A produção de café está a diminuir cada vez mais e, a este ritmo, a bebida pode desaparecer em menos de cem anos. As alterações climáticas e um fungo chamado Hemileia vastatrix parecem ser os dois grandes responsáveis pela crise que se avizinha. A previsão é de Leo Lombardini, diretor da World Coffee Research.

O café tem aumentado de preço regularmente desde o início do ano. Desde janeiro que o valor no comércio retalhista subiu 60%, em consequência do clima e da doença que afeta a planta do café, em especial na América Latina. O Brasil é o maior produtor mundial de café e mais de 30% das colheitas deste ano estão perdidas — a produção de 2014 será a mais baixa dos últimos cinco anos. O stock mundial de café tem permitido que os preços ao consumidor permaneçam estáveis, mas a médio prazo este cenário pode mudar. Além do Brasil, os maiores produtores mundiais de café são o Vietname, Colômbia, Indonésia e Etiópia, mas nestes países a produção mantém-se estável.

O fungo Hemileia vastatrix é conhecido por “ferrugem-do-café” e está distribuído por todo o mundo. Nos estados iniciais começa por se manifestar por manchas amarelas nas folhas da planta, que progressivamente aumentam de tamanho até que a folhas acabam por cair — e a planta morre.

Nicaraguan coffee grower Gloria Balladares, 43, shows a rust blighted coffee plant at a plantation near Somoto, 200km from Managua on February 26, 2014. The 2013-2014 coffee harvest fell 28% compared to the previous one due to the rust disease, leaving unemployed 90,000 people among the 300,000 who usually work in the sector during harvest time.   AFP PHOTO/ Inti OCON        (Photo credit should read Inti Ocon/AFP/Getty Images)

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O café que consumimos resulta essencialmente da mistura de dois tipos de grão: o Arábica e o Robusta. Este último, como o nome indica, é o mais resistente, mas não é aquele que tem melhor sabor. O Arábica representa 70% do café consumido mundialmente e é a planta que mais sofre com as variações de temperatura e humidade.

Não é só o clima, também os hábitos de consumo estão a ser responsáveis pelo aumento do preço do café. Os países produtores estão a tornar-se mais consumidores, logo, a quantidade disponível para exportação baixa e o preço sobe. Brasil , Vietname e Colômbia são responsáveis pela produção de 60% do café consumido mundialmente e pela primeira vez desde 1999, o Brasil deverá ultrapassar os Estados Unidos da América como o principal consumidor de café. Países como a Índia e a China também estão a ganhar o gosto pelo café, o que aumenta a procura.

Em Portugal, o consumo doméstico irá aumentar 20%, de acordo com o estudo de Tiago Oliveira — Tendências e Perspetivas Sociais no Consumo de café em Portugal. Esta bebida, que é consumida diariamente por 80% da população portuguesa, não faz de nós o principal consumidor do mundo, pelo contrário. Segundo a European Coffee Federation o consumo em Portugal é de 4.7 Kg/ano por pessoa, valor muito abaixo da média europeia, que é de 6.4 Kg/ano — o líder europeu no consumo é a Finlândia, com 12 Kg/ano. A principal razão para esta diferença está no volume e não no número de cafés ingeridos, já que os portugueses estão habituados a beber doses pequenas, as “bicas”, em vez dos grandes copos de café consumidos no norte da Europa e nos EUA.

Contudo, a tendência portuguesa é de crescimento: o estudo de Tiago Oliveira prevê que o consumo chegue aos 8 Kg/ano por pessoa em 2021. Já Teresa Ruivo, secretária-geral da Associação Industrial e Comercial do Café, disse à Lusa que espera que Portugal atinja a média europeia a médio prazo, apostando para isso na formação de especialistas. A chegada das lojas de café (conhecidas por Coffee-Shop) oferecem cada vez mais alternativas à tradicional “bica”. Teresa Ruivo defende que “o aumento do consumo de café pode passar por as pessoas aprenderem que o café não é só uma bebida de inverno, que há outras formas de consumir o café que não só o café expresso e não tem de ser quente”.