exigências dos fregueses, pois não dependem de propinas que estes não pagam, as escolas públicas, alavancadas pela grande valorização dos conhecimentos por parte das famílias, atingiam, como já o fizeram outrora, excelentes resultados nos exames.

Se assim fosse, alguém acredita que o Ministro da Educação viria defender que os rankings são uma “operação comercial”? Seria crível que dirigentes sindicais viessem a público desvalorizar esses resultados, dizendo-os “uma fraude”? Ou simplesmente só os desdenham porque os resultados não são favoráveis ao tipo de escola que dizem defender? Dizer é grátis. Fazer pode custar um pouco mais. Os Gato Fedorento sabem bem que tantas e tantas vezes “eles falam, falam, mas não fazem nada”.

Transpondo-nos para o plano eleitoral, é natural que os socialistas exijam que todos respeitemos o magnífico resultado que obtiveram nas últimas eleições legislativas, e qualquer democrata tem de respeitar. Todavia, os socialistas também devem aprender, como se de conteúdo da educação cívica se tratasse, que se deve honrar e elogiar as escolas que melhores resultados desenvolvem com os seus alunos, como, por exemplo, a Escola Secundária de Vouzela, da rede pública. Devem aprender que é honesto reconhecer as escolas, mesmo que sejam da rede privada, que melhores resultados alcançam e que projetam os respetivos alunos para lugares de destaque. Dos rankings decorre, com naturalidade, a valorização de todas as escolas que se esforçam por atingir os lugares cimeiros e por satisfazer as condições de qualidade, pelas quais são mais procuradas pelas famílias, que, no caso da rede privada, pagam a escola dos filhos a duplicar, mesmo que se saiba que uma enorme fatia desse sucesso é resultante da exploração (será boa exploração?) das disponibilidades dos respetivos professores.

Voltando aos resultados eleitorais, é obrigatório aceitar que, enquanto houver maior número de eleitores a votar no Partido Socialista (e seus congéneres), não pode haver qualquer dúvida de que os socialistas ocupam o primeiro lugar no Ranking das Eleições. E, enquanto formos defensores da Democracia, assente no voto universal, até podemos contestar ideias, podemos protestar alegando que a democracia não se pode esgotar no voto, temos inclusive a obrigação de tentar demonstrar que muitos vão ao engano, que compram “rato por gato” ou “gato por lebre”, mas temos o dever cívico de respeitar quem fica em primeiro, ou quem consegue arregimentar parceiros para ocupar esse lugar no Ranking das Eleições, conforme a surpreendente caranguejola que, em 2015, demonstrou que os segundos, os terceiros e os quartos do ranking podem “cozinhar acordos secretos” e, juntos, derrotarem o putativo primeiro lugar. Na altura não foi fácil aceitar que assim se fizesse, claramente por falta de hábito, contudo, rapidamente se percebeu que essa é a regra fundamental da democracia parlamentar. E para qualquer democrata, cada voto é um voto, seja em que partido for, da ponta mais à esquerda à ponta mais à direita, tal como o Cabo da Roca e a Aldeia de Paradela são terras de Portugal Continental.

Em 2022, os socialistas conseguiram o primeiro lugar do Ranking das Eleições com maioria absoluta, descartando, desde logo, qualquer (in)capacidade da oposição para formar acordos que jamais os conseguiriam ultrapassar. Portanto, salvo motivos imprevistos decorrentes de trafulhices dificilmente imagináveis (embora elas possam surgir como cogumelos), os socialistas devem governar e ser responsabilizados pelos resultados obtidos. Louvados ou denegridos. Se, com os socialistas no governo, somos ultrapassados por outros países no ranking da riqueza produzida, o desconforto resultante não provém da inveja, mas antes da vergonha de não desenvolvermos as nossas capacidades. Se, em resultado da governação socialista, os jovens licenciados têm preferência por ir trabalhar para outros países, isso não é despiciendo, é desbaratar o investimento dos contribuintes. Se, com os socialistas no Ministério da Educação, o número de estudantes que procura o ensino privado aumentou, então, mesmo os eleitores mais ingénuos serão capazes de concluir que os socialistas não estão a defender a Escola Pública. Se o número de escolas públicas nos primeiros lugares do Ranking dos Exames diminuiu, então torna-se evidente que o governo socialista, maioritário, ao comprar uma guerra estupidamente longa com os professores, desvalorizando-os, ao não ter engenho para desmontar o processo absurdo de colocação de docentes, ao desprezar a avaliação e, consequentemente, a autoridade dos professores nas escolas públicas, obteve, como resultado, estudantes do ensino público com menores aprendizagens dos conteúdos escolares passíveis de avaliação em exame.

Se, apesar de tudo isto, os socialistas conseguirem manter erguidos estandartes “papão”, forem capazes de enredar as oposições em divisórias que lhes são convenientes, passeando no bolso esquerdo um molho de moedas para pequenas esmolas, mesmo que os pobres vão percebendo que é uma fração ínfima dos volumes gigantescos de cobranças que carregam no bolso direito, e se, em resultado dessas políticas habilidosas, conseguirem o primeiro lugar no ranking das próximas eleições, então a “Quinta dos Animais” manter-se-á convenientemente gerida, pelo menos até que o burro “Benjamim”, farto de andar ajoujado, comece aos pinotes.