Se a vitória do Syriza nas eleições gregas dividiu os partidos políticos, a proposta de fazer depender o pagamento da dívida do crescimento económico divide muito mais. O PS acredita que esta medida poderia aplicar-se a Portugal e ter com isso resultados positivos, já o PSD recusa entrar no barco grego e diz que só se fosse tudo positivo – o que não será – é que defenderia o mesmo que Tsipras.

O primeiro-ministro grego está esta semana a falar com alguns parceiros europeus – na agenda não consta nem Passos Coelho nem Angela Merkel – para apresentar algumas propostas. No périplo tanto de Alexis Tsipras como do ministro das Finanças, Varoufakis, os gregos pretendem apoios para uma proposta: que o pagamento da dívida passe a depender do crescimento da economia.

E por cá encontra o apoio do PS para a esquerda. Ao Observador, o secretário nacional do partido João Galamba diz que esta proposta é “positiva na perspetiva em que inverte as prioridades europeias: é o pagamento da dívida que deve seguir ao crescimento e não o contrário”.

Além disso, acrescenta, a ideia tem o mérito de colocar devedores e credores do mesmo lado da barricada. Com esta proposta, “devedores e credores passam a ter incentivos comuns” ao contrário do que aconteceu até agora, diz, onde as políticas de “desvalorização interna falharam”. Ou seja, defende o deputado, que se se quer uma verdadeira união política, com esta proposta, os países credores têm incentivos para proporcionar “políticas de crescimento”, uma vez que assim receberiam o pagamento da dívida.

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“Esta proposta pode aplicar-se a todos os países que têm dívidas e que foram sujeitos a políticas de austeridade que não resultaram. É preciso ganhar espaço orçamental”, defende.

Esta solução técnica para a dívida grega é, no entanto, encarada com desconfiança pelo PSD. O deputado Duarte Pacheco começa por dizer que “Portugal não tem nenhum interesse em ser associado à situação grega”, mas falando da proposta em termos técnicos diz que o Governo não deve “estar na linha da frente na sua defesa”, mas que “tudo depende das contrapartidas”.

O deputado, coordenador dos sociais-democratas na comissão de orçamento e finanças, não está com isto a admitir que Portugal poderá defender esta proposta. “Tudo depende das contrapartidas. Ou seja como vai ser o modo de pagamento e as taxas de juro. Não é tudo uma maravilha”, diz. Quando questionado se, apesar de não defender, seria benéfico para o país aproveitar a boleia grega (caso os parceiros europeus aceitem a ideia de Tsipras), Duarte Pacheco insiste que a primeira coisa a atentar é nas condições:

“Por exemplo, imagine-se que a prestação a pagar dependerá da economia e em contrapartida pagamos juros mais altos. Tem de se ter em conta e ver se vale a pena. Se fosse tudo positivo, assinaria por baixo. Se vier a ser, ótimo, mas não devemos estar na linha da frente”.

Mais do que no plano técnico, a situação grega é avaliada do ponto de vista político. Galamba lembra que “cada vez mais há uma simpatia e apoios internacionais às pretensões gregas”, já Duarte Pacheco quer que tudo seja visto “no contexto europeu”.

A direção do PSD não assume, para já, posição, registando as “mudanças” de posição do Governo grego sobre o pagamento da dívida.

Do lado da maioria, a intenção tem sido sempre a de diferenciar Portugal da Grécia e é isso que os socialistas não compreendem: “A posição do Governo é incompreensível. Neste momento, Passos Coelho representa a linha mais ortodoxa e é incompreensível para um país que foi prejudicado por estas políticas”, acusa Galamba.

No fórum da TSF desta terça-feira de manhã, tanto PCP como BE defenderam o plano grego. Vasco Cardoso, do PCP, defendeu que a estratégia permitiria a Portugal criar condições para pagar a dívida sem que isso pusesse em causa o crescimento do país e o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, lamentou a posição de Passos Coelho.

Mais radical foi Hélder Amaral, do CDS, que classificou a proposta de Tsipras como “conversa de caloteiro”.