Temos assistido nas últimas semanas a recorrentes distúrbios da paz social através de pessoas que se designam de “ativistas” pelo clima. Seja o atirar tinta a obras de arte ou membros do Governo, encerrar a segunda circular em Lisboa, colarem-se a aviões ou partir vidros de montras, aí estão eles prontos para lançar o seu caos inconsequente, com a cobertura atenta dos media.

Há, sem prejuízo de demais, duas razões pelas quais a desordem pública e o caos que pretendem provocar são manifestamente infelizes.

A primeira é que estes e os seus “movimentos”, na sua maioria patrocinados por partidos políticos da extrema esquerda, têm o efeito contrário ao que querem apregoar.

Nada vai mudar no mundo por uns jovens inconsequentes partirem montras no centro de Lisboa, e muito menos terão mais apoio popular por cortarem o trânsito na segunda circular e, através disso, impedirem trabalhadores de chegarem aos seus locais de trabalho, pais de levarem os seus filhos à escola ou doentes de conseguirem obter cuidados médicos. A história já colocou no lugar da irrelevância os anarquismos e as visões libertárias que inspiram, pela sua espetacularidade, espíritos mais inquietos e pouco capazes de contribuir para as soluções.

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A segunda questão, é o que tudo isto revela do ponto de vista da concepção do mundo destes “ativistas”, é a prioridade que estes grupos atribuem a “ativar” sentimentos negativos e chocantes, que pela sua natureza são contraditórios à transição climática que precisamos. É uma conceção de mundo em conflito revolucionário em vez de uma visão reformista.

Portugal é uma democracia, e um país onde vigora o Estado de Direito (apesar das muitas falhas deste Governo em capacitar os Estado para cumprir a sua função). Temos um Governo e uma Assembleia da República eleita pelos portugueses e que os representa, que legislam e decidem com que linhas se cose o nosso presente e o futuro de Portugal. Mas estes grupos, a quem a democracia é estranha e a representatividade alheia, preferem a ofensa, a desordem e o caos aos procedimentos democráticos procuram obter com o dano que provocam à paz social obter o que não conseguem obter por fins democráticos.

Quero com isto dizer que poderiam falar com o Governo e com os grupos parlamentares da Assembleia da República e tentar, como acontece frequentemente com tanta gente, convencer as instituições democráticas da justiça das suas pretensões e da necessidade de outras políticas e outra ambição climática. Podiam até recorrer à justiça, como de forma admirável e astuta fizeram outros jovens. Mas, porém, perante a sua incapacidade de participar no sistema democrático, optam pelo caos e pela desordem, que na verdade, apenas desonram a justa causa climática. Na verdade, tentar obter seja o que for desta forma demonstra apenas toques ditatoriais de uma minoria que quer impor, pela força da violência, uma vontade a uma maioria.

Não se salva o planeta deitando a democracia pela janela.

Podemos ainda questionar-nos sobre o limite destas ações: quando já não chegar a tinta, e a montra, onde conduzirá o radicalismo? Quando a violência dos atos e o risco das ações realizadas já não for suficiente, qual o nível a seguir a adotar? Qual o limite da ação radical e ativista? Penso que recordamos da história onde as convicções radicais nos levaram…

O aquecimento global tem de ser combatido, com urgência, mas não é com slogans nem com vidros partidos e muito menos com tinta verde. Também não é com o gás russo que Portugal continua impunemente a importar. É com menos impostos e incentivos fiscais para seja mais fácil e mais barato aos cidadãos tomarem opções mais sustentáveis. É eliminando as burocracias e as dificuldades de licenciamento na instalação de energias renováveis, é através do investimento nas centenas de tecnologias limpas que estão a surgir e é pelos incentivos certos nas políticas públicas. O combate às alterações climáticas precisa de argumentos e largos consensos, não será (como nunca é) pela atitude despótica de revolucionários de pacotilha. Precisamos de uma sociedade civil forte e vibrante, legitimamente eleita e representativa, que seja participativa e exigente, fiscalizadora da atividade governativa. Não precisamos de quem impede os portugueses de chegarem ao seu trabalho, ou que desrespeitam as instituições democráticas que tanto custaram aos portugueses a conquistar.