1 A dimensão social está no grande pensamento liberal, desde logo no fundador. E foi nas sociedades liberais que primeiro e melhor foi politicamente realizada. Neste sentido, seria redundante a expressão “social-liberal”, não fora a confusão ocorrida na Europa – por peripécias histórico-políticas conhecidas – no uso dos termos “comunismo” e “socialismo”. Termos que no mundo anglo-saxónico designam uma e a mesma ideologia totalitária*.

Há, portanto, uma destrinça histórica fundamental a fazer entre o europeu “socialismo/social-democracia”, que é parlamentarista, pluralista e cioso das liberdades, e o “leninismo/comunismo/bolchevismo”, que degradou e atraiçoou aquele socialismo e até, talvez, para muitos, em alguma dimensão, o pensamento de Marx. Para não falar mesmo da nossa tradição socialista pluralista, e estou a pensar em Antero (como um amigo e mestre agora me lembrou).

Abstraindo da doutrina, do mesmo modo que há socialistas e socialistas, o mesmo se passa com os liberais nas suas expressões partidárias: os liberais canadianos são muito diferentes dos liberais japoneses, ou os holandeses dos ingleses ou mesmo dos alemães e etc.

E para os que se assustam com o papão, martelado por BE, PCP, Livre e este PS desnaturado de Costa, do perigo em termos menos deste Estado invasivo, sufocante, paralisador, gerador da pobreza, lembro o que talvez poucos tenham presente: a presença do Estado na vibrante economia e sociedade da Suécia era/é muito menos intervencionista/estatizante do que na França gaullista e… hoje!

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2 Há, portanto, afinidade próxima entre os partidos ditos na Europa “socialistas” (adversários dos comunistas) e os liberais, seja qual for o nome que adoptem. É natural, por exemplo, a aliança actual na Alemanha entre o partido social-democrata (irmão do nosso Partido Socialista herdado de Soares) e os liberais. Realidade que remete, se quisermos usar a velha classificação esquerda/direita/centro, para o grande bloco que consubstancia a democracia-liberal, onde os partidos chamados Liberais estiveram sempre na esquerda… liberal.

Área dentro da qual a negociação, isto é, o compromisso político e o entendimento governativo são possíveis, como lapidarmente explicou Sérgio Sousa Pinto na lição brilhante de pensamento político e História que deu na televisão. E é por isso que a entrega de poder de Costa aos inimigos da liberdade e do progresso é politicamente imperdoável.

E é a esta luz que se deve interpretar o impulso de vergonha e aparente arrependimento do PM perante a evidência dos argumentos de Cotrim de Figueiredo: “Também sou um liberal” (cito de memória).

3 Quanto ao delírio, à libertinagem das novas causas ditas societais, cavalgadas e promovidas pelos órfãos do marxismo – identitarismo e política de género e invenção de racismo e outras barbaridades obscurantistas –, com as quais muitos liberais incautos se confundem, nada têm de liberalismo.

Ferem, bem pelo contrário, princípios nucleares das sociedades democrático-liberais: a liberdade de pensamento e de expressão e os princípios básicos do Estado de direito democrático, eles próprios instituídos pelo liberalismo. Violam a evidência científica e, materialmente, a natureza humana, com experimentações físicas mengelianas.

Os liberais têm de estar na frente de mais este combate mortal, agora aos novos obscurantismos, totalitarismo porventura ainda mais anti-humano e apocalíptico.

Alguém que se pense liberal não pode fazer… tudo! Por exemplo tomar drogas se quisesse. E não poderia menos ainda por se pensar liberal. Refiro este exemplo por mostrar expressivamente o que um liberal não pode fazer nem ser.

Tal afirmação ofende a consciência e responsabilidade humana, também a inteligência, condições da liberdade, no cerne do ideal e do projecto liberal. Ser liberal é ser responsável, pessoal e socialmente.

É imperativo não confundir os jovens, à procura de um ideal político, numa era de tanta ignorância e confusão.. Prudência, pois, nas graçolas.

4 A IL é um fenómeno interessante que precisa no entanto de ganhar substância, precisão teórica, e implantar-se no terreno também com uma acção pedagógica sobre os princípios fundadores essenciais e fecundos do liberalismo. Se quiser sobreviver e firmar o partido liberal forte que urge em Portugal.