Nos últimos tempos os desafios da falta de água têm marcado as notícias. Caso ainda não seja clara a preocupação com a gestão da água, a Agência Europeia do Ambiente veio esclarecer: os riscos relacionados com a água vão aumentar nos próximos anos, com secas e inundações a prejudicar o nosso ambiente e a custar à economia da UE dezenas de milhares de milhões de euros. Recordo, por exemplo, as inundações de 2021 que atingiram regiões na Bélgica, Alemanha, Holanda, Luxemburgo e França e que custaram cerca de 38 mil milhões de euros em danos e perdas.
Mas este não é o único desafio que temos em mãos: outra questão importante que enfrentamos é o stress hídrico, caracterizado pela procura de água em quantidade superior à disponível. Esta realidade, que já afeta 3 em cada 10 europeus, tem consequências desastrosas para a saúde humana, qualidade da água, segurança alimentar, produção de energia e muitas atividades económicas. Recentemente, visitei algumas explorações agrícolas no Alentejo, no sul de Portugal, e foi muito alarmante ouvir como as alterações climáticas e longas secas já estão a destruir os rendimentos de um ano inteiro de trabalho árduo dos agricultores. Foi possível ver como são importantes os investimentos em infraestruturas hídricas, especialmente no armazenamento e transferência de água.
Embora seja necessária uma abordagem sistémica para enfrentar a causa raiz dos riscos relacionados com a água – o aquecimento global – também precisamos de nos concentrar na otimização dos recursos hídricos disponíveis.
Sabia, por exemplo, que as perdas de água devido a fugas nas redes de distribuição de água atingem, em algumas partes da UE, os 40% e, em algumas regiões de Portugal, podem até superar esse valor? Nunca nos preocupámos porque a água era abundante de qualquer maneira — mas esses dias terminaram. É hora de exigir uma melhor gestão da água para ajudar a preservar este recurso precioso, garantir o acesso a todos os cidadãos, empresas e agricultores com os custos sociais mais baixos possíveis e garantir que a água não se torne um tema divisivo entre os Estados-Membros da UE.
Por isso, a Declaração para um Pacto Azul é um passo importante na direção certa – defende que a água seja reconhecida como uma “prioridade estratégica” e que “as perdas de água devido a fugas nas redes e o desperdício de água pela agricultura, indústria, famílias e todos os outros utilizadores (…) devem ser significativamente reduzidas”.
Por tudo isto tenho insistido com a Comissão Europeia para dar seguimento a este apelo com mais ação. Com outro verão de recordes a chegar, é irresponsável atrasar ainda mais a emissão da prometida Iniciativa da UE para a resiliência da água.
A boa notícia é que já temos tecnologias ao nosso dispor que poderiam melhorar significativamente a gestão da água e ajudar a aliviar o stress hídrico. Investir nessas soluções, garantir que nossa força de trabalho tenha as habilidades para usá-las e incentivar o seu uso representam grandes alavancas para aumentar a resiliência hídrica em toda a UE.
Para concretizar esta necessidade usemos como exemplo as redes de distribuição, onde tecnologias avançadas de modelagem e simulação minimizam as perdas de água simplesmente ajudando a gerir a procura de forma mais eficaz e detetar fugas mais rapidamente. Reduzir a perda de água é uma forma eficiente e eficaz de garantir a disponibilidade deste recurso precioso.
Outra forma de abordar os riscos relacionados com a água é através de uma melhor infraestrutura hídrica. Seja o problema a falta de água, o excesso de água ou a sua poluição: as tecnologias digitais ajudam a simular todos os cenários possíveis, garantindo que projetamos, renovamos e gerimos nossa infraestrutura da melhor maneira.
Esses são exemplos das ferramentas de que a UE precisa para enfrentar os desafios relacionados com a água. Como a água é, por definição, uma questão transfronteiriça, precisamos de uma estratégia comum e de uma abordagem da UE para uma sociedade inteligente em água. Além de enfrentar a causa raiz, este plano deve enfatizar o potencial das tecnologias para alcançar uma maior eficiência hídrica e introduzir o princípio da eficiência hídrica em primeiro lugar em todas as políticas.
A água é essencial para tudo o que fazemos e os apelos recentes da indústria, dos Estados-Membros, bem como de outros Membros do Parlamento Europeu, são claros: a hora é agora!
A água é uma questão que pode nos dividir – mas que também nos pode unir e apresenta uma oportunidade importante para melhorar a perceção dos cidadãos sobre a UE. Uma ação eficaz e bem projetada da UE aliviará o stress hídrico, com custos sociais mínimos, e mostrará aos cidadãos como as decisões tomadas em Bruxelas se traduzem em benefícios para eles. Como diz a Declaração para um Pacto Azul “a Europa pode transformar os desafios relacionados com a água em novas oportunidades para o desenvolvimento tecnológico, progresso social, novos empregos, competências e crescimento empresarial, respeitando o ambiente”.
Na qualidade de Membro do Parlamento Europeu e em nome daqueles que represento, estou a pedir que a água seja tornada uma prioridade-chave do próximo ciclo legislativo.
Comprometo-me, nos próximos tempos, a facilitar discussões, ouvindo os intervenientes em torno deste tema, e procurar garantir que a ação da UE seja construída de baixo para cima, e assim evitando os erros do passado.