Tomei a difícil decisão de me afastar do Twitter (ou X, como é agora conhecido). Apesar da boa vontade em resistir ao êxodo, depois de todas as alterações (e muitos disparates) do último ano, na minha balança de prós e contras havia algo que pesou bem mais que tudo o resto: o bem-estar.

Não sou o único, e provavelmente não serei o último, a passar por isto. Mas o facto de sentir uma ansiedade quase palpável quando me ligava a uma rede social que vive e glorifica caos, onde contas (verdadeiras e falsas) espalham mentiras e ódio, amplificadas por um algoritmo que privilegia a desordem, o combate, o caos, já diz muito da experiência que estava a viver, culminando num ponto final nesta “relação” de quase quinze anos.

O Twitter sempre se posicionou como a plataforma da liberdade de expressão, um espaço onde as vozes se fazem ouvir, e onde as notícias se propagam a uma velocidade estonteante. Mas o que acontece quando essa liberdade se transforma numa cacofonia de ódio, desinformação e toxicidade? O que era suposto ser um fórum de discussão saudável torna-se um palco de batalhas verbais, onde cada tweet é uma granada lançada sem que se pense nas consequências.

Não me interpretem mal: o Twitter tem o seu valor. É uma ferramenta poderosa para a mobilização social, para a disseminação de informação e até para o humor e entretenimento. Mas como qualquer ferramenta de comunicação digital, o seu uso imprudente pode ter – tem – consequências nefastas e muitas vezes imprevisíveis. E é aqui que entram as mudanças recentes, cortesia de Elon Musk e companhia. A introdução de funcionalidades como a verificação de perfil, que nada mais serve de “pagar para aparecer, à monetização de tweets são apenas a ponta do iceberg. Estas alterações, embora aparentemente inofensivas, contribuem para uma cultura de exclusividade e elitismo que apenas serve para amplificar as vozes que já têm voz, em detrimento das que realmente precisam ser ouvidas e fazer-se ouvir.

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Mas o que realmente me fez afastar foi o impacto na saúde mental. Há algum tempo que comecei a notar que a constante exposição a opiniões extremadas, a desinformação e, acima de tudo, a negativismo, começaram a pesar no meu estado de espírito. Não é suposto que a experiência de navegar numa rede social cause cada vez mais ansiedade, irritabilidade e, em alguns momentos, até desespero. E não, não é apenas uma questão de “não levar as coisas a sério” ou “ignorar os trolls”; quando estamos imersos num ambiente tóxico, é difícil não sermos afetados por ele, por muito que achemos que estamos preparados para o fazer.

Como disse, não serei caso único. Basta olhar para estudos recentes que demonstram que o uso excessivo do Twitter pode levar a sintomas de depressão, ansiedade e outros problemas de saúde mental. Portanto, a pergunta que se impõe é: vale a pena?

O Twitter pode ter mudado, mas eu também. Por isso, para mim, a resposta é clara. Decidi que o meu bem-estar e a minha saúde mental são mais importantes do que qualquer tweet, qualquer discussão online ou qualquer quantidade de seguidores. E se isso significa ter de me afastar de uma plataforma que já foi um espaço de expressão e liberdade, então que assim seja.

Afinal de contas, prefiro optar pela serenidade mental ao invés da agitação digital.