João Tocha é o homem no centro da mais recente guerra entre António Costa. É consultor de comunicação, socialista, amigo de António José Seguro e já foi descrito como o “amigo dos ministros” ou mesmo “o homem-telefone”.

António Costa acusou Seguro, numa entrevista à CMTV este sábado, de partilhar assessores com Luís Filipe Menezes – o ex-autarca do PSD de Gaia que está a ser investigado por corrupção para enriquecimento pessoal. E no contra-ataque, Tocha desfia uma lista de ex-clientes: Menezes em 2013, mas também Costa nas autárquicas de 2009, Carlos César em 2008 (mandatário da candidatura de Costa). E ainda Fernando Gomes no Porto por duas vezes, a Associação Nacional de Municípios (no tempo da presidência do social-democrata Fernando Ruas e agora com o socialista Manuel Machado) ou a Liga de Clubes, presidida por Mário Figueiredo.

Na sua página de Facebook, João Tocha respondeu com vários posts, acusando Costa de “montar números de circo e levantar calúnias”. “Quanto ao resto é folclore e são contas de mau pagador”, diz.

Na rede social, publicou fotos da noite eleitoral das regionais de 2008, ganhas por Carlos César (“Esta foi uma grande noite eleitoral ao serviço de um grande político, por sinal, e infelizmente, mandatário de Costa”) e também um email de Costa recebido em 2009 e a agradecer-lhe ajuda na preparação do debate com Pedro Santana Lopes, à altura de novo candidato do PSD à Câmara.

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“Quem introduziu a questão na opinião pública foi o alcaide. Chamou mercenário a quem trabalhou com ele. Agora inventa umas colagens de Seguro a Menezes inventando que a minha agência trabalha com Seguro nesta campanha. Pois quem teve o mesmo assessor e agência foi Costa em 2009 e só passados alguns anos, anos, anos, é que por acaso o mesmo assessor foi contratado pela campanha de Menezes. Costa é um espertalhaço, mas a mentira tem perna curta. A título individual, sou um voluntário contra esta forma de fazer política personificada nos métodos do alcaide”, escreveu.

Segundo Tocha, Costa “é que teve o mesmo assessor de Menezes”, ele próprio, Costa “chama mercenário a João Tocha mas foi a ele que pediu ajuda em 2008/2009”.

“Tive muita honra em ter conhecido e trabalhado com Luís Filipe Menezes. Como tenho sempre muita honra em ter trabalhado e de trabalhar com pessoas que honram os seus compromissos e pagam o que devem. Já se viu quem está por de trás da canalhice que tem afetado o PS e pelos vistos também já prepara o mesmo no PSD. Meus amigos isto é um gang ao qual temos de dar combate. Fiz e farei as minhas críticas ao alcaide e assinei-as. Como profissional tentei nunca falar da relação profissional que mantive com ele. Mas quando ele mente, tem de ser desmascarado”, escreveu ainda no Facebook, acrescentando que Costa “chama mercenários a pessoas que trabalharam consigo a seu pedido num momento de aflição”.

O consultor de comunicação, fundador da F5C e que já trabalhou com a Emirec, Luís Paixão Martins ou António da Cunha Vaz, promete ainda apresentar uma ação judicial contra António Costa, a quem reclama o pagamento de uma dívida de 95 mil euros por serviços prestados em 2008-09.

“Nas últimas eleições autárquicas, os advogados da minha empresa endereçaram uma carta a António Costa e ao PS a informar do diferendo existente, e que iríamos, face à falta de respostas, interpor uma ação judicial. As cartas estão registadas. Posteriormente, a pedido do Largo do Rato, foi-me solicitado, por quem ele combate, que não o fizesse para não prejudicar a campanha eleitoral do PS em Lisboa. Acedi. Só não o fiz durante as primárias por não querer misturar assuntos alheios às primárias. Como ontem e hoje o alcaide disparou raiva e mentiras, eis que tive de esclarecer. É só isto”, revela no Facebook.

O diretor de campanha autárquica de Costa em 2009, Miguel Coelho, afirmou ao Observador que Tocha chegou a participar em reuniões de reflexão “como grande admirador de Costa e militante socialista”, mas não durante “16 meses”. Depois disso, chegou a apresentar uma proposta que “foi rejeitada”. “Fico muito surpreendido quando vejo textos assinados por esse senhor como sendo um grande estratega da campanha. É completamente falso”, acrescentou, dizendo ter conhecido Tocha nessa altura. Coelho garante que não há contrato nenhum, que Tocha participou de forma voluntária e que chegou a fazer um filme para a campanha “que foi pago”.

Na carta dirigida ao PS, a que o Observador teve acesso, o advogado do consultor sustenta que “passados quatro anos e apesar das inúmeras tentativas para obter o pagamento dos serviços prestados nomeadamente junto do dr. António Costa e do seu gabinete até ao momento tal não aconteceu”. Tocha garante que dará entrada de uma ação judicial depois das eleições primárias.

João Tocha é ainda amigo pessoal de Luís Bernardo, consultor de António José Seguro e ex-assessor de José Sócrates nos dois governos socialistas. Na altura, Tocha também colaborou com alguns gabinetes ministeriais, como na Saúde, Obras Públicas ou Economia. “A título pessoal, falava com vários ministros”, reconhece. Ao Público, em 2008, Tocha dizia ser “amigo e conhecido” das pessoas em causa e não ter culpa de ter “muitos contactos”, nomeadamente no PS. Em termos formais, a F5C celebrou contratos de ajuste direto apenas com entidades do Ministério da Agricultura e Cultura.