A tempestade Dana, que atingiu Valência em outubro de 2024 trouxe chuvas intensas, ventos fortes e inundações que causaram danos significativos na região. A tempestade afetou principalmente áreas costeiras e regiões urbanas, Vias públicas, estabelecimentos comerciais e muitas residências ficaram completamente alagadas e destruídas.

Em poucas horas, choveu o equivalente a um ano em algumas zonas de Valência: 445 litros por metro quadrado.

Em menos de nada a água arrastou tudo o que “encontrou” pela frente. Inundou casas e deixou pessoas completamente encurraladas, ora dentro das habitações, com água pelo pescoço, ora dentro de carros. A pilha de carros que foram arrastados pela torrente fala por si só. A região ficou sem eletricidade e água e parcialmente isolada dada a destruição dos principais acessos rodoviários a toda a região de Valência. Os meteorologistas atribuíram a intensidade da tempestade a mudanças climáticas que têm tornado eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos.

Feito o resumo da ópera, para o qual as palavras são manifestamente insuficientes, despidas e vazias vamos ao que realmente fica deste dia fatídico de Valência. Os números, frios e vazios ditam que morreram 211 pessoas, ainda há desaparecidos. Os valencianos falam em lentidão na chegada de ajuda estatal. Sentem-se desesperados e desamparados. De um dia para o outro as suas vidas, tal como as conheciam, ficaram completamente destruídas.

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Porém, há outros números que importa trazer para esta contabilidade, assim como outras imagens que marcam. A 1 de novembro, eram milhares os que se mobilizaram armados com vassouras, com água, comida ou simplesmente vontade de fazer a diferença. Um mar de gente com vontade de lavar um mar de lama. Um mar de solidariedade para varrer um cabo das tormentas que assolou a região.

Esta onda de solidariedade, melhor, a mobilização ágil e espontânea mostra-nos a fibra de que somos feitos. Mostra qual é a nossa real essência. Aquela, que todos os dias as notícias anulam ou pura e simplesmente não dão ênfase.

Uma brigada de vassouras empunhadas, uma brigada de braços prontos a erguer de novo a região. Uma brigada de todas as idades de todos os estratos sociais, de residentes e não residentes. Quando nos mobilizamos, quando nos apercebemos que podíamos ter sido nós a ficar naquela situação largamos todas as quezílias, todos os preconceitos, todos os pruídos e avançamos. Uma catástrofe não escolhe fronteiras, não se circunda a apenas alguns. Uma catástrofe é aleatória e respinga em várias direções. Esta dimensão catastrófica, mostra-nos que o “nós “e o “eles” que os discursos extremistas exacerbam se diluiu quando no final do dia percebemos que somos todos feitos do mesmo material. Quando no final do dia, percebemos que todos estamos vulneráveis face a força da natureza.

A natureza a unir a essência da Humanidade.