Um mito cuidadosamente cultivado pela esquerda é de que só os socialistas têm preocupações sociais.

E isso é falso. Os socialistas têm apenas uma proposta para resolver os problemas sociais: que o Estado os assuma na totalidade. Crêem que um Estado social tem de ser um Estado socialista.

Mas já sabemos, há muito, que um Estado socialista é muito pouco eficiente nesta matéria (e noutras). Em primeiro lugar, porque acha que os problemas se resolvem atirando-lhes dinheiro para cima, ou seja, subsidiando. Isso tem algum efeito, evidentemente, mas raramente resolve os problemas de fundo. Camufla os problemas, esconde-os sem os resolver, adia-os um pouco, na melhor das hipóteses. Além disso, o dinheiro que envia está embrulhado em tal camada de burocracia e de condições de elegibilidade que chega apenas a alguns (poucos) dos que necessitam de apoio e mesmo para esses é insuficiente. A resposta do Governo a esta crise económica provocada pela pandemia é bem ilustrativa disso. Quantas promessas de ajuda que chegaram muito tarde e poucochinho.

Mas o principal problema não é esse. É que o Estado socialista só tem uma visão macroscópica da realidade, pela sua própria natureza centralizadora. As opções que toma são afastadas dos problemas sociais reais, porque estes são de natureza microscópica: individual, muitas vezes. E invisíveis aos olhos dos políticos, envolvidos como estão na sua campânula, desconectados da realidade. Portanto, as decisões são genéricas, são tiros atirados à sorte. Os problemas sociais são, em primeiro lugar, problemas de pessoas concretas em situações únicas (como irrepetíveis são as pessoas) e para as quais o “pronto-a-vestir” que o Estado oferece não serve, amanha mal.

Por isso, as instituições de solidariedade social, as misericórdias, as paróquias, os bancos alimentares, os grupos de voluntariado são muito mais eficazes. Elas conhecem as pessoas e os seus problemas reais. Estão no terreno. Sabem quem, quando e quanto precisam. O verdadeiro Estado social é aquele que sabe dar espaço a estas instituições, que lhes facilita a vida, em suma, que confia na sociedade civil como o meio mais eficaz para resolver os problemas sociais. Uma crise desta dimensão teria sido muito melhor suportada se o Estado tivesse dado às instituições no terreno os meios financeiros para apoiar as pessoas com necessidades, em vez de os distribuir como fez. O (não) funcionamento da Segurança Social durante o confinamento é paradigmático da falha do Estado para com as pessoas: os funcionários estavam em casa e não havia ninguém que atendesse um telefone, sequer, quando alguém recorria a esse serviço.

Há um outro aspecto: o Estado socialista é um ente frio, arrogante, distante. Quando dá, dá com desdém. Parece que está a fazer um grande e sacrificado favor quando distribui os nossos impostos. Não é para ajudar as pessoas necessitadas que quer os impostos, mas para alimentar a sua máquina e favorecer os seus interesses. O Estado é incapaz de dar uma coisa que essas instituições de cidadãos sabem fazer e que muitas vezes é mais importante do que o dinheiro: compreensão, compaixão, companhia.

Um Estado com verdadeira preocupação social promove, apoia e ajuda a sociedade civil, sem querer sobrepor-se a ela e menos ainda substituí-la, porque não é capaz de desempenhar essas funções. Urge transformar este Estado socialista num verdadeiro Estado social, onde as pessoas estejam em primeiro lugar.

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