Em fevereiro de 2017, antes da pandemia, o Governo aprovou como solução aeroportuária suficiente para Lisboa uma solução-dual VINCI, com um total de 72mov/h, em que o HUB Portela (450ha) teria apenas uma pista de 3.700m (sem pista-reserva) e o aeroporto do Montijo (190ha) teria uma pista “dependente” com 2.400m, com taxiway incompleto e acesso por barco.
O que significa que, até 2020, uma solução dual com 640ha-72mov/h, em que nenhum dos aeroportos tinha sequer ligação à rede ferroviária e em Lisboa eram afetadas 37.000 pessoas acima do nível de ruído de 65dB, foi aprovada pelas entidades públicas ambientais (APA e ICNF) e técnicas (NAV). O argumento era a sua rápida implementação /sem dinheiro público. Estávamos na fase em que “não havia plano B”.
No entanto, em 2017, foi apresentada às entidades oficiais uma solução dual HUB Alverca-Portela de pistas paralelas (4.000m//3.700m) com 1.650ha-até 105mov/h, num formato que era inovação mundial «1 aeroporto-2 terminais» mediante fusão por comboio-automático dedicado. A dimensão Alverca permitia o downsizing Portela (só médio curso e sem voos à noite). Esta inovadora solução, superior a Heathrow (1.220ha-90mov/h) e número 1 europeu em conetividade ferroviária, baixa para apenas 150 pessoas afetadas acima do nível de ruído 65dB. O seu custo é inferior ao da solução VINCI e a implementação ainda mais rápida (o que na altura era vital). Além do mais, já tinha sido provado no passado que em Alverca havia menos de 1% das aves do estuário e os estudos entregues demonstravam que seria a mais eficiente pista europeia, com aproximações sobre água dos dois lados. Em simultâneo, como solução global, apresentou alternativa ferroviária que reduz 5.000milhões de euros (travessia para Lisboa-Madrid 3.500M€ e bypass Lisboa-Porto 1.500M€) à rede de Alta Velocidade.
Esta solução teve de saltar inventados obstáculos técnicos, os quais superou com distinção. Na altura, um grande “problema” da solução era desmontar a continuada “intoxicação” pública, tentando viabilizar o “Oito-Montijo” com a desculpa da inviabilidade do “Oitenta-Alcochete”.
De repente, vá-se lá saber porquê (ainda estávamos mais endividados), voltámos a pular de pobres para ricos. O que passou a ser bom, é soluções de raiz, do tempo que nos levou à bancarrota. Não interessa quanto custa, o Estado paga, não interessa quanto demora, constroem-se soluções intercalares para depois deitar para o lixo.
Somos bipolares
Antes da trágica pandemia, para o Governos e entidades públicas relacionadas com o aeroporto, a solução VINCI 690ha-72mov/h era suficiente e defendiam ser muito importante o país não gastar dinheiro e a solução ser rápida.
Acontece a pandemia, que baixa as projeções por mudança comportamental e desvio do avião para o comboio, e acresce o mundo estar em stress militar com a invasão da Ucrânia e ter surgido uma fratura entre os dois grandes blocos económicos (EUA e China). E, no caso específico de Portugal, o salvamento da TAP conduziu a um avultado dispêndio de dinheiro público e, concomitantemente, baixou o potencial de expansão da própria companhia.
E o que é que a Comissão nomeada está a preparar para os portugueses no meio de toda esta incerteza?
Mudar simplesmente de camisa. Vestir aquela camisa larga que guardamos para os dias de otimismo. De facto, a Comissão afirma que precisamos de um conjunto aeroportuário de raiz na margem sul, subindo a área de 640ha para 5.000ha (aeroporto e cidade-aeroportuária), a capacidade de 72mov/h para 115mov/h, a que ainda soma a maior ponte mundial do seu género.
E será que não é estranho que quase todos os dias se descubra outra localização na margem sul que, sem ter qualquer estudo, é acolhida de braços abertos?
Não será no meio que estará a (equilibrada) virtude?
O HUB Alverca-Portela apresentou, desculpem mas desta vez vou ser exaustivo, aprofundados documentos técnico-financeiros, começando por 1: Equipa de desenvolvimento; 2: Documento-síntese das razões de candidatura à ampliação da capacidade aeroportuária de Lisboa; 3: O efetivo valor do mouchão da Póvoa (10.000M€); 4: O conceito do modelo económico; 5: Capacidade de financiamento VINCI das soluções aeroportuárias; 6: Estruturação funcional HUB aéreo-HUB ferroviário-Terminais remotos; 7: Alteração do uso do mouchão da Póvoa – A experiência da cidade de Filadélfia; 8: Aeroporto & Trajetórias – Impacte ambiental ; 9: Evolução Portela-citadino; 10: Plano Diretor – Separação por vocação em dois núcleos; 11: Acessibilidades & – antecipação do futuro 2050; 12: Alterações climáticas 13: Capacidade aeronáutica (ar e solo) 14: Procura ano 2062; 15: Planeamento 16: Visão 2050 e, por fim, o documento (17) envolvente da solução: Modelo económico-financeiro “cost-efficient concept” – Solução Global sem ajudas públicas (aeroporto & acessibilidades).
Como suporte complementar, foram remetidos anteriores documentos comprovativos da oportunidade e eficiência da solução, perto de um milhar de páginas, com diagramas explicativos, quase didáticos, sobre todas as vertentes da inovação. Não se entende que uma solução que é inovação mundial, ou seja, de inerente complexidade e que requer conhecimento especializado, sem que a Comissão tivesse sequer equipa técnica, tenha sido liminarmente excluída. É surreal!
Qualquer conclusão da Comissão nomeada já está “ferida de morte”
Hoje, já é público que a Comissão nomeada não é imparcial e inventou e manipulou critérios de preliminar exclusão para eliminar a solução que era a mais perigosa para a solução de raiz sua preferida (Alcochete), não considerando “só” o custo e o prazo de execução, como se fossem coisas menores.
Excluir uma económica e rápida inovação mundial como o HUB Alverca-Portela, por nem sequer perceber o conceito “1 aeroporto-2 terminais”, quer do ponto de vista técnico, quer à luz do superior interesse público, é inaceitável.