As análises à problemática do aumento da capacidade aeroportuária de Lisboa versus localização têm-se concentrado, nomeadamente, na distância ao centro, na capacidade das pistas e na área necessária para o aeroporto. Não se tem praticamente falado no aproveitamento do existente e no evitar gastos desnecessários. Um assunto “menor” e não conveniente à propaganda da “ambição”, palavra-chave da Comissão Técnica Independente (CTI), em cujas ações os observadores minimamente atentos identificam, desde o princípio e cada vez mais, uma campanha para dar cobertura à opção do Campo de Tiro de Alcochete.

O esquecimento do custo e do prazo foi propositado (é afirmação da CTI). Mas não foi inocente. Por isso se afigura importante mostrar à sociedade o que está a ser deitado fora como se nada valesse. A listagem é tão longa que se procurou sintetizar para não tornar a leitura demasiado cansativa. Deste modo, relembramos apenas o conceito inovador do HUB Alverca-Portela, o primeiro mundial “1 aeroporto-2 terminais”, com o núcleo Portela como aeroporto citadino (airport-city) fundido com o núcleo HUB Alverca mediante um comboio-automático dedicado (shuttle), para então se focar o tema esquecido, o custo.

Vejamos o que esta solução permite aproveitar/recuperar/fortalecer e manter operacional.

  1. Núcleo aeroportuário PORTELA (base operacional TAP + Base Aérea de Figo Maduro). A solução integrada aproveita o pagamento antecipado de cerca de 300 milhões de euros à Câmara Municipal de Lisboa para a privatização da ANA poder avançar em 2012, mantendo o aeroporto da Portela ativo. Aproveita na íntegra os volumosos investimentos efetuados nas instalações do aeroporto, TAP (aviação e manutenção), NAV e base aérea. Aproveita os investimentos feitos nas acessibilidades (metro, CRIL, eixo norte-sul) e nas atividades correlacionadas (rent-a-car e adjacentes hotéis). E aproveita os obrigatórios investimentos VINCI, recentes e em curso, no âmbito do melhoramento funcional da Portela, previsto no contrato de concessão. Em números redondos, o valor do núcleo aeroportuário e afins ultrapassa 2.500 milhões de euros, valor que, em vez de ser desperdiçado (longínquas soluções de novo aeroporto de raiz), será até potenciado pela solução integrada como a “porta” principal do primeiro HUB 2050 de terminais-remotos na cidade.
  2. Núcleo aeroportuário ALVERCA. Aproveita as 4 linhas férreas até Alverca e a estação. Aproveita as ligações rodoviárias (gratuitas) entre Lisboa e Alverca e, ainda, a CREL. Aproveita a conexão das facilidades (energia, telecomunicações, água e ETAR). Aproveita o sistema (pista + taxiway) na função de suporte às duas novas pistas. Aproveita a empresa Oficinas Gerais de Manutenção Aérea (OGMA) para o apoio à atividade do aeroporto. E, principalmente, aproveita o facto de o mouchão da Póvoa estar destruído e o seu antigo uso inviabilizado pela salinização (sete anos de inundação pelas marés), para nele implantar a inovadora solução de duas pistas paralelas à pista da Portela, inclusive aproveitando a dragagem do canal das barcas pela APL (acesso ao terminal fluvial de Castanheira) para altear a parte do mouchão onde se colocam as pistas (só 20% da sua área total), criando-se uma enorme plataforma final, limpa e à cota certa. Imagine-se, com um custo para o aeroporto inferior a 10% de similar plataforma no aeroporto de Macau (construído sob administração portuguesa). E ainda aproveita o facto de estar no meio do maior/mais dinâmico polo logístico nacional (Carregado-Alenquer-Azambuja) para este ser a sua própria cidade aeroportuária. E, por fim, mas não por último, aproveita a saída (em curso) dos contentores do parque da Bobadela para a sua reconversão também fazer parte da cidade aeroportuária através de uma paragem intermédia do comboio dedicado (shuttle) do aeroporto.

O valor desde enorme núcleo com as acessibilidades feitas, quase metade do sistema aéreo já feito, com passagem direta da espinha dorsal da rede ferroviária (Linha do Norte), instalada empresa de manutenção aérea e polo logístico de um lado e polo de reconversão urbana de outro, ultrapassa 1.500 milhões de euros.

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Assim, já sabemos que, na solução HUB Alverca-Portela, aproveitar o existente vale mais de 4.000 milhões de euros. Falta agora ver a outra face, a do benefício colateral, o que se evita gastar. Foquemo-nos apenas no mais relevante. A mega ponte rodoferroviária Chelas-Barreiro na sua amplitude global: o objeto do concurso público antes da troika mais o ramal de quatro linhas Poceirão-CT Alcochete mais o túnel rodoviário na margem norte. A preços de hoje, um custo total à volta de 3.500 milhões de euros, a ser suportado pelo erário público. Que com a solução global HUB Alverca-Portela se evita na totalidade. Primeiro, porque a solução está toda na margem norte (a larguíssima maioria das origens-destinos das viagens aéreas) e, depois, porque, através da construção de uma ponte baixa em Alverca, permite-se a ligação ferroviária de Alta Velocidade (AV) com um custo até 5% do atravessamento via Chelas-Barreiro. Uma ponte tão económica que até a concessão aeroportuária a integra, para apagar qualquer dúvida no comparativo com o Campo de Tiro de Alcochete.

E, por último, mas não despiciendo, em conjuntura geoestratégica conturbada e indefinida como a presente, mantém incólumes as infraestruturas militares de Figo Maduro, Montijo e Campo de Tiro de Alcochete.

Assim, a solução aproveita 4.000 milhões de euros, evita gastar 3.500 milhões de euros na ponte de Chelas-Barreiro e, ainda, 250 milhões de euros com a mudança do Campo de Tiro de Alcochete. Só nos itens referidos, a diferença de custo já soma 7.750 milhões de euros. É a “portagem” a pagar pela “ambição”!

No saber aproveitar é que está o ganho, aplica-se tanto a fazer muito mais com o que existe como a saber aproveitar as oportunidades no tempo certo. É o que está espelhado no estudo do HUB Alverca-Portela.