O beijo entre Catwoman (Selina Kyle) e Eiko, a líder de uma fação criminosa, confirma o que já havia sido avançado: Selina Kyle é bissexual. A imagem apaixonada surge no 39º volume das aventuras da super-heroína, Gotham City, da DC Comics. O livro foi lançado na passada sexta-feira nos EUA e, para a argumentista, a bissexualidade de Catwoman é mais “uma confirmação do que uma revelação”. Genevieve Valentine diz que “ela flirtou com esta ideia, às vezes de forma bastante literal, durante muitos anos.”

A introdução de dinâmicas LGBT na banda desenhada não é novidade, mas o momento determinante terá sido o primeiro casamento homossexual na Marvel. Foi em maio de 2012 que chegou às livrarias o pedido de casamento do super-herói Estrela Polar (Northstar), cujo nome real é Jean-Paul Beaubier, ao namorado Kyle Jinadu. O episódio faz parte do volume 50 de Astonishing X-Men.

“O universo da Marvel sempre refletiu o mundo real, por isso nós fazemos questão de assegurar que as nossas personagens, as relações e as histórias refletem a realidade”, disse, na altura, o diretor da revista da Marvel, Axel Alonso. A argumentista daquele número, Marjorie Liu, referia também que “a história de Estrela Polar e Kyle é universal, e está de acordo com tudo o que eu escrevo: um amor poderoso entre duas pessoas que têm de lutar contra tudo e contra todos”. Coube a Mike Perkins ilustrar o amor homossexual, que se concretizou no casamento no número de junho.

Mas qual será o impacto da introdução de temas gay na banda desenhada? Paulo Costa, um dos donos da livraria BdMania, conta que o número do casamento entre Northstar e Kyle foi vendido a muitas pessoas que não eram clientes habituais da loja. Eram, sim, curiosos que queriam guardar o exemplar. Paulo explica que, na BD norte-americana, os argumentistas mudam muito frequentemente. Na BD europeia, acontece o contrário: é frequente um autor criar uma personagem e desenhar a história durante toda a vida. “Por exemplo, as aventuras de Tintin foram desenhadas do princípio ao fim por Hergé”, explica. Na BD americana, um argumentista e um desenhador fazem uma história, depois chegam outros e continuam a história como quiserem — sem constrangimentos e sem terem de seguir uma linha única. Mais cabeças a construir a personagem, maior diversidade de experiências.

Na opinião de Paulo Costa, a introdução destes temas nos comics é natural, tendo em conta que são temas cada vez mais falados na sociedade. “O mais surpreendente é isto acontecer numa editora dita major” – ou seja, mais preocupada com o politicamente correto, como a DC Comics. Tanto a DC Comics como a Marvel estão na categoria de grandes editoras que, à partida, “têm uma postura institucional de tentar agradar a todos”. “A surpresa aqui é a DC pôr uma personagem clássica como a Catwoman a beijar uma mulher”, justifica, tal como “a Marvel assumir um casamento homossexual”.

O beijo na última das 32 páginas da revista mensal confirma a bissexualidade de Catwoman. Não há consenso quanto ao fim do amor de 75 anos entre Catwoman e Batman, visto que a história em conjunto começou em 1940, mas há uma certeza: “o livro do casamento gay foi um marco”, e o beijo feminino arrisca-se a alcançar a mesma categoria.

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