O mundo moderno tem confundido, estrategicamente, “fitness” com saúde, o que só faz sentido se esta implicar um desempenho harmónico com vista a um objecto “liberal”. Mas o último impõe, presentemente, uma violência ao corpo, muitas vezes expressa em sofrimento psicossocial. É a resultante de um “fitness” que se ocupa, quase exclusivamente, de actividades de alto impacto, comummente grupais.

Na medida em que o exercício altamente impactante transtorna a postura, ele é, virtualmente, deletério para as articulações. Mas este é um efeito só assimilável a longo prazo, defensado, usualmente, por modelos teoréticos dogmáticos e fortemente abstractos; estes são atacados, cruamente, pelo paradigma “positivo”, que coloca a tónica nas variáveis locais. Mas o modelo “postural”, “estrutural”, não impõe o abandono da componente da força e da função, somente aconselha à efectuação do exercício no contexto de uma “postura” inibida, coisa que, não só liberta a musculatura “agente”, como escusa as compensações da musculatura “posterior” (que é, geralmente, hipertónica).

O trabalho de flexibilidade é, assim, crucial, dando à cadeia muscular posterior a tolerância necessária ao exercício. Mas convém que o delongamento não seja igualmente excessivo, porque estaríamos a dar mais liberdade à deformação. Não se trata, portanto, de alongar vs. reforçar indiscriminadamente, trata-se de cambiar um equilíbrio entre a flexibilidade dogmática e a pujança da ciência. Só este pode harmonizar as forças, permitindo que a actividade física não tolha, crescentemente, o alinhamento articular. Ora, logicamente nos parece contraproducente efectuar desportos de grupo, exercícios esforçados, e o que quer que não possua uma dimensão simultaneamente “clínica” e idiossincrática. Higiene postural, práticas como natação ou o imbecilíssimo CrossFit, o Pilates colectivizado, tudo parece insuficiente face ao exercício “dialéctico” e individual que atenderá às qualidades posturais adjacentes ao desempenho melífluo das obrigações hodiernas.

Os “positivistas” tentarão demonizar a lógica da flexibilização, espargindo a sua evidência. Mas esta não escusa todo o arranjo preparatório, de componente tal-qualmente neurológica, perfeitamente compatível com a função. Aliás, o treino do controlo motor, igualmente defendido pelos “positivistas”, é também função de um prazo delongado, para o qual não há total evidência de vantagens.

O equilíbrio em causa difere, obviamente, de caso para caso, mas estamos longe de assumir que a postura “ideal” é alcançável. Há, apenas, que ater uma atitude dinâmica, que expressa a necessária compatibilização epistémica de paradigmas, ao invés de recriar consecutivamente uma dualidade repleta de crispações na compreensão do corpo-mente.

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