Scientia potentia est – conhecimento é poder. Uma verdade absoluta: quando aprimoramos o conhecimento em determinadas matérias, estamos mais bem preparados para deliberar nesse âmbito. E a saúde animal não foge à regra.

Enquanto peça central da saúde de todos os animais – e determinante também em questões de saúde pública –, a Medicina Veterinária (e o conhecimento que dela advém) é indispensável para assegurar uma vida saudável aos nossos animais.

É justamente o conhecimento neste domínio, sob a forma de informação credível e factual, que deve ser procurado e utilizado pelos tutores de animais. Podendo ser descrita como o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionados com a leitura e a escrita, assim como a sua prática produtiva, a literacia é, nas suas diferentes áreas, uma pedra basilar na sociedade atual. Na saúde animal, a literacia médico-veterinária cumpre o propósito de apetrechar os tutores de um maior nível de informação e autonomia que se poderão revelar cruciais para a saúde e bem-estar dos seus companheiros.

Para além de facilitar a tomada de decisão informada em certas situações, ajudará na identificação de sintomas de uma doença ou da importância de procedimentos médico-veterinários em casos específicos. Como tutores, estaremos, assim, mais bem preparados para agir segundo as necessidades do animal de forma mais eficiente.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Consideremos alguém com gatos e que aprendeu sobre os sintomas comuns da insuficiência renal felina, uma condição séria que poderá ter consequências graves e que afeta muitos felinos de idade mais avançada. Caso o tutor esteja capacitado de identificar os sintomas de forma precoce, tal como o aumento de sede e perda de peso, demorará menos tempo a entender a necessidade de recorrer a serviços veterinários. Como consequência, aumenta significativamente a probabilidade de sucesso do tratamento, podendo inclusivamente ser decisivo para prolongar a vida do gato.

Além de tomar decisões devidamente informadas que contribuirão para a rapidez e eficácia do tratamento, este tipo de informação terá também um papel importante na prevenção de doenças. Quando os tutores compreendem os riscos e as medidas preventivas necessárias, poderão intervir de forma mais preponderante na saúde dos seus animais, conseguindo evitar possíveis problemas antes mesmo de surgirem.

Um exemplo é a consciencialização sobre a importância da vacinação. Tutores que entendam a necessidade de vacinas regulares estarão mais inclinados a mantê-las atualizadas, protegendo-os contra doenças potencialmente fatais – como é o caso da raiva.

Por outro lado, estas competências adquiridas poderão ser também aplicadas em algo primordial para o bem-estar dos animais: a expressão dos seus comportamentos naturais. Existindo uma maior perceção destas necessidades comportamentais, entendendo e respeitando estas características inerentes, haverá uma maior predisposição a proporcionar o ambiente e o enriquecimento adequados, contribuindo positivamente para uma vida que se deve pautar pelo equilíbrio.

No caso dos cães, sendo seres marcadamente sociais, precisarão, desde muito cedo, de interagir com outros cães e humanos. Aqueles que conhecem esta premissa intraespecífica estarão mais conscientes da premência de garantir que os seus cães tenham oportunidades regulares de socialização. Contornam-se, assim, eventuais problemas comportamentais que poderiam resultar do isolamento.

Quanto aos gatos, deverá estar presente que afiar as unhas é um comportamento natural e essencial para o seu bem-estar. Como tal, devem ser proporcionadas as condições ideais para que o faça, através, por exemplo, de um arranhador orientado verticalmente – de preferência com o mesmo comprimento do gato em pé e esticado.

Mas há que salientar que todo este conhecimento não beneficia apenas os animais, mas também os próprios tutores. Quando conhecem os cuidados básicos e os sinais de alerta relacionados com problemas de saúde, os tutores serão capazes de detetar problemas precocemente, o que muitas vezes resultará em tratamentos mais simples e menos dispendiosos.

Por exemplo, se uma pessoa sabe de antemão que a falta de apetite poderá ser um sinal de que algo está errado, poderá reduzir o tempo na decisão de agendar uma consulta veterinária, potencialmente evitando a evolução de uma situação que exigiria um tratamento financeiramente mais avultado.

Num mundo em que a partilha de informação ainda se baseia muito no “passa-a-palavra” e que uma grande parte da procura pela mesma é feita em locais cuja origem é, com frequência, dúbia, a literacia médico-veterinária emerge como um requisito imprescindível para quem tem animais de estimação. Nunca é demais recordar que os tutores são cuidadores, mas sobretudo decisores – personificam a vanguarda na linha de defesa da saúde e bem-estar dos seus animais.