Todos eles banhados em escândalos, Guterres foi reeleito e depois fugiu do pântano que criara, Sócrates foi reeleito e a bancarrota expulsou-o, Costa destruiu economia, educação e saúde e deram-lhe maioria absoluta. Os media têm um amor cego pela esquerda. E os eleitores, querem mais do mesmo?
Um PM Socialista. Governou «à peça», como disse Marques Mendes, pusilânime, sem uma decisão que contribuísse para o progresso do país. E em 16 de Dezembro de 2001, António Guterres demitiu-se, porque senão, dizia ele, «o país cairia inevitavelmente num pântano político», subentendendo que não era onde o país já estava. Os eleitores tinham-no elegido duas vezes, e tinham-se enganado outras tantas.
Seria de esperar que, tão cedo, não houvesse nada parecido. Mas houve. Com a ajuda de Durão Barroso, que preferiu um alto cargo internacional à chefia, aqui, de um governo; de Santana Lopes, réu de algumas trapalhadas inflacionadas pelos media (e que, de qualquer forma, eram brincadeiras de meninos comparadas com o que viria a seguir e o que acabámos de ter agora); e de Sampaio, crente em que as instituições, não estando preenchidas por socialistas, não funcionavam regularmente – tendo em conta tudo isso, chegou José Sócrates. Já fora promovido como comentador na Sic. E o atual director de informação da RTP distinguiu-se na campanha que pretendeu convencer o povo de que Santana Lopes deixara um défice público, não de 2%, mas de 6%, o que permitiu a Sócrates o brilharete de baixá-lo para… 2%
Dois PMs Socialistas. Aclamado como «menino de ouro do PS» na biografia que uma jornalista fez muito a propósito sobre ele, chegou então José Sócrates, o protagonista «dinâmico» do PS, o «animal feroz do PS», a nova maravilha, segundo os media. Tomou posse em 12 de Março de 2005 e governou por grosso, com tantas decisões que contribuíram para a falência do país, e tantos negócios obscuros, de que ainda hoje estamos a descobrir os contornos. E, no entanto, 36,5% dos eleitores pediram-lhe para governar mais. E em 23 de Março de 2011, cometida a bancarrota, acordadas e assinadas as condições de socorro externo por FMI, BCE e UE, José Sócrates demitiu-se. E, em obediência a um antigo hábito socialista, culpou a oposição «da grave situação para que o país acaba de ser atirado», que, segundo ele, não fora culpa dele, que prometera «rigor, transparência e verdade» nas contas públicas.
Seria de esperar que tão cedo não tivéssemos nada parecido. Mas tivemos. A Sic e Pacheco Pereira já haviam promovido o novo grande valor socialista, António Costa, como comentador semanal. E os media inculcavam diariamente que as dificuldades económicas, os impostos, o desemprego, a dívida eram, não culpa da agremiação causadora da bancarrota, a mesma que negociara e assinara os duros termos do socorro por FMI, BE e UE, mas sim de quem remendara o buraco. E os eleitores, culpando dos anos de chumbo, não quem os causara, mas quem os sarara, e em número suficiente de zangados ou indiferentes para que o governo PSD/CDS ficasse em cheque, permitiram que Costa, «o hábil», o antigo ministro e braço direito de Sócrates que nunca notara nada de estranho, formasse governo com os extremistas de esquerda e o cadáver do comunismo.
Três PMs Socialistas. Empossado em 26 de novembro de 2015, Costa iniciou o primeiro mandato. Tremendo de horror à mera sugestão de reformas, como ele próprio diria, governou, já não «à peça», mas com três objetivos apenas: ficar, dar lugares aos seus, e criar dependentes.
Com o auxílio de Marta Temido, na pasta da Saúde, e em obediência às taras ideológicas da esquerda, Costa dedicou-se então a destruir o Serviço Nacional de Saúde. Começou por destruir três parcerias Público-Privadas, as dos hospitais de Braga, Loures e Vila Franca de Xira que eram os melhores do país em termos de serviço e despesa, e são hoje uma ruína onerosa. Tinha, agora, um ministro que, perante o caos, ciciava que «estamos a trabalhar», e um CEO (santo Deus!) que prometia que o caos de Novembro ia ser ainda pior.
Com a ajuda de Brandão Rodrigues e João Costa dedicou-se a destruir a Educação Pública. Destruiu os contratos de associação com as escolas privadas (que por menos dinheiro davam aos seus alunos bilhete para o elevador social); desclassificou os curricula, para que toda a gente passasse de ano, a bem da ignorância e da propaganda sobre «êxito» escolar; maltratou ou esqueceu os professores, e conseguiu a paralisação prática do ensino.
Com a ajuda de Pedro Nuno Santos decidiu nacionalizar e depois privatizar a TAP, destruindo-a e ao hub de passagem (para talvez, caso tivesse ficado, entregá-la a Lacerda Machado, porque «o dinheiro», disse, seria o menor dos critérios); prometeu 26 000 fogos até 2024, e entregou 1400 até hoje, 5 por cada 100 promessas; fez uns anúncios sobre ferrovia, de entre os quais a maior concretização terá sido a compra a Espanha de sucata ferroviária cheia de amianto por 1 milhão de euros.
Com Ana Mendes Godinho destruiu o leque salarial até fazer que o salário mínimo quase corresponda ao salário médio.
Com a ajuda de Mário Centeno destruiu a economia e anunciou «contas certas». E que são as «contas certas» socialistas? São Orçamentos de mera propaganda, seguidos de cativações que deixam todos os serviços públicos incapazes de prestar serviço, e o investimento público em baixa mais pronunciada do que nos tempos da troika; são o aumento da dívida pública em termos absolutos, disfarçado de diminuição da dívida pública em percentagens que mudam com o vento; são o aumento da despesa corrente à custa da asfixia fiscal. Com Centeno, uns quantos ministros da Economia irrelevantes, e o resto das sete dezenas de governantes fez do PRR um fundo para negociatas, interesses e controlo socialista, e acelerou o caminho de Portugal para mais pobre país da UE.
Em todos os casos deu esmolas para criar vassalos e conformados; e, a cada vez, atribuiu a pandemias, à inflação, ao BCE, às guerras, a Passos Coelho, aos supermercados, aos senhorios… atribuiu a quem calhou os resultados do desgoverno. E os media fizeram eco.
No dia 7 de novembro, ainda e sempre surpreendido com os indícios de corrupção e trapalhadas entre os seus homens e de Sócrates, todos muito próximos e da mais estrita confiança, António Costa demitiu-se – menos «obviamente», diz ele, do que «por fim», diremos nós.
Será de esperar que não tenhamos a seguir nada de parecido com isto. No entanto…
Quatro PMs Socialistas? «Quem vem lá?», diria a guarda. Pois não sabemos. Até pode ser gente séria e com mais currículo do que esse de federações, distritais, concelhias e secções partidárias, gente que tenha feito alguma coisa na vida, trabalhado em algo de produtivo e útil. Mas não sabemos.
No dia 30 de outubro de 2008, uma jornalista do DN entrevistou Patrícia Gaspar. Patrícia Gaspar chefiava a Prevenção Civil, e não tinha feito nem viria a fazer nada de notável. Mas a jornalista abria assim a peça: «Chega em passos firmes, determinada. A farda justa azul naval assenta perfeita no corpo elegante e o cabelo solto é logo de seguida apanhado num longo rabo-de-cavalo. “São as ordens de serviço.”» É um textículo sem interesse, mas exemplar do zelo minudente, do encanto babado, com que os media olham e aclamam tudo o que venha da esquerda – as fanáticas do Bloco como folclore, a assistência socialista como vida.
Depois de António Guterres dar provas evidentes e cabais de incompetência, a comunicação social não parou de elogiar as suas enormes qualidades e augurar-lhe (e desejar-lhe) presidências.
Nos últimos tempos da governação de Sócrates, a escassos meses da falência, ainda um destacado jornalista económico declarava que «os fundamentais» da economia portuguesa estavam óptimos.
Na campanha eleitoral de 2011, que afastaria os socialistas, quando Passos Coelho revelou que Sócrates admitira 600 novos funcionários públicos na derradeira semana, dois jornalistas culparam, não o abuso de Sócrates, mas Passos Coelho por ter «faltado à promessa de não fazer uma campanha de escândalos». Pouco antes da sua prisão um futuro diretor de informação da televisão avisava-o de que estava a ser investigado. E com Sócrates na prisão, uma televisão chamou para comentador Santos, seu antigo ministro das Finanças e bancarrota.
Agora, saído o habilidoso Costa, já a Sic promove o ex-ministro das Infraestruturas. O homem que se notabilizou por boutades, decisões ruinosas e promessas falsas, já comenta na TV e é, para os media, a luz do futuro.
E nem preciso de supor o grau de admiração, de desvelo, de admiração e adjetivos que acompanharão a eleição do sucessor de Costa.
E os eleitores? Não sabemos.
Poderiam escolher um governo de centro-direita reformista e com tendências liberais, apoiado oficialmente ou não pelo Chega, com um plano de futuro. Mas não sabemos.
A Sócrates, já evidentemente questionável, reelegeram-no.
A António Costa, depois de destruir saúde, educação, economia, habitação, serviços públicos, deram uma maioria absoluta.
Não sabemos quantos deles são eleitores potenciais apenas, nem quantos vão ser eles de facto nestas eleições antecipadas. Não sabemos quantos deles são dependentes veneradores e obrigados. Não sabemos quantos, vivendo numa choldra, no entanto temem acima de tudo a mudança. Não sabemos quantos pensam que «os políticos são todos iguais» por mais persistente e grave que seja a corrupção num dos lados. Não sabemos quantos se bastam com uma esmola e sonhos de «apoios do Estado». Não sabemos quantos são suficientemente iletrados para ignorarem ainda que o «dinheiro do Estado» é apenas o dinheiro deles, e que o «dinheiro do Estado» que um político rouba, rouba do bolso do contribuinte.
Não sabemos. Por isso, não é certo que não tenhamos, já em Março de 2024, o Quarto PM Socialista. O que seria trágico, sem dúvida. Mas democrático e, de certa forma, um descanso. É que ficar a saber, ter a prova provada, de que a doença é terminal, proporciona alguma medida de paz.