Está agendada para o dia 3 de Fevereiro de 2024, uma manifestação de carácter racista e xenófobo em Lisboa. A mesma, vai contar com tochas e archotes de intimidação. Nacionalismo e patriotismo são coisas diferentes e este tipo de manifestações não pode ser ignorada numa sociedade moderna e que se quer inclusiva.

O nacionalismo teve origem no início do séc. XIX como reacção às pretensões universalistas do liberalismo. O seu objectivo foi preservar a história e tradições culturais contra uma política liberal que reconhecia as pessoas como indivíduos.

A declaração universal dos direitos humanos diz que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e que podem invocar os seus direitos e liberdades sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política, origem nacional ou social, fortuna, ou local de nascimento”.

A ideia de voltar atrás no tempo e estabelecer um horizonte moral partilhado, definido pelo credo religioso e racista de antigamente, é um fracasso antes sequer de começar. Esta comunidade nacionalista-populista tem dificuldade em aceitar a diversidade na sociedade e este convite à violência e opressão é apenas tribal e ritualístico. A tendência para desvalorizar este assunto, abre o caminho à intolerância e aos partidos de extremos antidemocráticos, que reclamarão para si esse tema.

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O paradoxo de Karl Popper, é cada vez mais actual, e argumenta que uma sociedade tolerante deve ser intolerante com a intolerância de maneira a proteger os seus princípios e evitar o aparecimento de ideologias opressivas.

O liberalismo, por sua vez, é um meio para governar sobre a diversidade por praticar a tolerância e respeito, mas também por abdicar do impulso de obrigar os outros às nossas crenças. É assente na dimensão pública das pessoas e não da dimensão privada ou da crença mais profunda A pluralidade e permissividade são características de sociedades liberais e assumem uma vocação universal, na premissa da igualdade humana e na superioridade da Lei.

O racismo e xenofobia, representam um desafio significativo para os princípios centrais do liberalismo na medida em que corroem os valores fundamentais de uma sociedade liberal ao perpetuar desigualdades sistémicas e negar a certos grupos acesso igual às oportunidades. Por essa razão, o compromisso antirracista é também o compromisso Liberal pois só promovendo um tratamento igualitário, justiça e dignidade individual, nos poderemos intitular verdadeiramente liberais.

É premente a necessidade de participação activa e diálogo para abordar preconceitos enraizados (e outros recentes) e promover a inclusividade. O antirracismo não é apenas um imperativo moral, mas uma necessidade prática para o bom funcionamento das democracias liberais.

Não é, porém, com contra manifestações de grupos também eles radicais, que se consegue uma solução. Encontrar o equilíbrio certo é essencial para que uma sociedade aborde efetivamente o racismo sem comprometer outros valores. A abordagem a ter deve basear-se na inclusão e na aprendizagem da língua e cultura portuguesas. Não devemos cometer o erro de desumanizar e tratar os imigrantes como párias da sociedade. Todos diferentes, todos iguais, já foi um lema, e estas ocasiões servem também para reforçar que nunca devia ter deixado de o ser.

A questão da imigração não será resolvida através do ódio, do racismo ou da xenofobia, mas sim de mecanismos activos de inclusão destas pessoas na sociedade portuguesa com racionalidade e competência. A lei continua a existir e deve ser aplicada de maneira igual e exemplar a todos os seres humanos em Portugal

O eventual custo monetário destas políticas de inclusão e acesso aos serviços públicos será recompensado a longo prazo por uma sociedade mais coesa, justa e productiva, sem os graves problemas existentes noutros países europeus que não foram capazes de o fazer. A exclusão social e a guetização de comunidades só conduzem ao ódio e repúdio pelo país de acolhimento, o que a longo prazo será negativo e incontrolável. O ódio, a radicalização ou o terrorismo, advêm da pobreza, do bullying, do racismo e da exclusão social. Não advêm da cor da pele, da língua, da  religião ou do local de nascença.

Naturalmente que, como em qualquer sociedade, existem maçãs podres, mas não é por isso que se deita o cesto fora. Deve Portugal criar mecanismos para excluir as maçãs podres e nós, enquanto humanistas e universalistas, devemos acolher estas pessoas, criando condições para que vivam em Portugal felizes e com amor ao país.

A conexão intrínseca entre combater a discriminação e sustentar os valores da democracia liberal ao promover medidas antirracistas, reforça os princípios fundamentais de igualdade, justiça e direitos individuais que formam a base do pensamento liberal.

Reconhecer, abordar e combater o racismo torna-se não apenas um imperativo moral, mas um meio de fortalecer a resiliência e legitimidade dos sistemas democráticos liberais.