Tal como na obra de Júlio Verne o capitão Costa (Nemo no seu original) continua no seu Náutilus navegando nas profundezas do oceano, sem qualquer contacto com a superfície.

Para a tripulação do Náutilus o ar começa cada vez mais a ficar rarefeito, fruto da permanência constante num meio não natural para a sua espécie. As divisões entre tripulação e o capitão Costa são cada vez mais evidentes e indisfarçáveis por muito que se esmerem. Está-nos ainda na memória a recente extração submarina do sargento Nuno Santos, que tantas cisões internas tem provocado e o impacto que a sua saída teve.

Talvez devido à saída do sargento Nuno Santos o capitão Costa sentiu necessidade de virar o seu Náutilus tudo a bombordo para vir à superfície hastear uma bandeira pirata sobre o direito à propriedade privada e sobre o mercado da habitação. Uma manobra de alto risco que desagradou a todos os que na superfície, observando o veículo, percebem que está sem controlo e à deriva.

Os últimos relatos a que a superfície teve acesso foram de uma busca desmedida no fundo do oceano Atlântico por um poderoso molusco marinho, que o capitão Costa acredita cegamente ser a sua salvação e da sua equipa. Fora do ambiente marítimo o ambiente é de consternação e teme-se o pior depois do espectável encontro em abril com o poderoso monstro dos mares que já tanta devastação causou ao longo dos tempos.

Este submarino não se move através de eletricidade, como na obra de ficção científica, mas de uma forma bastante mais original, desloca-se através de narrativas, desvirtuamentos da realidade, falsas promessas e empobrecimento generalizado. Aliás, uma fórmula repetida que já os seus antecessores descobriram funcionar no tempo do Almirante Sócrates e que veio a tornar-se tão prejudicial à vida de todos nós.

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Este podia ser bem o início de uma obra de ficção não fossem as semelhanças com a realidade serem tão gritantes. Assistimos diariamente a uma fuga para frente de António Costa, relegando para segundo plano todas as acusações e incompetências dos seus subordinados, e tentando passar para a opinião pública que os PRR’s e os Portugal 2030’s desta vida nos trarão um futuro mais próspero e que serão a nossa tábua de salvação no meio da tempestade perfeita.

Se calhar tão pior do que as promessas do falso profeta são a sua inclinação para o radicalismo. Basta lembrar que quando o capitão Costa experimentou a sua primeira geringonça marítima se inclinou tão à esquerda que a meio do segundo mandato já entrava água por todo lado. Pensavam os portugueses que tinha entendido os perigos do radicalismo e que dificilmente, um político tão hábil como ele, voltaria a cometer o mesmo erro. Talvez seja o fantasma de Pedro Nuno Santos ou a tentativa desesperada de lhe tirar protagonismo que o levou a propor medidas tão radicais como as apresentadas para tentar mitigar o problema da habitação em Portugal.

Começa a perceber-se que os seus constantes comentários sobre radicalismos nada mais são do que uma projeção e o desejo que enquanto estes tiverem uma dimensão aceitável no plano eleitoral, o Náutilus continuará seguro. Chega assim a hora de confrontar as diversas forças políticas sobre que projeto têm para voltar a colocar o nosso país na rota certa e com que geometria política o farão, depois do adeus do capitão Nemo.