Pareceu-me ontem que o estava a ver pela primeira vez. Mudou muito. Não podia ser de outra forma, imagino. E imagino também que não se regressa ao que era depois de uma vivência de guerra.
São insondáveis os desígnios da vida. De comediante, ator, a presidente de um País que de repente entra em guerra e por lá se mantém há 2 anos.
Há quem aponte a sua ascensão a uma combinação de fatores como a popularidade como ator, a sua empatia, as promessas de mudança, a sua comunicação de proximidade, aliados a um desejo ucraniano por uma renovação política e social. Tudo isto num período de crise e transformação.
E, de repente, um líder que comungava sorrisos teve de aprender a sobreviver como o líder que se espera que lidere uma nação em guerra, tomando decisões de vida ou de morte enquanto ampara o seu luto e o das suas Pessoas e negoceia com líderes mundiais e coordena a defesa nacional. Uma transformação monumental de tão trágica que é. De que se terá socorrido? O que o mantém de pé? questiono-me.
Talvez determinação, o apoio da sua gente, o senso de dever. Talvez Fé, solidariedade internacional e amor ao país, não sei, mas o que vejo num rosto cansado, marcado pela tristeza e desânimo, são também vincos de determinação e coragem, características de um líder. Um de carne e osso.
Admiro-lhe a bravura de não ter feito o mais fácil, fugir como resposta ao impulso de sobrevivência. A resiliência para se levantar depois de cada tragédia diária e investidas continuadas. A integridade com que defende os valores democráticos e não sucumbe a outros. A empatia com que age e comunica. A determinação com que luta pelo seu país; A visão estratégica nos palcos políticos que não conhecia. A humildade com que partilha experiências e preocupações. A capacidade de inspirar esperança e coragem, incentivando todos a permanecerem fortes e unidos.
Alguém comentava comigo que não gostava de o ter cá, pela insegurança que trazia a sua presença. Compreendo que algumas pessoas se possam sentir assim diante da presença de figuras políticas estrangeiras, especialmente em contextos como o que se vive. Volodymyr Zelensky não se demorou. Trajava de verde, que entendo, bem ou mal, como a representação da natureza, a esperança, a renovação ou a resistência, todos símbolos que podem ter conotações relevantes em tempos de conflito. Se tivesse vindo o comediante, ou até mesmo o ator, tê-lo-íamos aplaudido e quiçá feito moda do seu outfit. Como líder político de um país em guerra, já não saímos à rua nem nos aproximamos.
Não censuro ninguém. Também eu me resguardei, mas em casa pensei: obrigada, Sr. Presidente, pela escolha de vida que fez. É a personificação de uma Liderança Servidora. Ironicamente, a série “Servo do Povo” foi um (bom) presságio da sua própria carreira política na vida real.
Gostando-se ou não das suas escolhas, espero que a sua personagem real sirva de inspiração para todos nós. Precisamos de mais líderes que se destaquem pela coragem, integridade e dedicação aos propósitos comum. Que possamos aprender com seu exemplo a importância de servir, de lutar pelo que é justo e de manter a esperança mesmo nos momentos mais difíceis. A sua história mostra que a liderança verdadeira vai além de títulos e cargos. Trata-se de fazer a diferença nas vidas das pessoas e na construção de um futuro melhor.