“Assim como não há deputados de primeira e segunda, também não há grupos parlamentares de primeira e de segunda, coligações aceitáveis e outras banidas”,
Ferro Rodrigues quando foi eleito Presidente da AR, 2015
1 Devo a Jorge Sampaio a generosidade de um tributo público que honrando-me honrou a isenção inerente à dignidade única da Presidência da República.
Conto a história:
O Doutor Jorge Sampaio, na relação urbana e amiga que mantivemos, manifestou-me sempre consideração, que lhe retribuí com simpatia e disponibilidade. Como sentia e me cumpria.
Quando elaborámos o Manifesto Para a Educação da República, uma iniciativa minha, do José Urbano e do Carlos Fiolhais — o abaixo assinado que mais rapidamente recebeu o maior número de assinaturas em Portugal até hoje, José Mariano (como sinto a sua ausência) declarou não o assinar apenas por ser ministro) –, num tempo que era ainda de esperança, fui com os meus dois Amigos, o Professor Gomes Canotilho, que o assinara, e o então presidente da Ordem dos Engenheiros Francisco Sousa Soares, levá-lo ao Senhor PR. Lembro-me que fomos recebidos pela assessora Ana Maria Bettencourt, uma das duas papisas do eduquês (que depois se zangariam, talvez por cada uma ser mais obscurantista do que a outra), que enquanto nos conduzia à sala onde seríamos recebidos começou a contestar o nosso documento, o que levou o Professor Canotilho a dizer-lhe claramente que não estávamos ali para discutir com ela.
O Doutor Jorge Sampaio, no seu modo civilizado e acolhedor, foi-nos dizendo que apreciava os nossos esforços mas que aquilo que o preocupava eram os mais desfavorecidos. Reparem como estava mal informado, “trabalhado”, pela entourage mal escolhida. Tal como tínhamos combinado, respondi-lhe eu. E disse que os mais desfavorecidos eram precisamente a nossa preocupação. Entravam na escola sem nada, saiam da escola sem coisa nenhuma, irremediavelmente condenados ao destino com que entravam para ela. E era da facto assim resultado vê-se. E não resisti a dizer-lhe que os nosso filhos estavam bem, o meu até estava em Harvard. Era o tempo do facilitismo, do nivelar por baixo, do crime do “todos serem doutores”.
Tenho a certeza que o homem e intelectual Jorge Sampaio foi sensível aos nossos argumentos, mas não fez — não pôde fazer? — o que o Manifesto e milhares e milhares de portugueses das grandes figuras a figuras anónimas esclarecidas, lhe pediam.
Anos mais tarde e passadas algumas peripécias em que, suponho, de novo por causa de assessores de comportamento inqualificável, fiquei mais uma vez distante da posição de Jorge Sampaio, mas isso nunca impediu o nosso diálogo, e a para mim grata consideração que continuou a manifestar-me e eu a ele, claro, à pessoa e ao PR. São assim os homens bem formados e os democratas, é assim na Democracia. Numa sessão no Liceu Maria Amália de entrega de prémios aos melhores alunos (!), presidida pelo PR — e chego ao meu tributo — entrei com a minha mulher um pouco atrasado. Quando me sentei, Jorge Sampaio, o PR, interrompeu o seu discurso e fez-me uma homenagem expressiva: “Acaba de entrar o Dr. Guilherme Valente, com quem tenho algumas discordâncias em matéria de educação, mas de quem quero dizer que Portugal lhe deve muito sobretudo pelo seu combate pela cultura científica.”
Cito de memória mas garanto ter sido assim. A minha Mulher, matemática, sempre alheia destas coisas das políticas, disse-me, “Mas afinal tem uma grande consideração por ti”.
Retrato humano e político de uma Pessoa e da isenção que deve ter um PR, fosse o que fosse que nessa altura sentisse por mim depois da tal peripécia em que não podia estar do lado dele. E claro o retrato de uma grande generosidade.
2 Querem ver o inverso extremo revelador? Que eu nem devia misturar com esta história exemplar, mas é perfeito o contraste?
Querem o retrato perfeito do estado a que levaram, a que levámos a nossa República, a nossa democracia, a nossa decência, a nossa esperança, afinal?
Ana Gomes, candidata à PR, que continua aceite a sê-lo pelos órgãos constitucionais.
“Se for eleita PR não apertarei a mão a André Ventura”. Mas André Ventura não é um deputado da AR eleito democraticamente? É um delinquente, tem cadastro? Não foi escolhido pelo povo? E o PR não é o Presidente de todos os Portugueses?
Se repararem bem, Ana Gomes é outro Trump. Melhor dito: o MRPP, exactamente o mesmo como foi, é Trump. Lembram-se?
100 pontos para António Costa neste episódio.