A Índia é hoje a potência de TI-Tecnologias de Informação. No ano de 2019, as empresas de TI ocupavam mais de 4,1 milhões de técnicos altamente especializados, produzindo 177 mil milhões de dólares.

Foi um longo caminho percorrido pelo setor, sob o comando dos mais empreendedores. Em 1968, nasceu a TCS – Tata Consultancy Services, atualmente com 470 mil trabalhadores; em 1981, a Infosys, hoje com 242 mil; e depois a Wipro (175 mil) e a HCL (159 mil); além de milhares de instituições mais pequenas. Outras estabeleceram-se nos EUA, como a Cognizant e a Salesforce, com um elevado número de trabalhadores na Índia. E existem as consultoras multinacionais, com vastas operações e mais de um terço dos trabalhadores em solo indiano (e.g. CapGemini, Accenture, etc.).

Com a instauração do modelo económico do tipo soviético, da independência até ao ano 1991, a economia indiana, na sua quase totalidade dirigida pelo Estado, era improdutiva e sem dinamismo, nem tinha capacidade de criação de trabalho. As boas instituições de ensino superior, lançadas nos anos 1960, muito seletivas, como os IIT-Indian Institute of Technology ou os IIM- Indian Institute of Management e os Medical Colleges, produziram muitos graduados de altíssimo nível, que não tinham como aplicar os conhecimentos e as capacidades na Índia – onde os empreendedores eram tidos como indesejáveis e exploradores, por extrapolação dos tempos do colonialismo -, por falta de condições e estruturas para fazê-los produzir para o país.

Começou o êxodo para países onde eram recebidos de braços abertos, pela sua preparação, vontade de realizar um trabalho disciplinado, exigente e inovador. Países onde conta o mérito pessoal, como os Estados Unidos, foram os mais beneficiados. Os grandes centros de TI e os pólos de inovação atraíram jovens da Índia, que potenciaram grandes realizações como na icónica Silicon Valley, na Califórnia.

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É raro não se encontrar nas melhores business schools e universidades americanas um escol de brilhantes professores oriundos da Índia. As grandes empresas de TI multinacionais têm hoje um CEO e muitos dirigentes de primeira linha nascidos e formados na Índia.

Cerca de 220 mil médicos graduados na Índia estão hoje a trabalhar nos EUA, constituindo 20% da sua população médica total. No que toca à saúde, a Índia é o maior exportador mundial de genéricos, com 40% do mercado dos genéricos dos EUA (Cfr. ET, Jan. 16, 2021).

Com razão, mais de 1600 multinacionais (MNC) apoiadas na R&D sediaram importantes operações de investigação na Índia. Empregavam, em 2018, mais de 8,2 milhões de investigadores e auxiliares em quase todas os setores: farmacêutico, de engenharia mecânica e eletrónica, informática, de materiais, de i-cloud, AI, IoT, baterias, painéis solares, etc.

Com a emigração de engenheiros, dirigentes de empresas e médicos, aceitou-se a ideia de que “temos de conviver com essa realidade” para não coartar a liberdade de ninguém ir para o seu “El Dorado”. E, para tal, formar bons profissonais, suficientes para as necessidades internas do país.

O número de instituições mais desejadas pelos que seguem o ensino superior tem vindo a aumentar, muito em especial os Medical Colleges. Hoje podem admitir mais de 82 mil candidatos por ano e o número vai crescendo com novos colleges. A OMS-Organização Mundial da Saúde preconiza um médico por mil habitantes, quando a Índia tem um por dois mil, com grande concentração nas cidades e rarefação nas zonas rurais. Daí que a telemedicina tenha tido um aumento drástico de aplicação, motivado pela pandemia. Rara é a cadeia de hospitais que não dispõe de serviços e organização para atender os pedidos de telemedicina, apoiados pelos centros de consulta da cadeia, espalhados pelo país.  A Inteligencia Artificial (IA), juntamente com a IoMT-Internet of Medical Things estão a dar boa ajuda. Há apps que encorajam hábitos saudáveis e permitem grande controlo sobre a saúde e bem-estar. A IA dá aos profissionais da saúde meios de diagnóstico mais rigorosos para acudir aos pacientes.

A grande avidez indiana pela informática, vista na abundância de telemóveis, smartphones e laptops em uso (mais de 1,1 mil milhões de linhas de rede móvel ativas e mais de 750 milhões de utilizadores de internet) fez que se desenvolvessem aplicações que eram apenas uma hipótese longínqua, para depressa serem práticas viáveis, muito úteis.

O comércio eletrónico teve um desenvolvimento inesperado e, pensa-se, para durar. Isso levou a idealizar e a fazer com que as lojas de esquina (kiranas) entrassem na cadeia digital, formando o elo final de entrega/ligação com o cliente. As kiranas, mais de 13 milhões na Índia, digitalizadas, partilharão a plataforma de e-commerce da grande empresa que tomou a iniciativa de as digitalizar, como a Flipkart (da WalMart), a Amazon.com, a Reliance Jio e muitas outras. Pensa-se que 10% das kiranas digitalizadas criarão 3,2 milhões de empregos adicionais graças ao aumento das suas vendas.

Um estudo (encomendado por Amazon Web Services) concluía que, na Índia, a força de trabalho especializada em digitalização precisaria de multiplicar nove vezes, até 2025.

As empresas de TI esperam recrutar, em média, mais 14% da sua população de trabalho durante este ano. A febre da digitalização é enorme, pelos bons resultados que permite. Pode começar por ser um efeito de imitação, mas logo se avança para tirar partido das possibilidades que ela permite.

Grande importância vai adquirindo a robótica. Está a ser utilizada no corte e polimento de diamantes em Surat, a capital do processamento de diamantes da Índia. Está projetada uma fábrica de scooters elétricas no Sul da Índia, com três mil robots e 10 mil trabalhadores. Em Noida (perto de N. Delhi) foi inaugurada uma fábrica de 50 mil robots por ano, de variados tipos, da Addverb Technologies, facilitando a inovação, adaptação e otimização de robots customizados. Fácil é imaginar a apetência por robots que não têm problemas com o coronavírus e cada um pode realizar, por exemplo, mais de 10 mil testes ao vírus por dia.
Tudo isto parece surrealista, mas é o presente, em grande estreia na Índia.