A recente eliminação do líder do Hamas é mais um sério revés para a estratégia do Irão, porque enfraquece cada vez mais o “Eixo da Resistência”, o principal instrumento do paciente plano iraniano para asfixiar Israel.

O regime dos aiatolas investiu fortemente no Hamas que, sob a orientação de Sinwar, e enquanto Jerusalém dormia à sombra dos muros defensivos e do Iron Dome, se tornou uma força poderosa e determinada, capaz de ameaçar verdadeiramente Israel, como tem sido demonstrado de há um ano a esta parte.

A República Islâmica forneceu tecnologia, mísseis, drones, armas, munições, instrução e enquadramento estratégico na minuciosa teia tecida pelos aiatolas em torno do Estado Judaico.

Tem-se discutido se o Hamas, árabe, sunita e membro da Irmandade Muçulmana, era verdadeiramente controlado por Teerão.

Alguns “especialistas”, que bebem nas narrativas iranianas, asseguram que não, sustentando que o movimento terrorista de Gaza tomava autonomamente as suas decisões.

É uma discussão artificial, cuja única finalidade é alimentar a falácia de que o Irão não é responsável pelas acções dos seus proxies. O sectarismo ideológico é uma máquina de negar factos.

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E o facto é que, com o apoio da Turquia e da Rússia, as clivagens na sociedade israelita, as lideranças duvidosas em várias organizações internacionais e países ocidentais (Guterres na ONU, Borrell na UE, partidos antissemitas em Espanha, Irlanda, Noruega e outras), com a percepção da tibieza da Administração Biden/Harris e com o entusiástico activismo da esquerda ocidental, fruto de campanhas mediáticas e universitárias pagas com os vastos fundos do Qatar, Teerão e os seus proxies sentiram que era o momento oportuno para avançar decisivamente contra o “Pequeno Satã” (Israel) e indirectamente contra o “Grande Satã” (EUA).

A decisão de mostrar o jogo e desencadear o ataque, pareceu aos aiatolas lógica e racional, porque nunca tinham estado reunidas circunstâncias tão favoráveis.

O ataque em várias frentes foi planeado de forma assimétrica, para neutralizar a reconhecida superioridade tecnológica israelita e desmoralizar, pelo terror e pela chantagem, a população israelita.

O que aconteceu é conhecido mas, passado um ano, o Irão está claramente a perder.

A determinação da resposta israelita foi muito maior do que os aiatolas antecipavam e tem sido capaz de persistir perante, não só as divisões políticas internas, mas sobretudo perante a enorme pressão de alguns dos seus chamberlânicos “aliados” e da constelação antissemita e cripto-antissemita que encontrou no alinhamento com o terrorismo islâmico, a oportunidade para verbalizar às claras, o fervente ódio milenar.

O Irão está a perder porque perdeu os líderes terroristas que controlava, perdeu vários generais, perdeu credibilidade, e sobretudo perdeu, ou está em vias de perder, os dispendiosos activos militares (Hamas e Hezbollah) com os quais contava como peões, bispos, cavalos e torres do seu xadrez.

Perdeu sobretudo a equação que tinha conseguido impor a Israel, segundo a qual, os seus tentáculos espalhavam livremente o terror e a violência no território israelita, mantendo a salvo o seu território e a sua população.

Neste momento há dominós a caírem na laboriosa construção dos aiatolas e, para Israel, abre-se agora a possibilidade de reverter um annus horribilis e refazer o jogo de xadrez, atacando directamente a rainha (os ventres moles das estruturas económica, militar e nuclear) e, eventualmente fazendo cheque ao Rei.

O nervosismo iraniano é notório.

Israel prometeu responder com um ataque “mortal, preciso e surpreendente” (Ministro da Defesa, Yoav Gallant) e, temendo verdadeiramente a resposta israelita ao seu ataque de 1 de Outubro, a República Islâmica tem agora ansiosamente sugerido que está aberta a um cessar-fogo, multiplicando os esforços diplomáticos. O MNE iraniano, Abbas Araghchi viaja incessantemente para várias capitais, reuniu-se com Guterres, apela à intervenção da ONU, e produz sucessivas declarações da intenção do Irão “evitar que o conflito se espalhe pela região”, ou seja, em linguagem clara, o Irão, que não tem feito outra coisa senão espalhar conflitos pela região, desde há várias décadas, pretende agora evitar a todo o custo uma resposta israelita que se adivinha robusta, apesar dos apaziguamentos da Administração Biden que, segundo alguns, poderá estar na origem da escandalosa fuga de informação que tornou públicos alguns aspectos do plano  de ataque israelita.

Com o mesmo objectivo, faz as habituais bravatas, avisando que “O inimigo sionista deve saber que se está a aproximar o fim da sua miserável existência” (CEMFA, Mohammad Bagheri), enviando também ameaças veladas aos EUA (esta Administração continua a ser percepcionada como fraca e hesitante pelos aiatolas) e explícitas a vários países árabes alertando-os para “não permitirem que o seu território espaço aéreo sejam usados para atacar o Irão” (Araghchi).

Este frenético gesticular do Irão, mostra que Israel está neste momento numa posição vantajosa e tem uma rara oportunidade para virar o tabuleiro e transformar o cenário geopolítico. Essa vantagem cresceu exponencialmente com o recente ataque contra a residência do 1º ministro israelita, prontamente atribuída por Jerusalém ao dedo iraniano.

O Irão apressou-se a negar e a tentar distanciar-se, o Hezbollah fez o mesmo, mas a conveniente narrativa da autonomia dos proxies já não é digerida por Israel, pelo que este atentado ou tentativa de intimidação legitima ainda mais o eventual alargamento da retaliação, que poderá alcançar alvos políticos de envergadura, na estrutura de poder dos aiatolas.

Com as eleições americanas a dominar o horizonte, está aberta uma janela de oportunidade para medidas decisivas contra o Irão, já que a actual Administração Biden/Harris, está mais focada na política interna do que nas consequências, a médio e longo prazo, das ambições agressivas do Irão.

É a hora do falcão para Israel, que tem os meios, o contexto e a legitimidade para agir decisivamente. Se não o fizer, o Irão sentir-se-á encorajado a persistir no seu objectivo e na sua estratégia. De resto, é dos livros, a percepção de fraqueza das lideranças americanas, apenas encorajará os inimigos do Ocidente, desde o Irão à China, passando pela Rússia e Coreia do Norte.

As apostas estão, por estes dias, muito altas.

Se o Irão se safar disto e conseguir que os seus proxies se mantenham de pé, pode realizar tranquilamente as suas ambições nucleares, desestabilizará ainda mais toda a região e representará uma ameaça directa aos aliados ocidentais, incluindo Israel e os países árabes.

Para Israel, uma acção decisiva pode mudar definitivamente as equações em vigor e impor uma estratégia de segurança baseada não apenas em muros e defesas tecnológicas, mas na capacidade ofensiva apostada na dissuasão dos ataques.

Foi sempre assim, não há nada de novo debaixo do Sol. Si vis pacem, para bellum, já dizia Vegécio, há quase 2000 anos.

Mas a oportunidade pode fechar-se brevemente. A dinâmica política americana pode colocar Israel em maus lençóis no que toca à liberdade de acção. Uma vitória de Harris, personalidade bastante hostil a Israel, como mostram o seu passado e os lapsus linguae que vai tendo quando sai do guião, restringirá seguramente Israel fazendo com que o futuro não seja auspicioso. A recente fuga de informação Top Secret pode ser mais um indício de que uns EUA sob a Administração Harris, não serão um aliado fiável.

E isso, que será muito bom para o “Eixo da Resistência, para o Irão, China e Rússia, não será bom, nem para o canário na mina (Israel), nem para o Ocidente, nem para os países árabes vizinhos. Estamos todos na mira, queiramos ou não.

Terá Israel a clareza para aproveitar o momento e tentar o KO?