A empresa portuguesa Conduril terminou a construção da maior barragem de Cabo Verde, que terá também a maior albufeira, obra que, se as chuvas o permitirem, proporcionará uma revolução agrícola no norte da ilha de Santiago.
A barragem de Figueira Gorda, no concelho de Santa Cruz, interior de Santiago, é a maior infraestrutura hidráulica de Cabo Verde, com capacidade para armazenar cerca de 1,5 milhões de metros cúbicos de águas pluviais, e vai obrigar à reinstalação de 30 famílias.
Entrevistado pela agência Lusa no local, Pedro Ribeiro, diretor de Produção da Conduril – Sucursal em Cabo Verde, indicou que a barragem tem 32 metros de altura, um coroamento de 60 metros, é dotada de uma galeria para monitorização técnica e de um descarregador de superfície, bem como uma descarga de fundo.
Para fazer o seu trabalho, a barragem tem duas tomadas de água que vão servir as populações a jusante, numa área total de 120 hectares, permitindo às famílias de Achada Béu Béu e da Quinta Justino Lopes (esta última já foi o “celeiro” de Santiago) trabalhar as terras, contando com água 365 dias por ano, acrescentou.
“Além da rede de adução principal prevista nesta empreitada, vai agora ser desenvolvida a segunda fase, a de valorização agrícola, da adução para levar a água aos agricultores”, salientou Pedro Ribeiro, cuja empresa também ganhou o contrato para a construção das 30 habitações das famílias a desalojar e cujas obras começarão em breve.
A barragem de Figueira Gorda, cujas obras começaram em fevereiro de 2012 e foram orçadas em 407 milhões de escudos (3,7 milhões de euros), fica situada numa “garganta” montanhosa próximo de Pedra Badejo (no centro leste do interior), natureza geológica que, lembrou Pedro Ribeiro, criou inúmeras dificuldades de logística.
A infraestrutura deveria ter sido inaugurada em julho, mas uma avaria num equipamento – uma grua – obrigou ao adiamento para depois da época das chuvas, que este ano têm sido irregulares, não permitindo um enchimento mínimo da barragem.
A infraestrutura hidráulica tem cerca de três vezes mais a capacidade de armazenamento do que a do Poilão, a primeira barragem inaugurada em Cabo Verde, em 2006, no concelho vizinho de São Lourenço dos Órgãos.
Além de Poilão e Figueira Gorda, a ilha de Santiago conta com mais três barragens já inauguradas, Salineiro (Ribeira Grande), Saquinho (Santa Catarina) e Faveta (São Salvador do Mundo), que permitirão acumular cerca de 2.100 milhões de toneladas de água para rega, aguardando-se pelo fim das de Principal e Flamengos.
Na ilha de Santo Antão, já está em fase avançada de construção a barragem de Canto de Cagarra, tendo o Governo cabo-verdiano anunciado o arranque de estudos para a construção de mais de uma dezena de outras nas ilhas do Fogo e São Nicolau.
Teoricamente, a construção das barragens transformará Cabo Verde de país em constante stress hídrico num dos mais ricos em termos de água por habitante, alterando significativamente a agricultura e o abastecimento às populações, ajudando também a travar o êxodo rural e a criar condições para o desenvolvimento económico no interior.
As barragens fazem parte de um plano que prevê a construção, até 2015, de um total de 17 infraestruturas idênticas, abarcando a maioria das ilhas cabo-verdianas, financiadas, na maioria, por uma linha de crédito portuguesa de 51,7 milhões de euros.
O projeto prevê ainda a construção de dezenas de diques e de cinco sistemas de bombagem de água.