Vivemos num pequeno País quando olhamos para a sua dimensão, mas muito grande atendendo às enormes assimetrias geográficas, sociais, económicas e, sobretudo, culturais. Portugal é enorme em vários sentidos e, nos últimos anos, ficámos ainda maiores pela forte procura internacional que nos coloca num dos Países mais desejados para se viver e trabalhar.

Com a pandemia, o País cresceu ainda mais. A pandemia veio demonstrar a muitas empresas e pessoas que os modelos híbridos de trabalho são uma boa solução para algumas profissões. Este modelo foi testado e demonstrou bons níveis de produtividade, trazendo ainda mais profissionais para o nosso País. Por outro lado, gerou uma nova mobilidade laboral que não implica necessariamente uma mobilidade física. Isto poderá implicar para muitas empresas uma revisão das suas políticas de recursos humanos porque podem, para algumas funções, contratar um colaborador independentemente da sua nacionalidade ou do continente onde resida.

Neste sentido, a pandemia abriu a porta a mais modelos híbridos de trabalho, em particular para algumas profissões que podem ser facilmente executadas à distância. Atualmente, existe uma nova mobilidade que implica uma mobilidade profissional sem implicar uma mobilidade física. Tomemos como exemplo um programador português que, antes da pandemia, trabalhava em Barcelona para uma empresa espanhola, estando fisicamente no escritório e com um apartamento arrendado em Barcelona. Hoje, essa mesma pessoa pode desempenhar a mesma função a partir de Portugal, beneficiando de um aumento de rendimento líquido não só por manter o mesmo contrato de trabalho, mas também por já não ter os custos elevados de alojamento que tinha em Barcelona. No caso da empresa espanhola, esta já não precisa de um escritório tão grande para os seus colaboradores porque muitos passaram a trabalhar em casa.

Além disso, a pandemia criou também a vontade em muitas pessoas de viverem em espaços maiores e mais afastados das grandes cidades. Isto tornou o País ainda maior num sentido, e mais pequeno em distância. Por vezes falamos do interior de Portugal como se fosse um local longínquo e quase inacessível quando, na realidade, qualquer local do interior de Portugal está a menos de 2 horas de Lisboa, Porto, Faro ou Espanha. É curioso olhar para o mapa de Portugal e perceber que o ponto do interior mais distante de uma grande ou média cidade em Portugal é inferior à distância que existem entre as extremidades de muitas cidades do mundo (pensemos em São Paulo por exemplo).

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Estão criadas as condições ideais para que o novo Governo, apesar de ter perdido uma Secretaria de Estado dedicada ao Interior, crie programas sérios e atrativos, com uma discriminação positiva para as pessoas e para as empresas que decidam ir viver para zonas do Interior de Portugal, relativizando o “conceito” de distância geográfica.

Vários países, como os EUA ou a Suíça, já têm hoje níveis de tributação diferentes em função das suas regiões e províncias. Seria muito interessante usar estes exemplos e aproveitar o atual contexto para acelerar o desenvolvimento do Interior. Poderiam ser implementados programas que concedessem, por exemplo, 50% ou 75% de redução de impostos às pessoas e empresas que fossem trabalhar para o Interior de Portugal. Com isto seria criada uma situação de benefícios mútuos quer para as pessoas, que poderiam pagar menos impostos, viver em casas maiores e menos caras e ter, provavelmente, uma melhor qualidade de vida; quer para as empresas, que teriam igualmente benefícios fiscais; e até para o país na sua globalidade, que passaria a ter um melhor equilíbrio na repartição geográfica da sua população e a ter um desenvolvimento real do Interior que progressivamente teria mais habitação, mais escolas, mais hospitais, mais empresas, mais comércio, mais ginásios, e talvez uma população mais feliz.

As eventuais perdas fiscais para o Governo que derivassem da redução de tributação das pessoas e das empresas que se instalariam no Interior, seriam mais do que compensadas pelo desenvolvimento económico que aí se criaria. Já para não falar em benefícios de sustentabilidade profundos que poderiam resultar daqui e que poderiam ser muitos como, por exemplo, a redução do trânsito e da poluição nas grandes cidades ou a oportunidade de criar habitações novas e com princípios de sustentabilidade pensados na génese dos projetos e da construção, isto porque é mais fácil obter benefícios energéticos, acústicos, etc. na construção de raiz do que na reabilitação.

Tudo na vida tem o seu tempo e o tempo certo para desenvolver o Interior é este.