Outubro é o mês da visão. É o período em que, um pouco por todo o mundo, se fala, debate e se desenham caminhos para cuidar de um dos sentidos mais importantes do ser humano. Um sentido que nos é concedido de uma forma tão natural e que, talvez por isso, não seja cuidado – por todos nós – com a importância única que tem.
A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia tem alertado que a saúde ocular (dos portugueses) depende das consultas regulares com o médico oftalmologista. No entanto, se pensarmos que atualmente são milhares os portugueses que viram as suas consultas de oftalmologia adiadas, assim como são milhares os portugueses – das mais diferentes faixas etárias – que necessitam de correção visual, mas que, pelas mais diversas razões, não a fazem, chegamos facilmente a números que se fixam, infelizmente, na escala dos milhões. Se extrapolarmos estes números para a realidade mundial, percebemos facilmente que enfrentamos um problema com contornos preocupantes e que precisam, com urgência, de ser revistos.
Olhemos além do Serviço Nacional de Saúde e da sua maior ou menor agilidade. Olhemos, também, além dos entraves – nomeadamente económicos – que colocam a saúde visual na cauda das prioridades das famílias portuguesas. Olhemos, agora, além da panóplia de dificuldades que a pandemia da Covid-19 originou. Entendemos, enquanto sociedade, a gravidade deste vírus. Unimo-nos – isolando-nos, ironicamente – para nos salvarmos. Adotámos um conjunto de procedimentos até então desconhecidos. As máscaras tornaram-se – e são, ainda hoje, mesmo com a queda das restrições – um elemento essencial no cuidado pela nossa saúde. Percebemos, com clareza, a sua importância.
É hora, por isso, de sermos claros: A cada cinco segundos, há um adulto a cegar no mundo. A cada minuto, o mesmo acontece com uma criança. De que informação necessitaremos mais ainda? É urgente cuidarmos da nossa visão, agora, e mais do que nunca, fragilizada pela obrigatoriedade de vermos o mundo através dos dispositivos eletrónicos. Pela obrigatoriedade do teletrabalho e da telescola. Pela obrigatoriedade de nos apartarmos do mundo e de o viver nas viagens que os smartphones e os computadores nos permitiram experimentar. Pela necessidade de pedirmos às nossas crianças que trocassem a rua pela segurança de casa e as brincadeiras no parque por hobbies mais seguros e que passaram, naturalmente, pelo ambiente virtual. Até à população mais idosa, e mais afetada pela pandemia, que se viu obrigada a conectar-se para, à distância, conseguir continuar a estar perto.
É crucial refletirmos sobre a urgência de cuidar dos nossos olhos. Não estamos a falar de uma moda ou tendência. De uma extravagância ou de um mero acessório. Falamos de saúde. Independentemente de marcas, tecnologia ou inovação, cuidemos dos nossos olhos. Rastreemos. Apoiemos a correção visual. Trata-se de um compromisso que todos, juntos, devemos assumir.
Chegados ao fim deste mês, é hora de questionarmos: que passos demos no sentido se salvaguardar este sentido? O que aprendemos sobre a visão neste período tão singular? Já todos conhecemos as consequências que a pandemia teve na nossa saúde visual, mas, saberemos que caminho está a ser traçado para cuidar dela? Estaremos a delinear, efetivamente, uma rota? Qual será o papel do Governo, do Serviço Nacional de Saúde, do tecido empresarial e de cada um de nós neste percurso? É hora de cuidarmos da visão como ela merece. Afinal de contas, é de saúde que estamos a falar. O Mês Mundial da Visão, que agora se encerra, não pode, nem deve, colocar o ponto final na análise e implementação de medidas que promovam uma saúde visual correta para todos. Está na hora de olharmos, com todo o cuidado, para este aspeto, um elemento (quase) invisível desta pandemia!