Saio da Avenida Álvaro Cunhal, ali na Alta de Lisboa, passo pela Praça Hugo Chávez, na Amadora, e chego à Rua Otelo Saraiva de Carvalho, em Palmela. 45 minutos. Tantos quanto os anos desta democracia parlamentar. Tempo suficiente para relembrar a miséria e a morte que estas criaturas defenderam ou causaram em tudo e todos que tocaram. Tempo para lembrar o quanto estas criaturas odiaram a Liberdade. E pasmo com a complacência deste país para com elas.

Se acham que exagero, já que estão em Palmela, deem um salto à Atalaia, e entre um concerto e outro, visitem os pavilhões na Festa do Avante! e fascinem-se com os feitos da Coreia do Norte e de Cuba, esses faróis dos amanhãs que cantam. E aproveitem bem, porque os festivais de Verão, organizados por privados, foram proibidos e substituídos em exclusivo pela Festa! do PCP, em regime de isenção de impostos. Bar aberto, portanto. Esta gente nunca gostou de concorrência. No regresso, para não adormecerem ao volante, contem de 1 até quanto conseguirem, e saberão que ficaram aquém do número de mortos por que esses regimes e essas ideias foram responsáveis.

Ronald Reagan, nos idos de 80, dizia que comunistas eram aqueles que tinham lido Marx e que anti-comunistas eram os que o tinham compreendido. Ronald Reagan esqueceu-se foi dos que, não o tendo lido, foram enganados pelos primeiros. Coisa que por cá, num país semi-escolarizado, nunca faltou. É porque se se pode conhecer um país olhando para os seus indicadores económicos e de desenvolvimento, nada melhor que passear nas suas ruas e falar com as suas gentes. E este é o país das falinhas mansas sobre as ditaduras de esquerda e com achaques histéricos quando fala da direita. O país em que o PS se alia a comunistas, marxistas e trotskistas, e entra em agonia — sentida ou fingida — com as achegas ao Chega; na verdade é mais chaga que achaque. Sendo a ignorância a mãe de todas as misérias, não é, portanto, com surpresa que nos encontramos na cauda da Europa, sem perspectivas de melhoria.

Talvez pensando também assim, Almeida Garrett, nas suas Viagens na Minha Terra, dizia que os ministros deviam ser obrigados a mudar de casa todos os três meses, para assegurar a igualdade e o melhoramento do país. Mas para isso temos agora o Ministério da Coesão Territorial. Ou pelo menos temos uma ministra disso; porque ministros é coisa que não falta neste país. Até porque, quando nenhum dos ministros serve, basta ler um ou outro artigo no jornal e ouvir uma entrevista qualquer e contrata-se mais um (para)ministro para fazer o que ninguém no maior governo da Europa sabe fazer: esboçar uma visão estratégica para nos tirar desta letargia, da qual duvido que os nossos governantes verdadeiramente queiram sair. Ora, isto foi coisa que o Zé Povinho, seguramente por fastio, deixou que o Dr. Costa dissesse, sem lhe fazer um valente e merecido manguito. Tudo normal, portanto, no país dos brandos costumes.

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Já para pagar isto tudo, a sugestão do Garrett volta a ser útil, uma vez que com o que os ministros pagariam de IMT, Imposto de Selo, IMI e Mais-Valias, ou taxa liberatória se resolvessem arrendar, resolveriam parte do problema das contas públicas.

Mas, voltando ao que aqui nos traz, proponho que no lugar dos ministros trocarem de casa, que os portugueses que acham que algo por cá não está a correr bem passeiem pelo país. Eu cá, neste passeio que vos descrevi, descobri um país fascinado por autoritários, deslumbrado por ditadores e amante de terroristas. Um país que, em 45 anos de democracia parlamentar, não amadureceu suficientemente para se libertar da tralha autoritária, antidemocrática e tutelar de um chefe; ou, na sua ausência, que o Estado tratasse de tudo.

Portugal, no seu diálogo com a autoridade, faz lembrar aquela anedota do masoquista e do sádico. Bate-me, bate-me!, diz o primeiro; ao que o segundo responde Não bato, não bato! Mas esta anedota pode finalmente deixar de ser verdadeira; na resposta do sádico, digo. Porque este se prepara mesmo para bater. O que a falta de diligência inibe, a força do tempo favorece. E o tempo, este, muscula os autoritários a cada dia que passa.

Onde estão as vozes liberais, à esquerda e à direita? À direita, com excepção da Iniciativa Liberal, os partidos foram tomados por discursos antiliberais, se é que alguma vez tiveram outros, e à esquerda é ainda pior; salvando-se apenas, fora dos lugares de poder, poucos mais para além de Assis, Sousa Pinto e Barreto. E quando digo liberais, não falo nos filhos e nos sobrinhos, senadores ou avençados do nosso crony capitalismo. Falo dos verdadeiros amantes da liberdade; da liberdade de pensamento, de associação, de criação, de educação, de escolha. Ainda haverá por aí alguém que verdadeiramente ame a Liberdade?