Depois da abdicação do rei de Espanha, na segunda-feira, o líder do PSOE, Alfredo Rubacalba, que se demitiu após a derrota do Partido Socialista espanhol nas eleições europeias, está a tentar travar a revolta que se acendeu depois do anúncio de Juan Carlos e que ameaça crescer e estender-se a muitas federações socialistas.

Algumas direções regionais do PSOE querem a realização de um referendo para que os espanhóis possam dizer se preferem continuar com a monarquia ou se querem mudar para a III república. O líder da juventude socialista espanhola, Nino Torre, também já pediu um referendo para conhecer a opinião dos espanhóis sobre a forma de Estado que pretendem.

De acordo com o El Mundo, a rebelião começou na segunda-feira, pouco depois de se ter conhecido a intenção do rei de abdicar. Rubacalba tentou encerrar o debate, pedindo a toda a direção e a todo o partido que apoiem a Monarquia por responsabilidade e para garantir a estabilidade.

Mas fora da direção socialista houve vários dirigentes regionais e locais do PSOE a pronunciarem-se a favor da República. Como escreve o jornal espanhol, quase todos os socialistas dizem ter “alma republicana” e a discussão sobre a forma de Estado não é de agora.

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A abdicação do rei e o vazio de poder na direção do principal partido da oposição puseram o debate novamente em cima da mesa e alguns líderes socialistas não querem voltar as costas às bases neste momento. “Muitos dos que se manifestam nas praças a pedir a República são militantes ou votantes do PSOE”, assegurou esta quarta-feira um barão socialista ao El Mundo.

As direções do PSOE da Galiza e das ilhas Baleares, juntamente com os agrupamentos de Barcelona, Sória ou Alcobendas encabeçam a rebelião republicana. O secretário geral do Partido Socialista da Galiza, José Ramón Gómez Besteiro, disse que agora “abre-se um tempo de reflexão para uma reforma constitucional”. Esta quarta-feira, o executiva do PSOE de Pontevedra decidiu por unanimidade apoiar a república “como fórmula de organização política do Estado”.

Rubacalba assegurou que “o PSOE não vai romper o pacto constitucional alcançado na transição”. Tanto os socialistas espanhóis como o PP participaram no pacto que definiu a monarquia como forma de governo, durante a transição da ditadura para a democracia e que vigora há 35 anos.

Num congresso em novembro, os socialistas aprovaram uma resolução que reconhece a sua “tradição cultural e política republicana”, mas que defende a monarquia.

Segundo o ABC, a data do anúncio da abdicação do rei foi planeada e muito discutida por Rajoy e Juan Carlos para garantir que a saída do monarca ocorreria numa situação política em que quer o primeiro-ministro, quer o líder da oposição, garantissem o pacto constitucional.

O primeiro-ministro e o rei que agora abdica estudaram duas hipóteses para o anúncio – antes e depois das eleições europeias. Acabaram por considerar que se a abdicação fosse anunciada antes de 25 de maio o rei acabaria por se tornar na válvula de escape para o descontentamento pela crise e pelo descrédito das instituições.

Afastada essa opção, foi decidido que o anúncio não podia demorar muito mais tempo. Os eleitores aproveitaram as europeias para castigar o bipartidarismo e havia uma vítima: Rubacalba, um dos socialistas mais próximos de Juan Carlos, que já havia travado outras iniciativas do PSOE para pedir o afastamento do rei (a última vez que isso aconteceu foi depois da visita dispendiosa de Juan Carlos ao Botswana, para caçar elefantes).

Segundo o ABC, ministros do Governo de Rajoy e fontes próximas de Rubacalba expressaram preocupação pela possibilidade de as cortes saídas das próximas eleições nacionais não terem a estabilidade necessária para abordar a sucessão monárquica.

Rubacalba anunciou este domingo, na sua página de Facebook, que os militantes socialistas vão escolher o novo secretário-geral do partido no congresso de julho e que, depois disso, realizar-se-ão primárias para escolher o candidato do PSOE a primeiro-ministro nas legislativas de 2015.