Todos nos lembramos da felicidade do Presidente da República quando foi anunciado no Panamá que Lisboa iria ser a sede da Jornada Mundial da Juventude seguinte. E também é difícil esquecer como o Governo e a Câmara Municipal de Lisboa rapidamente garantiram que tudo fariam para que a JMJ fosse um sucesso.

Quando foi escolhido o Parque Tejo para se realizar a vigília e a missa de encerramento da JMJ ainda no princípio de 2019, a decisão foi aplaudida por todos. Já na altura se sabia que o local escolhido iria exigir um enorme investimento, na ordem dos muitos milhões, para transformar um terreno pantanoso e contaminado com resíduos químicos, num parque capaz de acolher mais de um milhão de pessoas. Na altura o Presidente da República não fez qualquer apelo a uma visão simples, Sá Fernandes sorria no seu posto de vereador e a organização da JMJ não padecia de dores com os custos. Se é verdade que a escolha foi de Fernando Medina, não é menos verdade que foi acolhida com unanimidade por todos os envolvidos na JMJ.

Os muitos milhões previstos na altura foram sempre justificados pela transformação da área num grande parque urbano para a cidade. Era mais uma das obras com que Medina demonstrava a sua visão e ambição. E ninguém resmungou: a organização da JMJ porque eram outros a pagar, o Governo e a Câmara porque já viam nesta grande obra e neste grande evento mais um trampolim de Medina dos Paços do Conselho para São Bento.

Mas em Setembro de 2021 aconteceu um imprevisto, que veio desfazer o consenso sobre o investimento público na JMJ: Carlos Moedas derrotou Fernando Medina e tornou-se presidente da Câmara. E a Jornada Mundial da Juventude, que para o Partido Socialista era até então um trunfo, passou a ser um problema.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quando Carlos Moedas chegou à Câmara rapidamente ficou claro que, apesar de toda a conversa de Medina sobre o apoio e a importância da JMJ para Lisboa, pouco ou nada tinha sido feito. Aliás, nem sequer havia qualquer documento assinado onde ficasse claro quais eram as responsabilidades da CML neste evento. Isto dois anos e nove meses depois do anúncio tão festejado, e com este mega evento a menos de dois anos de distância.

Mas se Moedas ficou com o bebé nas mãos, não teve dúvidas em assumi-lo. Fez finca-pé por um memorando que estabelecesse o que era responsabilidade de quem e estabeleceu um tecto para o investimento da Câmara: 35 milhões de euros. O acordo teve o incentivo e o apoio do Presidente da República e o valor em causa não causou dores a ninguém.

Tudo corria às mil maravilhas, ninguém parecia ter qualquer preocupação com o dinheiro que a Câmara ia gastar, todos aplaudiam entusiasticamente, até sair a notícia sobre o custo do palco onde será celebrada a vigília e a missa de encerramento. Valor esse para o qual muito contribui o facto de ser construído num terreno (o tal escolhido por Medina e aplaudido por todos) que tem de ser reforçado por ser pantanoso, que tem de ser levantado porque é plano e o palco tem que ser visto por um milhão e meio e pessoas, e que obriga ao reforço das fundações por ser ventoso. Para não falar do facto de exigir uma quantidade gigante de mão de obra, porque as obras estão atrasadas.

Mas diante deste valor (ou mais provavelmente da indignação popular que ele gerou), todos aqueles que foram responsáveis por este processo lavaram as mãos, excepto Carlos Moedas, que assumiu a responsabilidade por uma decisão condicionada por quem agora está magoado, quer simplicidade e até tinha alternativas.

Confesso que tenho pouca pachorra para quem não é capaz de assumir as suas responsabilidades. E pelo contrário, admiro quem, mesmo perante o clamor púbico, não tem medo de defender as decisões que tomou.

A Jornada Mundial da Juventude é um dos maiores eventos do mundo, e o maior que algum vez se realizou em Portugal. Reúne habitualmente um milhão e meio de jovens vindos de todo o planeta. É acompanhado por milhares de jornalista que durante uma semana vão levar Lisboa a todo o mundo. A JMJ irá trazer para Portugal e para Lisboa um enorme retorno, directamente através dos peregrinos que aqui vieram, indirectamente através da publicidade que gera.

Mas claro que isto tem um custo. Um custo que foi assumido pelo Presidente da República, pelo Governo e pela Câmara liderada por Fernando Medina. Um custo que foi aceite pela organização da JMJ. É por isso triste ver que ao primeiro aperto, todos fogem, excepto a pessoa que, tendo herdado promessas que todos aplaudiram, as decidiu cumprir: Carlos Moedas.

Este episódio mostrou com clareza a diferença entre prometer e fazer. É que promessas leva-as o vento.