Portugal reagiu tarde. Os portugueses manifestaram grande sentido cívico ao acatar quase de imediato as medidas preventivas preconizadas pelas autoridades sanitárias e, concretamente, pela Direção-Geral de Saúde.
A “quarentena” não foi, como deveria ter sido implementada em Portugal na devida altura, apesar das vozes nesse sentido que se plasmaram, sobretudo, nas redes sociais.
O “estado de emergência”, que foi declarado tardiamente, poderia ter sido evitado se a quarentena (isolamento de indivíduos sadios pelo período máximo de incubação da doença, contado a partir da data do último contato com um caso clínico, ou portador, ou da data em que esse indivíduo sadio abandonou o local em que se encontrava a fonte de infeção), se o estado de emergência, dizia eu, tivesse funcionado desde logo.
Dois dias antes do Conselho de Estado o primeiro ministro reconhecia a entrada de dezenas de camionetas em Portugal com turistas vindas de Cádis, depois da atracagem de uma embarcação de cruzeiro nessa cidade espanhola.
Todos assistimos ao regabofe da chegada de cidadãos estrangeiros e portugueses nos nossos aeroportos, fronteiras terrestres e portuárias, sem qualquer espécie de contenção, ao espetáculo das esplanadas de Lisboa e do Algarve pejadas de turistas e das praias de Carcavelos repletas de “veraneantes”, dos caravanistas espanhóis no Alentejo, enfim, a todo um conjunto de alarvidades.
O Estado de Emergência proposto pelo Presidente da República no dia 18 de março, ouvido o Conselho de Estado, e depois aprovado pela Assembleia da República, foi adotado pelo Governo Português com efeitos realmente efetivos a partir do dia 23 de março.
Tarde e, eventualmente, desnecessário se as autoridades portuguesas, tivessem, como Macau, implementado a quarentena para todos os cidadãos portugueses ou estrangeiros que, a partir do dia 10 de março (data em foi registado o primeiro infetado português, a cidadã da Madeira proveniente de Milão), se não mesmo antes, entrassem em Portugal Continental e Insular pelas fronteiras terrestres, aéreas ou marítimas, o que não foi feito.
Perante uma crise sanitária como esta não estamos em tempo de condenar, mas reservamo-nos o direito de criticar. A seu tempo os portugueses avaliarão a eventual leviandade dos procedimentos da tutela (a que acresce a figura do primeiro magistrado da nação), e se foram ou não adequados à urgência, dimensão e natureza da calamidade.
Relembro que a pandemia do COVID-19 é uma doença respiratória aguda causada pela corona vírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2). A doença foi identificada pela primeira vez na cidade de Wuhan, província de Hubei, República Popular da China, em 1 de dezembro de 2019, num grupo emergente de pessoas com pneumonia de causa desconhecida, relacionadas principalmente com vendedores ambulantes que trabalhavam no Mercado de Frutos do Mar de Huanan, onde também se vendiam animais vivos.
Foi discutido se o incidente constituía uma ameaça à saúde pública em 22 de janeiro de 2020 por um comité de emergência organizado pela Organização Mundial da Saúde (doravante OMS), mas a decisão foi adiada por falta de informação. Em 23 de janeiro, a OMS decidiu não declarar o surto uma Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional. Entretanto, em 30 de janeiro, a OMS acaba por declarar o surto como uma emergência, pedindo uma ação coordenada de combate à doença a ser delineada pelas diferentes autoridades e governos (o que só mais tarde pediu António Guterres da ONU). Finalmente no dia 11 de março, a OMG declarou o surto uma Pandemia.
Prevalece na comunidade internacional a teoria da conspiração de que foi a “intelligentsia” chinesa que criou o vírus para debelar os propósitos da administração Trump de boicotar comercialmente a China. Se assim foi, também os EUA são indiretamente responsáveis porque ameaçaram um “império” milenar que não olha a meios para atingir os seus fins. Ou a da conspiração dos Illuminati contra o mesmo Trump no sentido de o descredibilizar, a acreditar que venham a ser os EUA o país mais afetado com a doença como já aliás se verifica. É verdade que os “danos colaterais” para certos grupos (sociedades “secretas”, militares, financeiras ou religiosas, por exemplo) não parecem constituir qualquer espécie de prurido moral ou emocional. Já foi assim na “invenção” da guerra do Iraque e da “primavera árabe”, com o consequente genocídio e fluxo migratório.
Com efeito, a China já não tem praticamente casos de novos infetados e acredita-se que a vacina seja descoberta pelos chineses antes de todos, nomeadamente os norte-americanos, ingleses e alemães, o que também não deixa de ser curioso uma vez que quem supostamente tenha “fabricado” o vírus também tenha a possibilidade privilegiada de desenvolver o antídoto.
Os efeitos mundiais da pandemia incluem naturalmente e principalmente o genocídio dos mais velhos, quase que parabolizando a ideia de um ministro japonês das finanças que não há muitos anos afirmava que o sistema da segurança social só teria sustentabilidade se morrerem mais idosos.
É caso para dizer que este “mundo não é para velhos”, parafraseando o filme dos irmãos Coen de 2007 “Este País Não É Para Velhos”.
Outra razão me faz escrever este texto. É que estão a fazer passar na opinião pública que o momento não é o de criticar e de desestabilizar, que todos temos que estar em “sintonia” no combate para não desbaratar sinergias.
Discordo, mesmo nos piores conflitos mundiais a que agora acresce a nova realidade de uma guerra biológica devemos permanecer em estado de alerta e não nos deixar amordaçar porque é isso que o poder dominante instituído, nacional e internacional, também ele responsável por esta pandemia, seja na “origem”, seja no negócio da prevenção e da cura, seja na geoestratégia política, seja no genocídio dos idosos, intenta ao reduzir os direitos e garantias dos cidadãos, ao limitar a sua capacidade de intervenção política e de participação cívica, enquanto condição inalienável e indissociável do exercício da cidadania.
A guerra que hoje os cidadãos de todo o mundo enfrentam não é “meramente” biológica é também económica e mesmo humanitária no sentido lato.
Recomendo, no recato do lar a que ainda estamos obrigados, a leitura da obra 1984, um romance distópico da autoria do escritor britânico George Orwell publicado em 1949.
O EUA são (ou eram) o maior financiador da OMS, com uma verba de cerca de 58 milhões de dólares por ano; um dos principais financiadores privados é Bill Gates.
A OMS, pela voz do seu Diretor Assistente, o canadiano Bruce Aylward, e do seu Diretor Geral, o etíope Tedros Ghebreyesus, desde o princípio que desvalorizou a epidemia dando coro às declarações das autoridades chinesas que diziam inicialmente que o vírus não se transmitia de pessoa a pessoa (daí as declarações infelizes da nossa Diretora Geral da Saúde no mesmo sentido proferidas no final de fevereiro), apesar dos médicos de Wuhan afirmarem o contrário.
Atuando como porta-vozes do governo chinês estes dirigentes da OMS elogiaram de seguida a resposta da China ao mesmo tempo que a OMS continuava a sonegar a província de Taiwan (cuja independência a China não reconhece), que também combatia o corona vírus, e à qual é negada ser membro da OMS mesmo como simples observador.
Com toda esta negação e hesitação da OMS ficou comprometida uma resposta cabal a este novo corona vírus, deixando o mundo impreparado para combater a epidemia.
O Dr. Aylward chegou mesmo a afirmar que o mundo estava em dívida com o povo de Wuhan e o Dr. Tedros que a resposta de Pequim fora admirável, tendo este mesmo elogiado a superioridade do sistema socialista (?) chinês.
Mas também há quem diga que o vírus circula há mais tempo do que se pensava anteriormente e que Wuhan não é realmente o centro do surto, mas simplesmente o local em que foi identificado pela primeira vez através de testes, e que esta cidade com mais de 10 milhões de habitantes foi apenas o centro principal de dispersão.
O governo italiano tinha anunciado o cancelamento do Carnaval de Veneza devido ao coronavírus a partir do final da tarde de domingo, dia 23 de fevereiro. Em Portugal realizaram-se os grandes cortejos do entrudo em Ovar, Loulé, Estarreja, Torres Vedras, Podence e Lazarim, só para citar estes. O “povo quer é festa” como se costuma dizer, mas as autoridades políticas e sanitárias foram no engodo, não precavendo e como sempre reféns dos ditames mercantilistas.
Até pode ser verdade que o surto tenha entrado mais tarde em Portugal, mas sendo que o período de incubação pode chegar às duas semanas, remete-nos precisamente para a possibilidade de se ter iniciado na pior das hipóteses no dia de Carnaval, já que a estudante da Madeira vinda de Milão, ao que parece o primeiro caso conhecido em Portugal, tinha sido declarada como suspeita de ter contraído o vírus no dia 10 de março.
Ora assim sendo, o governo, com o parecer das autoridades de saúde, deveria ter iniciado a quarentena para todos os cidadãos provenientes do estrangeiro, nomeadamente de Itália e da China, logo a partir de 10 de março. Mas neste sentido pouco ou nada foi feito até ao dia 18 de março (pasme-se!) quando o Presidente da República, ouvido o Conselho de Estado, propõe à AR a declaração do Estado de Emergência que o governo decide aplicar a partir das 00h do dia seguinte.
Como afirmou o biólogo e professor universitário Luís Vicente “porque era já muito previsível, o estado de emergência deveria ter sido declarado entre o fim da primeira e o início da segunda semana de março, diria, no dia em que fechou a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto… mas a ignorância, a irresponsabilidade e a incompetência falaram mais alto”.
Ao mesmo tempo que os portugueses manifestaram com palmas, no recato dos seus lares, a sua solidariedade com os profissionais de saúde, a mesma que manifestaram nas redes sociais com os bombeiros aquando dos tráficos incêndios de 2017, assistiram de forma “alienada” à passividade, não diria incompetência, dos nossos governantes que mais uma vez não tomaram ou assumiram as medidas adequadas no tempo certo, expondo mais facilmente a população portuguesa às calamidades.
Da mesma forma que, tal como nos incêndios, nunca preocupa aos nossos concidadãos saber as causas dos grandes problemas que enfrentam, aqui em sintonia com o poder político e económico instituído que tanto criticam, como sejam as catástrofes que encaram como fatalidade irredutível e insofismável.
Mesmo aqueles, pessoas, países e organizações, que ainda há pouco tempo falavam do desrespeito dos direitos humanos na China estão agora estranhamente cegos e mudos perante a ditadura chinesa e a guerra bio económica que esta nação está a travar com o resto do mundo, poupando eventualmente a Rússia e alguns países africanos e asiáticos, vá-se lá saber porquê.
A OMS que todos os países suportam financeiramente, com os EUA à cabeça, não atuou como deveria ter feito nos últimos dez dias de janeiro e nos primeiros dez de fevereiro, período em que papaguearam a mentira chinesa, o que fez precipitar a pandemia, e chegaram a defender mesmo que nenhum país deveria limitar as viagens com origem na China, o que fez com que os cidadãos chineses ou estrangeiros vindos da China espalhassem a doença por todo o mundo.
Tudo foi feito com o conluio das autoridades políticas e sanitárias dos países ocidentais. Levantam agora a crista as autoridades norte-americanas, canadienses, francesas ou mesmo alemãs, talvez como bode expiatório à sua reação lenta à epidemia, “levados, levados, sim / pela voz do som tremendo” (o da OMS), para deduzir responsabilidades pelo elevado número de mortos e infetados que contam nos respetivos países. Claro que as autoridades portuguesas que trouxeram os chineses para a Europa, através dos vistos gold, não querem surfar a onda.
23 de abril de 2020