No atual mundo do trabalho, é necessário repensar o conceito de permanecer com uma empresa a longo prazo. É hora de normalizar a troca de trabalho e até de carreira (quando existe uma mudança de área de atuação). Muitas pessoas ainda olham para estas mudanças de forma errada ou até preconceituosa. Atualmente, fruto das novas formas de trabalho, é quase inviável passar décadas na mesma empresa. As novas formas de trabalho mostram claramente que as pessoas são rápidas a desistir de certos empregos e a fazer mudanças, seja para obter progressão, seja para obter maior qualidade de vida.

A pandemia mostrou-nos a fragilidade da vida, a sua vulnerabilidade, que nos devemos focar numa correta gestão de tempo e energia, e que os nossos valores mais importantes não devem viver no piloto automático dos dias, mas sim sobressair em qualquer circunstância, para nos guiar nas nossas escolhas. Uma das conclusões que a pandemia nos deixou é que as pessoas precisam de apreciar e aproveitar ao máximo o pouco tempo que têm (sim o tempo é escasso!), a fazer aquilo que gostam e com quem mais gostam.

Os trabalhadores que hoje piscam o olho a benefícios como o horário flexível, modelos híbridos, autonomia e reconhecimento são os mesmos que não pretendem permanecer num trabalho de que não gostam ou onde não são apreciados pelos seus chefes, tantas vezes tóxicos.

A vida é muito curta para nos contentarmos com a mediocridade e a carreira acompanha inevitavelmente as fases da nossa vida, pelo que não faz sentido contentarmo-nos com menos do que o nosso potencial merece.

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Os colaboradores querem significado, propósito, realização e um salário justo pelos seus esforços. Se os funcionários não conseguirem isso onde estão atualmente, eles não têm medo de buscar novas oportunidades. É a lei da retenção de talentos.

É isso que deve ser normalizado: a mudança de trabalho e/ou carreira com vista à melhoria de condições de vida, em troca de situações de burnout ou ambientes tóxicos de trabalho, em troca do vazio da não realização como Ser Humano no todo, em troca do vazio das relações de trabalho insustentáveis do ponto de vista da felicidade.

Os caçadores de melhores condições de emprego ainda são discriminados quando nas entrevistas, ou até socialmente, se percebem que mudaram de emprego várias vezes. Os recrutadores interrogam os candidatos, exigindo respostas sobre por que eles fizeram esta e aquela mudança, com um alto grau de ceticismo. A tendência é supor-se que deve haver um problema com a pessoa mudou com tanta frequência.

Mas alguém alguma vez, questiona sobre o ambiente de trabalho da empresa, sobre a qualidade da liderança, sobre o número de horas extras trabalhado sem retorno ou agradecimento?

Normalizemos, a procura de melhores condições de trabalho, a procura de uma carreira com maior propósito e reconhecimento, sem criar nos que têm a coragem de mudar uma crença negativa e limitante de que são indecisos ou eternos insatisfeitos.

Afinal, mudar é sinal de progresso, permanecer com ideias fixas é, sim, sinal de inflexibilidade.

Em vez de presumir o pior quando um candidato mostra seu currículo com vários empregos, os recrutadores devem pensar na pessoa como alguém que toma decisões e faz a gestão da sua carreira no continuo crescimento, desenvolvimento e potenciais ganhos.

Apesar do estigma ainda existir sobre as mudanças e aqueles que se atrevem a mudar, a verdade é que existem cada vez mais casos de mudança, sejam eles mais ou menos radicais, e, por isso, devemos aceitar este comportamento no âmbito de uma nova tendência no mercado de trabalho.

Talvez devêssemos começar a ver este assunto de uma perspetiva mais simples: as grandes estrelas do desporto também mudam de equipa quando recebem ofertas mais aliciantes; na vida e na carreira, seja com base em benefícios, seja com base em valores, desafios, perspetivas, sonhos ou metas. Mudar é normal, é essencial e preciso.

Afinal quem quer ser igual para sempre?

Arrisque, pondere, e, se preciso, mude!