Começa hoje, toda a gente sabe, o campeonato da Europa de Futebol. Este ano, pela primeira vez, participam 24 equipas, um número faraónico que vai transformar o certame no eléctrico 28 em hora de ponta. Cuidado com os carteiristas! Chegar ao Europeu era um feito, era Aníbal a transpor Pirenéus e Alpes com os seus trinta e sete elefantes. Agora uma selecção pode ser intimada judicialmente a participar no evento.
A ideia é inclusão e acredito que chegará o dia em que, em nome da inclusão e da tolerância, não haverá mais equipas eliminadas, nem sequer pontos, nem jogos, nada. Uma Pangeia futebolística em que, no final, todos levam a taça para casa. O importante é incluir. Graças aos esforços ecuménicos da UEFA, neste campeonato teremos oportunidade de comprovar a existência física de jogadores oriundos de países futebolisticamente imaginários como a Islândia e a Irlanda do Norte (George Best que me perdoe lá do canto do céu onde se encontra a beber que nem um condenado). Ragnar, Birkir, Haikur, Ermir, Mërgim, Hördur, Denethor, Aragorn, Éomer: os seis primeiros vão mesmo jogar no Euro, os outros são personagens do Senhor dos Anéis. Longe vão os tempos em que estes países só serviam para a costumeira goleada na fase de qualificação, para que os nossos jogadores acumulassem mais umas milhas e os jornalistas da RTP desencantassem um português perdido em Reiquiavique, casado com uma autóctone e com filhos com os multiculturais nomes de Olof Cunha ou Eidur Ribeiro.
Mas o caminho da inclusão ainda não está completo. Ainda sentimos a falta das Ilhas Faroé, o do Luxemburgo, de San Marino, de Malta, de Andorra e do Liechtenstein. Cabem todos num campeonato da Europa. Bom para a Panini que aumenta as cadernetas de tal forma que uma criança de dez anos, para acabar a colecção, tem de pedir um empréstimo bancário e pagá-lo até à velhice. No entanto, confesso que seguirei com particular atenção a equipa da Albânia. De certa forma, eles são uma espécie de portugueses com trinta anos de atraso, o que é grave porque os próprios portugueses estão trinta anos atrasados em relação a si próprios. É verdade: o português nunca coincide consigo mesmo. Veja-se o caso de Éder, que chega sempre à bola com um atraso milimétrico que, convertido em anos, dá as tais três décadas. A Albânia é o que já fomos, com a vantagem de que ainda é. Falta-lhe o talento futebolístico? Não o posso negar. Mas como não salivar com a promessa de uma Albânia treinada por um italiano? Vão jogar com ferrolho, portas blindadas, sistema de vídeo-vigillância e a linha de baliza ligada à central de alarmes da Prosegur. Entrar naquela grande área, só com passaporte albanês.
A minha obsessão albanesa é uma tardia homenagem a Eduard Abazaj, jogador que poderia ter perfeitamente seguido uma lucrativa carreira no crime, e que, em vez disso, fez uma pré-época no Benfica, em 1994, e jogou no Boavista e na Académica. Em honra do mítico Abazaj, português de Tirana, irei torcer pela Albânia.